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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

AUGUSTO SEVERO

EVOCAÇÃO A AUGUSTO SEVERO

Enélio Lima Petrovich,
presidente do Instituto Histórico e Geográfico
do Rio Grande do Norte


Na magnitude desta manhã tropical e votiva, cabe-nos, neste instante solene, evocar a memória de Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, sintetizando a homenagem mais justa, mais sentimental e mais espontânea a esse mártir norte-riograndense, nascido em Macaíba, em 11 de janeiro de 1864, quando, nesta data de 12 de maio, comemora-se o centenário de seu encantamento, na velha e fascinante Paris, pelo idealismo que o levou ao pedestal da glória.

Augusto Severo de Albuquerque Maranhão

Sem dúvida, não poderia o nosso secular Instituto Histórico e Geográfico, com o apoio da Força Aérea Brasileira, aqui representada pelo Exmo. Sr. Coronel Aviador Luiz Antônio Rezende Lima e seus comandados, estudantes em geral, confrades, descendentes do herói, autoridades, ficar ausente às comemorações pelo evento histórico.
Daí estarmos reunidos nesta praça que tem o seu próprio nome, mirando a sua estátua.
Decerto, jamais devem ser olvidados, no presente, os feitos de nossos maiores, em prol da terra comum, à luz da liberdade, esta que para Victo Hugo, “tem as suas raízes no coração do povo, como as tem a árvore no coração da terra”.
Foi a conquista do espaço o ponto convergente do progresso internacional. Através dela, espargiram e se irradiaram as realizações no campo do desenvolvimento tecnológico, embora ensejando um misto de alegria e de temor, porque o homem às vezes procura ser o seu próprio lobo, na expressão de Hobbes, face a uma perspectiva de futuro incerto e duvidoso.
Mas, do ideal de Augusto Severo, na recordação do dirigível PAX- semi-rígido, até o 14-BIS, de Santos Dumont, cortam a amplitude do infinito, na contemporaneidade, os aviões supersônicos.
E tudo isso, na trajetória do tempo, oriunda da semente plantada em 12 de maio de 1902 - há cem anos, quando Augusto Severo subiu aos céus de PARIS, imortalizando o seu gesto heróico.
Augusto Severo - 4 anos antes da façanha de Santos Dumont - despontava com o seu invento. Indo morar na velha capital federal, sempre se preocupou com a navegação aérea.
Foi um dos talentos mais genéricos de seu tempo.
Gilberto Freire, sociólogo de renome, o cognominava “o grande romântico, figura esplêndida da aristocracia do Norte”.
O seu 1º balão, de 1893 - o Bartolomeu de Gusmão - antecipou-se ao Zepelin. Tanto que a 1ª viagem que o GRAF ZEPELIN fez ao Brasil, voou sobre Natal, em 28 de maio de 1930, e sacudiu uma corbeille de flores naturais sobre esta estátua. Nela continha os seguintes dizeres:

“Homenagem da Alemanha ao Brasil, na pessoa de seu filho Augusto Severo”.

Eis, portanto, a presença viva, imorredoura, desse vulto que engrandece não só o país, mas o mundo inteiro.
Nesta data, assim, 12 de maio de 2002 - cem anos de seu falecimento, exaltemos, também, a Força Aérea Brasileira e, à sua sombra, no correr do tempo, os avanços da modernidade e do progresso.
Se Augusto Severo, no discurso que proferiu na Câmara dos Deputados, em 1901, com a idade de 27 anos, fez justiça a Santos Dumont - Patrono da Aeronáutica - nos compete, nesta hora, em frente a sua estátua, render nosso preito de gratidão ao valoroso e intrépido norte-riograndense.
Ele soube, como raros, ser digno, solidário, corajoso e justo, graças ao seu bom senso e a sua genialidade.
Sigamos ainda a lição de Paulo Viveiros, que fora nosso mestre do Direito e da História, quando proclamou:

“A exemplo de Camarão e do Padre Miguelinho, o nome de Augusto Severo cobre e enche o Estado, através de gerações e é venerado como um grande filho do Rio Grande do Norte. Os jovens formam-se no respeito à sua pessoa, os aviadores perfilam-se perante a sua estátua e todos os anos, num dia como este, coberto o céu natalense de aviões em grupo, juntam-se estudantes e soldados, com o povo e as autoridades, na mais sincera homenagem ao brasileiro, sacrificado em Paris, onde, acima de qualquer lugar, honrou a sua pátria e enalteceu a sua geração”.

Também sobre ele, um outro Augusto, seu neto, não mais entre nós, assim nos confessou, em outubro de 1979:

“Eu volto ao tempo e penso em Severo, o homem e não apenas o cientista. Imagino seus sonhos, suas andanças pelas ruas de Paris, sua vida com Natália, seus papos nas cadeiras da calçada de um café, bebendo um  “rouge” e discutindo vida. Penso num Severo, como todos nós, amando, sofrendo, tendo dúvidas, vivendo finalmente.”

E nós acrescentamos:
Severo, realmente, foi um herói. Pobre, muitas vezes ridicularizado pela sua iniciativa, irmão de Pedro Velho - o primeiro governador republicano do Rio Grande do Norte, e de Alberto Maranhão, também governador - o mecenas da Cultura potiguar, nunca se abateu diante das críticas e, vencendo os obstáculos, tornou-se o pioneiro da aviação.
Esta, pois, a nossa reverência sentida e jubilosa a Augusto Severo, olhando, alegres e comovidos, a sua imagem, pela valorização da inteligência, da cultura e da fraternidade humana.
Pisando terra firme ou conquistando o espaço infindável, servimos, na lição e testemunho de Severo, à família e à pátria.
Aliás, Câmara Cascudo, genial e humilde, nos dá este depoimento;

“Na última vez que Severo esteve em Natal, passeou com Henrique Castriciano, no bairro de Petrópolis. E portanto para o leste, até os montes, disse que aquela era a pista de sua vinda. No alto, as muralhas do  “Forte dos Reis Magos, beijadas pela sombra do dirigível vitorioso.”

E arremata:
“Onde estiver o PAX está o Brasil. E se podemos evocá-lo no PAX, Augusto Severo era grande sem ele”.

Enfim, onde quer que estejamos, obscuros ou no ápide dos episódios que dignificam esta existência fugaz, não nos esqueçamos, de igual modo, do aviador, protótipo de bravura e de civismo, emergindo de seus corações e chama do dever, pelo amor ao Brasil.
No epílogo desta breve exaltação telúrica e emocional, in memoriam de Augusto Severo - no centenário de sua morte, dignitários que somos desta mensagem evocativa, em nome do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, também centenário, ainda recorremos ao poeta Gotardo Neto, no simbolismo e significado deste ato solene e singelo, para com ele repetir:

“Nobre vulto da pátria fecunda,
Alma feita das luzes do bem.”

E como no deslumbrante  exemplo de Fernão Capelo Gaivota, que não era um pássaro vulgar, Augusto Severo, à nossa frente, imortal, vive na lembrança de todos nós, pelos caminhos da História.
Vive nos céus do Brasil, em dimensões universais, sob as bênçãos de Deus.


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Discurso proferido no dia 12 de maio de 2002 - centenário de falecimento de Augusto Severo, em frente à sua estátua, na Praça Augusto Severo, em Natal-RN.

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