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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

JOSÉ ELIAS BORGES



J
osé Elias Borges foi o maior pesquisador sobre a etnogeografia paraibana. Seus estudos etnográficos e lingüísticos (com base em copiosa bibliografia) e pesquisas de campo, modificaram em definitivo os conhecimentos sobre as etnias que ocupavam o território paraibano no período poto-histórico e hoje são referência obrigatória para todos que pretendem estudar os povos nativos do Nordeste.
Filho do casal Rufino Borges de Lima e Carmelita Sitônio Braga, José Elias Barbosa Borges nasceu no dia 8 de dezembro de 1932, em Triunfo, cidade pernambucana próxima aos limites da cidade paraibana de Princesa Isabel.
Veio para Campina Grande aos 15 anos de idade, em 1948, onde fez o curso primário no Grupo Escolar Epitácio Pessoa, iniciando o ginasial no Colégio Pio X, concluindo-o em Campina Grande, no Colégio Alfredo Dantas. O ensino médio, que à época se chamava “científico”, Elias cursou no Colégio Pio XI, de Campina Grande, concluindo em 1952. Casou-se com a professora Francisca Neuma Fechine Borges (estudiosa de literatura de cordel) e tiveram três filhos: Francisco, Eduardo e Guilherme e em 1962 cursou Proficiência em Língua Inglesa, pela University of Michigan – Ann Arbor, Estados Unidos.
José Elias formou-se bacharel em Letras Anglo-Germânicas pela Faculdade Católica de Campina Grande e cursou Especialização em Letras, em nível de Mestrado, pela Universidade Regional do Nordeste, de Campina Grande - FURNE (1975). Dois anos depois doutorou em Lingüística pela Universidade Federal da Paraíba.
A preocupação de José Elias pelo conhecimento etnográfico e linguístico da Paraíba data do final da década de 50, quando despertou-lhe a curiosidade sobre a origem do nome Bodocongó e se sentiu atraído para entender o grupo indígena dos Ariús que, de acordo com um documento de 1697, seriam os responsáveis pela fundação de Campina Grande.


