este

src="http://www.google.com/friendconnect/script/friendconnect.js">

sábado, 17 de março de 2012

ARQUEOLOGIA NA PARAÍBA

AS INSCRIÇÕES RUPESTRES DE PEDRA LAVRADA

José Ozildo dos Santos

Sobre a arte rupestre no Brasil, a primeira referência nos é dada por Ambrósio Fernandes Brandão em seu livro ‘Diálogos das Grandezas do Brasil’, escrito em 1.618. Trata-se de pinturas e gravuras situadas em terras paraibanas, cujas informações foram fornecidas ao autor por Feliciano Coelho de Carvalho, capitão-mor da Capitania da Paraíba, que visitara no dia 29 de dezembro de 1598 a localidade denominada ‘Arasoagipe’, onde foram encontradas as referidas gravuras e pinturas que, presume-se, tratar-se hoje do município de Araçagi e do rio do mesmo nome.
Diversos escritores antigos citaram as gravuras e pinturas existentes ao longo do território brasileiro como sendo testemunho de passadas civilizações, entre eles, o historiador alemão Heinrich Hamdelmann (1827-1891), em seu livro ‘História do Brasil’, publicado no final do século passado, apresenta seu ponto de vista sobre as pinturas e gravuras existentes no Brasil: “é certo, diz Hamdelmann, que na maioria dos casos, procedem tais monumentos de uma raça indiana, já desaparecida, ou emigrada para muito longe e, constituem eterno mistério, tanto para os atuais íncolas como para o branco descobridor”.
A arte rupestre no Nordeste brasileiro somente agora vem sendo assunto de estudos e pesquisas, tanto por missões brasileiras como estrangeiras. Pois, antes, constituíam apenas “atos de índios desocupados”.
Na Paraíba, a existência de sítios rupestres é grande e chega até a surpreender os estudiosos que visitam a região. Em 1892, lrineu Joffily (Notas Sobre a Paraíba) abria um parêntese para tratar do assunto: “julgamos merecer a mais séria atenção de todos os homens estudiosos, o assunto de que passamos a nos ocupar, referimo-nos aos letreiros ou inscrições que encontram em grande número de rochedos em toda a Borborema, ou antes, em toda a Paraíba”.
As inscrições de Pedra Lavadra, copiadas por Retumba

Jofilly utilizou em seu trabalho as anotações de um relatório escrito pelo engenheiro Francisco Soares Retumba que, em 1886, visitou a povoação de Pedra Lavrada e após copiar integralmente as inscrições ali existentes, concluiu: “ignoro se haverá quem possa compreender o que significam as inscrições [...]. Cumpre, pois, quanto à Paraíba, que se cuide seriamente de colecionar todas as inscrições que se encontram a miúde em nossos sertões”.
As inscrições de Pedra Lavrada, no Seridó paraibano, foram muitas vezes confundias com a Pedra de Ingá, localizada nas proximidades de Campina Grande. Segundo o professor Jacques Ramondot, as inscrições de Pedra Lavrada copiadas pelo engenheiro Francisco Retumba, conturbaram o mundo histórico-científico nos fins do século passado. Mas, lamentavelmente estas inscrições encontram-se submersas pelas águas de um açude que abastece aquele município.
Conscientemente, o engenheiro Francisco Soares Retumba documentou no papel todas as inscrições de Pedra Lavrada. Seus desenhos, que constituem o mais importante documento sobre estas inscrições, foram publicados em numerosas obras. Em 1892, após analisá-los minuciosamente, Joffily assim se expressou: “a simetria e a combinação desses sinais não podem ser lançados ao acaso; elas exprimem com certeza pensamentos humanos; são monumentos escritos de uma raça que ali habitou [...]”.
Retumba copiando as inscrições rupestres de Pedra Lavrada, por Vanderley de Brito

Atualmente, podemos encontrar ainda no município de Pedra Lavrada, três outros pequenos sítios rupestres, localizados na Serra das Flechas, em Lagamar e proximidades da cidade, respectivamente. Contudo, todos de pequeno valor arqueológico quando comparados com as inscrições copiadas por Retumba.
No sitio arqueológico localizado nas proximidades da cidade, encontramos pequenos painéis de pintura, formados por figuras antropomorfas e animais da fauna da região, bem como figuras estranhas e de dificil classificação. Na maior parte, existe predominância de desenhos geométricos, havendo algumas setas pintadas e voltadas para baixo, como se estivessem determinando a existência de algo ali enterrado.
Segundo a professora e arqueóloga Ruth Trindade de Almeida, “as gravuras e pinturas brasileiras e, em particular, as paraibanas, foram executadas pelos antigos habitantes da região - os indígenas - o que não quer dizer que tenham sido executados, obrigatoriamente, pela população que os portugueses encontraram no Brasil no século XVI. Podem ter sido obra de grupos indígenas extintos ou que não mais habitavam o local à época do descobrimento”.
A população interiorana refere-se a esses símbolos como sendo letras dos holandeses. No entanto, tal opinião é sem fundamento científico uma vez que é registrada a existência de sítios rupestres em locais nunca atingidos pelos holandeses. Datam, pois, de 1598, as primeiras informações sobre a existência de inscrições e pinturas rupestres no Brasil, muito antes, portanto, da penetração dos flamengos no Nordeste brasileiro.
No século passado, “alguns autores apoiados em equívocos e mistificações, chegaram a afirmar que as inscrições de Pedra Lavrada fossem de origem fenícia”. A idéia partiu das teorias apresentadas em 1872, por Ladislau Neto, diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro que dizia ter achado inscrições de caracteres fenícios numa pedra encontrada na localidade denominada Pouso Alto, nas proximidades do rio Paraíba.
Na época, o mundo científico da Europa e das Américas foi abalado. No entanto, ninguém soube precisar exatamente onde a referida pedra tinha sido encontrada, se na vizinhança do Paraíba do Norte ou Paraíba do Sul.
No início do presente século a teoria apresentada por Ladislau Neto foi reforçada pelo ilustre professor austríaco Ludwig Schwennhagen, que esteve na vila de Pedra Lavrada-PB, em 1926, onde realizou pesquisas para esclarecimento das inscrições rupestres ali existentes.
Os resultados dos trabalhos do professor Schwennhagen foram publicados, inicialmente em 'A União’, de João Pessoa-PB, edição de 12 de janeiro de 1926 e transcritos posteriormente pela ‘Pacotilha’, de São Luís-MS (26-01-1926) e por último, pela ‘A República’, de Natal-RN (31-01-1926).
Em seu trabalho, o professor Schwennhagen apresenta uma tradução do livro do historiador grego Tiodoro da Sicília, o divulgador dos périplos fenícios, afirmando que foram os fenícios os primeiros habitantes do Velho Mundo a descobrirem a América. Para ele, “1.100 anos antes de Cristo os fenícios partiram de Cartago via Cabo Verde para Dacar e daí atravessaram o Oceano Atlântico e chegaram ao Brasil [...]”.
Ainda segundo aquele pesquisador, esta expedição foi realizada a mando do Faraó Necao, do Egito e dela tomaram parte alguns engenheiros egípcios. