ATRATIVOS NATURAIS E CULTURAIS DO MUNICÍPIO DE EMAS - PARAÍBA
Rosélia Maria de Sousa Santos
Aluna do Curso de Gestão Pública da UNINTER/FACINTER
Qualquer visitante ou turista que se aproxima da Casa Grande da Fazenda Angicos, no município de Emas, vai logo respirando história. Na Casa Grande e em volta dela, é possível perceber que o passado está ali impregnado, como testemunho de valiosas memórias do tempo em que o sertão paraibano viveu o seu apogeu. Localizada acerca de 2,5 km da sede do município, a Fazenda Angicos possui sua Casa Grande que foi edificada em 1792. E, embora tenha passado por pequenas restaurações, conserva toda a sua originalidade. A referida fazenda foi uma das mais ricas produtoras de algodão e gado do Vale do Piancó, sendo, inclusive, um ponto de referência em todo o sertão paraibano. Ali, em 1860, o seu proprietário José Lopes da Silva hospedou o Dr. Antônio Luís Silva Nunes, presidente da província, em visita ao sertão.
Casa Grande da Fazenda Angicos
A riqueza arqueológica existente no município de Emas ainda não foi devidamente estudada. E novos sítios arqueológicos vêm sendo encontrados por moradores e pessoas que visitam o município. A Pedra do Letreiro, do Sítio Angicos, constitui-se num monumento arqueológico que revela uma curiosidade cientifica: à semelhança da Cruz maia, encontrada em Palenque (sítio arqueológico situado próximo ao rio Usumacinta, no estado mexicano de Chiapas), ela também possui sua 'cruz'. Um estudo detalhado poderia determinar a data aproximada desses caracteres, que desafiam a arqueologia brasileira e vivem circundados de lendas populares. Teria sido o Sítio Arqueológico de Angicos um santuário pré-colombiano? Porque seus executores tralharam e pintaram completamente duas grandes pedras arredondadas, no meio do nada? Estas e muitas outras perguntas
ainda esperam respostas do mundo científico.
Sítio Arqueológico Pedra do Letreiro,
na localidade Angicos
A Serra do Campo Grande foi palco de vários eventos da história do município de Emas. A referida Serra fazia parte da histórica 'Fazenda do Campo Grande', concedida pelo governo da Bahia aos D'Ávila Lins, senhores da Casa da Torre e, adquirida por compra feita pelo coronel João Leite Ferreira, em 1755. Por ali, transitaram personagens e produtos ilustrativos da historiografia regional. Hoje, este cenário atrai visitantes e turistas que objetivam conhecer as belas paisagens rurais, vistas, principalmente, do alto da referida serra, onde existe um cruzeiro.
Serra do Campo Grande, uma coordenada na penetração e desbravamento do território do futuro município de Emas
Em muitos pontos do município de Emas, é possível encontrar vestígios da vegetação nativa completamente preservada, servindo de corredores naturais ou margeando as estradas, embelezando-as, dando ao cenário um aspecto pitoresco que nem parece ser sertão. Ao longo da estrada que vai de Emas para a Comunidade Serrote do Monte Alto, a parte que margeia
a estrada entra em contraste com a vegetação em volta e o quadro torna-se mais belo à medida que se aproxima da Galeria do Poço Escuro.
Trecho da Estrada Poço Escuro à Comunidade
Serrote do Monte Alto
O leito do Rio dos Porcos é alimentado pelas águas do Açude Cachoeira do Cego, construído no vizinho município de Catingueira, proporcionando aos proprietários ribeirinhos a oportunidade de ampliarem sua produção agrícola através da irrigação. No entanto, em alguns pontos do mencionado rio, a paisagem natural se responsabiliza em mudar o ambiente, oportunizando também o lazer à população local. Assim ocorre na comunidade Angicos. O rio, em seu curso baixo, é represado por uma passagem molhada, que durante o período chuvoso forma uma pequena queda d'água, e transborda por todo o ano, através de sete comportas tubulares.