O estudo dos grupos indígenas da Paraíba passou a ser uma obsessão para Borges, que se empenhou em estudar as gramáticas das línguas tupi e cariri, recolher textos raros sobre nossos indígenas e até efetuar pesquisas em campo. Em 07 de abril de 1968, com toda a dificuldade do acesso, Borges efetuou pesquisas na Serra da Canastra, na comarca de Remígio (atual município de Algodão de Jandaíra), descendo com auxílio de cordas o íngreme granítico da serra para acessar o misterioso cemitério indígena denominado de Gruta do Caboclo, o qual considerou tratar-se de uma necrópole de origem tarairiú.
Mas, só após cerca de dezoito anos de estudos lingüísticos, expedições de campo e coleta de dados bibliográficos, José Elias só veio apresentar suas conclusões em 1977, em sua tese de livre-docência, quando discursou sobre a estrutura do Dzubucuá-Cariri, demonstrando que os índios Ariús eram totalmente diferentes dos cariri e pertenciam à família dos nativos Tarairiú. Mesmo assim, seu trabalho permaneceu inédito, em fase de amadurecimento, e só veio a ser publicado no ano de 1984, quando Borges classificou a etnogeografia paraibana, definindo nações, etnias e tribos no mapa da Paraíba colonial.
A classificação sugerida por Borges é aceita e utilizada pela maioria dos estudiosos de arqueologia da Paraíba e, em 2009, o arqueólogo paraibano Juvandi de Sousa Santos, e sua equipe, desenvolveu escavações arqueológicas em cemitérios indígenas nas diversas regiões do Estado que vieram a confirmar a distribuição etnogeográfica sugerida por Borges, o resultado destas pesquisas foi o tema da tese de doutorado em arqueologia (Puc/RS) de Juvandi.
José Elias Borges foi um pesquisador dedicado ao extremo e sempre disposto a debater sobre os indígenas e defender seus pontos de vista. Em uma ocasião chegou a discutir com o emérito (e teimoso) historiador Horácio de Almeida sobre nunca ter existido uma tribo indígena chamada Bruxaxá, como este historiador alegava se chamar os índios da região do Brejo de Areia, pois o nome correto era Bru-há-há, termo francês que significa “confusão” e o termo deve estar ligado ao nome de Pedro Bruhaha, que estava envolvido na fundação da cidade de Areia. Além de erudito e muito convicto de suas conclusões, Elias Borges ainda era poliglota, dominava o latim, português, espanhol, italiano, inglês, alemão, holandês, russo, tupi e o que restou da língua cariri. Possuía vários cursos de Extensão Universitária no Brasil e no Exterior, participações em Congressos, Seminários, tanto como expositor como debatedor, foi consultor de pesquisa dos projetos Cartilha Literária, aplicação de textos de José Américo de Almeida em Escolas do 2º Grau; Projeto da Biblioteca Literária Popular em Verso (UFPB); A Cultura Popular nas Escolas Rurais, FCJA/SEC; Literatura Oral na Paraíba e foi Presidente do Grupo de Trabalho para elaboração do Projeto de criação e implantação do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFPB e ainda foi presidente da Fundação Casa de José Américo. Neste cargo contribuiu para a implantação do Museu de História Natural do Ingá (1996).
Foi professor por muitos anos. Lecionou no Colégio Estadual, na Faculdade de Filosofia e na Universidade Federal da Paraíba, com atuação em cursos secundários, de graduação e especialização, abrangendo as áreas de Língua Portuguesa, Lingüística, Línguas estrangeiras, Literatura, Sociologia e Metodologia, além de ter participado como fiscal de concurso de vestibular e membro de comissões especializadas, orientador de teses de mestrado na UFPB.
Elias também era filiado a diversas entidades profissionais, científicas e culturais, entre estas, o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, onde foi sócio efetivo ocupando a cadeira no 40, o Instituto Histórico e Geographico do Cariry – IHGC (Cadeira nº 60), a Sociedade Brasileira de Professores de Lingüística – Seção da Paraíba, da Aliança Francesa de Campina Grande; do Instituto Histórico de Campina Grande; da Associação Universal de Esperanto, da Comissão Cultural do Município de Campina Grande (responsável pelas questões históricas do centenário da Rainha da Borborema) e também era colaborador da Sociedade Paraibana de Arqueologia - SPA.
Participou como redator, secretário, diretor ou editor de publicações culturais, em João Pessoa e Campina Grande; colaborou, desde fins da década de 1950, com dezenas de artigos em revistas de cultura e na imprensa paraibana, especialmente nos jornais Diário da Borborema e O Norte, do grupo Diários Associados.
São de sua autoria: Campina já foi Paupina, publicado no Diário da Borborema (31/08/1960) e na Coletânea de Autores Paraibanos; BADZÉ – Vocábulo Cariri incorporado ao Português do Brasil; A Fundação de Campina Grande; Serra de Badopitá – considerações Históricas/geográficas, publicado na Revista Campinense de Cultura, ano II, no 06 (1965); O Problema da Classificação dos Indígenas Paraibanos, publicado na Revista Campinense de Cultura, ano III, no 07 (1967); The Arius Indians and the Foundation of Campina Grande, edição institucional; Os Ariús e a Fundação de Campina Grande, publicado na Revista Campinense de Cultura, ano III, no 09 (1976); Os Cariris e a origem do Homem Americano; Roteiro Dramático dos Cariris; O que restou da mitologia Cariri; O Bodocongó – História da Palavra; Síntese Histórica dos Ariús, publicado no Anuário de Campina Grande (1981); O que é o programa de integração Universidade-Empresa; O afamado índio Piragibe: subsídios para uma biografia; Indígenas da Paraíba I – Classificação preliminar, publicado na Revista Educação e Cultura Ano III, no 12 (1984); PADZU: Os Cariris na Filipéia de Nossa Senhora das Neves, publicado no jornal O Norte (05/08/1983); Campina Grande e os índios Cariris, publicado no Anuário de Campina Grande (1982); A Itacoatiara de Ingá – É um monumento cariri ou tarairiú; Influência da Língua Cariri no Português do Brasil; A Linguagem popular na obra de José Lins do Rego (Dicionário); e As nações indígenas da Paraíba, publicado nos Anais do Ciclo de Debates “A Paraíba nos 500 anos do Brasil” do IHGP em 2000.
Todos os trabalhos de Borges são dedicados a etnografia paraibana e buscavam determinar quem eram os grupos indígenas da Paraíba, que territórios ocupavam, os costumes de cada grupo e a língua de falavam. Borges também tinha preocupação com a origem dos topônimos paraibanos.
José Elias Borges ainda deixou um livro no prelo, com prefácio de Guilherme Gomes da Silveira D’Ávila Lins, sintetizando os resultados de suas pesquisas, por anos a fio, sobre os indígenas do interior do estado da Paraíba. O livro foi incentivado por Heitor Cabral, editor das Edições Linha D’água, e está sendo organizado para vir a público em breve.

O velho e experiente etnólogo morava no número 108 da rua Francisco de Assis Frade, no bairro de Manaíra, em João Pessoa, e nós o conhecemos em 11 de novembro de 2005, em visita à sua casa, iniciando, assim, um ciclo de visitas periódicas a este pesquisador para boas conversas sobre o universo ameríndio da Paraíba. A última visita que fizemos a Zé Elias foi 27 de março do corrente, quando passamos uma tarde inteira pesquisando sua rica biblioteca e dialogando sobre o seu livro que estava em andamento e programamos um retorno para o mês de setembro. Mas, infelizmente, meses depois Borges sentiu-se mal quando passeava no Manaíra Shoping, onde era freqüentador assíduo, e ficou hospitalizado com complicações cardíacas, possivelmente por conta do “badzé”, pois aos quase 78 anos de idade era ainda fumante, vindo a falecer no dia 27 de agosto de 2010. Foi velado dia 28 de agosto no Cemitério Parque das Acácias, onde também foi sepultado.
Sempre em nossas conversas, Zé Elias (como carinhosamente o chamávamos) manifestava seu desejo de um dia ser agraciado com o título de Cidadão Campinense, pois tinha um verdadeiro amor pela cidade de Campina Grande. Solidários com o velho amigo, estávamos articulando junto à Câmara Municipal de Campina Grande a cidadania deste ilustre etnólogo, mas a inesperada morte de Borges não permitiu que se concretizasse seu desejo de ser oficialmente acolhido como filho adotivo da Terra dos Ariús.

FONTE: BOLETIM DA SOCIEDADE PARAIBANA DE ARQUEOLOGIA, Ano V, nº 52, Campina Grande-PB, Edição Especial, outubro/2010.

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