Passagem Molhada, sobre o Rio dos Porcos,
no Sítio Angicos
No local onde o Rio dos Porcos tem que vencer a barreira imposta pela passagem molhada, no Sítio Angicos, uma densa mata ciliar se forma, como se estivesse ignorando a caatinga que existe em volta, embelezando a paisagem, dando-lhe uma beleza que se compara à ostentada pelas matas das florestas tropicais. Assim é Emas, rica em belezas naturais.
Mata Ciliar no Rio dos Porcos, Sítio Angicos.
Após banhar a cidade de Emas, o Rio dos Porcos segue o seu caminho traçado ao longo dos milênios. Cerca de treze quilometros abaixo, recebe as água do Riacho do Jenipapo, tornando-se mais denso e importante. Nesse ponto, o fluxo inverso das águas represadas pelo Açude de Coremas já é sentido, e o rio deixa de correr, assumindo o aspecto de um grande lago,
que corre, rasgando o solo do sertão, mantendo verde toda a vegetação que existe em seu leito
Leito do Rio dos Porcos, na comunidade Jenipapo,
na estiagem.
O município de Emas possui uma formação rochosa atípica. Em vários pontos dele é possível encontrar conjuntos de pedras soltas, em diversos formatos e tamanhos, que chegam a desafiar a imaginação humana. Alguns blocos encontram-se alinhados, outros, sobressaem no meio da vegetação, disputando espaços com o xique-xique e a macambira. Em outros locais é possível encontrar pedras tralhadas, simetricamente cortadas, que o visitante atônito pergunta como é possível cortar a rocha bruta. Isto é o que se vê na comunidade Angicos, nos paredões rochosos que formam o Sítio Arqueológico ali existente.
Pedra Lascada, parte do Sítio Arqueológico Pedra
do Letreiro, na Fazenda Saudade
Quando o homem civilizado foi adentrando o sertão, passou a colocar nome em tudo que via, em tudo que estava à sua volta ou à sua frente. Assim, deu nome às serras, aos rios, aos riachos, às lagoas, aos serrotes, batizando tudo, fazendo sempre alusão à fé, que alimentava-o a permanecer naqueles sertões ignotos. Vaqueiros e moradores da Fazenda Saudade viram num conjunto de pedras sobrepostas um altar, ligando-o a um sítio arqueológico nas proximidades, atrativo cultural este que é tido por muitos moradores da região como um local de culto ou de sacrifícios.
Pedra do Altar, parte do acervo do Sítio Arqueológico
Pedra do Letreiro, Fazenda Saudade
A área do entorno do Sítio Arqueológico Pedra do Letreiro, do Angicos, não é somente composta por pedras soltas (itapetim, de ita = pedra + petim = soltas). É também formada por uma vegetação nativa exuberante, onde se destaca espécies como o angico, o pereiro, a caatingueira, a jurema, etc., plantas xerófitas que perdem a folha no período seco, mas que as primeiras chuvas, poucos dias depois, se revestem de um completo verde, embelezando a paisagem do sertão, servindo de abrigo para os pássaros e de fonte de néctar para abelhas.
Aspectos da vegetação da área do entorno do Sítio
Arqueológico Pedra do Letreiro, Fazenda Saudade
O sertão paraibano é uma terra de muitos mistérios e de belezas raras. Serras inclinadas, vegetação retorcida, ilhas verdes no meio de um deserto semi-árido, é um pouco do muito que se pode observar no sertão do Piancó, mas precisamente no município de Emas. Na Comunidade Jenipapo, uma formação rochosa chama a atenção por suas características. Vista de longe parece uma 'muralha' de pedra enterrada na areia. Levando em consideração a localização em que se encontra, é possível que antes do
represamento das águas da região pelo Açude de Coremas, tal formação estivesse mais visível, dando, realmente, a impressão de ser os restos de uma muralha de pedras.
Vestígios de uma pseudo-Muralha de Pedra, parte
do acervo do Sítio Arqueológico Jenipapo
O riacho do Campo Grande, tributário do Rio dos Porcos, corre no sentido Leste – Oeste e passa por entre um estreito canyon de pedra, formando vários poços. Em seus paredões rochosos alguns vestígios de pinturas rupestres quase que completamente apagados ainda podem ser notados. A paisagem assume um aspecto diferente pela coloração das rochas marginais, bastante polidas pelas águas. Ali, também é possível encontrar várias 'marmitas', de tamanhos e formas variadas, que armazenam grandes quantidade de água. É, portanto, o que se vê em melhores detalhas à jusante da barragem dos Acioli.
Poço da Pedra, localizado à jusante de uma pequena
barragem existente na localidade Acioli, cerca de 2,5 Km
da sede do município de Emas, nas proximidades
da sede da Fazenda Campo Grande
As Cercas de Pedras é algo que faz parte da cultura nordestina. Depois do marcos, foi a primeira forma utilizada pelos homens do interior para demarcarem suas propriedades, ainda no século XVIII. Assim, muitas das cercas de pedras existentes no sertão paraibano têm quase três séculos que foram construídas. Com o passar do tempo, à medida que iam caindo, o homem ia colocando pedra sobre pedra, reconstruindo-as. Hoje, esquecidas na história, guardam consigo a lembrança de que no passado foi o 'arame' natural, que servia para demarcar, para cercar os latifúndios do sertão e para abrigar mocós e preás.
Cerca de Pedra, localidade Campo Grande, cerca de 2,5
Km da sede do município de Emas
Embora não seja a mais antiga existente no município de Emas, a Casa Grande da histórica 'Fazenda Campo Grande data da primeira metade do século XIX. Bastante arejada, possui uma ampla sala e um grande sótão de piso de caubeira (ou caraibeira), espécie de madeira de lei existente na região. Embora apresente sinais da modernidade, a referida Casa Grande conserva quase toda sua originalidade, sendo o imóvel histórico em
melhor estado de conservação existente no município.
Casa Grande da histórica 'Fazenda Campo Grande',
localizadas nas proximidades da serra de mesmo nome
Perdido no meio da vegetação da Caatinga, um conjunto de pedras sobrepostas denuncia o trabalho da mão humana: é o 'Cemitério dos Coléricos', existente na localidade Curral Velho, no município de Emas. Construído em idos de 1861, durante o segundo cólera que assolou a Província da Paraíba, o referido cemitério serviu de local para sepultamento das vítimas do Cólera Morbus, na região polarizada, principalmente, pelos Sítios Curral Velho, Pendências e Riacho dos Bois. Na época, o 'Mal do Ganges' como ficou conhecido o Cólera, vitimou famílias inteiras, colocando em desespero a população do sertão, que não possuía nenhuma assistência médica. O antigo cemitério da comunidade Curral Velho é um dos poucos campos santos construídos durante a epidemia do Cólera, na Paraíba, que ainda mantém-se erguido, representando uma página triste da história de Emas.
Cemitério dos coléricos, Sítio Curral Velho, Emas-PB
Um lugar perdido no tempo. É assim que o visitante pode definir o Olho D'Água dos Macacos. Ao longe, na encosta da Serra da Borborema, pode-se visualizar uma pequena área verde, que contrasta com o restante da vegetação durante o período das secas, formando uma verdadeira 'Ilha Verde', em pleno sertão paraibano. Assim é o Olho D'Água dos Macacos, como suas árvores seculares, de troncos gigantes, formando uma 'floresta semi-árida', que encanta qualquer visitante. Reserva protegida, o Olho D'Água dos Macacos foi descoberto nas primeiras décadas do séculos XVIII. Algumas sesmarias concedidas na região nesse período, a ele faz referência, denunciando que a sua denominaçãopossui quase trezentos anos. Além da beleza da paisagem, nós,simples mortais, podemos desfrutar da sombra e da águafresca, que jorra por entre as raízes de uma velha árvore e contemplar do topo da serra a paisagem em volta, constatando o quanto somos pequenos, quando comparado à Mãe Natureza...
Densa vegetação do Olho D'Água dos Macacos. Imagem colhida
durante o período de estiagem na região
Durante a República Velha era comum a presença de grupos armados no sertão paraibano, ligados às facções políticas, que saiam pelo interior a fora, saqueando fazendas, cidades e povoados, matando e humilhando os adversários de seus chefes políticos. Assim aconteceu em Emas, no dia 29 de junho de 1929, quando um bando de jagunços, liderado por um 'cabra' de nome Gavião, a mando do coronel Zé Pereira, de Princesa, invadiu a Fazenda Pendência, de propriedade do major João Alves, que por falta de munição não teve como resistir ao ataque promovido pelo bando formado por 60 cangaceiros. Com a evasão do major, que ofereceu resistência até onde pôde, o bando saqueou a fazenda, colocou fogo na Casa Grande e nos depósitos de cereais e legumes, existentes no armazém. No dia seguinte, toda a fazenda amanheceu em ruínas e aos de trabalhos forçados desenvolvidos por seu proprietário estavam reduzidos às cinzas. Entretanto, o major João Alves escapou com vida. Prudente, ordenou que sua esposa e filhas, na companhia de alguns criados, deixassem a casa antes do ataque.
Casa Grande da Fazenda Pendência, saqueada e
incendiada no dia 29 de junho de 1929
São vários os locais ao longo da estrada Poço Escuro – Jenipapo, no município de Emas, em que o visitante percebe a presença de uma vegetação atípica, diferente da atual caatinga semi-árida, denunciando que no passado esse ecossistema também possuía outras espécies, que com o tempo foram reduzidas pelos golpes dos machados ou pelas longas estiagens. Entretanto, alguns exemplares podem ser encontrados, mostrando ao homem 'civilizado', que ainda é possível recuperar a mata nativa, dando-lhe a exuberância do passado.
Aspectos da vegetação da localidade Poço Escuro
A Pedra do Corisco, localizada na Fazenda Angicos, guarda também seus mistérios. Nela ainda é possível notar vestígios de pinturas rupestres, que, lamentável, pela ação do tempo, encontram-se bastante apagadas. O conjunto de rochas que forma a 'Pedra do Corisco', encontra-se um local de fácil acesso, destacando-se no meio de um descampado, sendo visto de longo, graças ao seu grande tamanho. No passado, servia de 'rancho' para os agricultores que mantinham roçados em suas proximidades.
Pedra do Corisco, Fazenda Angicos.
Para alguns, parece um cálice. Para outros é uma construção dos 'tempos dos gigantes'. Mas, na verdade é apenas uma formação rochosa atípica, a exemplo de muitas outras que se pode notar no território do município de Emas-PB, rico em atrativos naturais. Assim é a ilustração a seguir.
Formação rochosa nas proximidades da cidade de Emas
Ao longo de quase todo leito do Rio dos Porcos forma-se uma extensa mata de galeria, que bem lembra uma floresta tropical. A referida vegetação mantém seu verde escuro, mesmo durante o período de estiagem, sendo notado do alto, cortando o território do município de Emas em seu leste-oeste.
Mata de Galeria (ou ciliar) ao longo do Rio dos Porcos,
durante o período de estiagem
Fotos: Rosélia Santos
Uma nota para a história!
ResponderExcluirRevivi neste post o desbravamento do sertão, com a riqueza de detalhes em fotos. A muralha, o poço, a cerca de pedra, tudo nos faz lembrar um tempo de bravura e cercanias de gado.
Parabéns!
Att.
Rau Ferreira
Blog HE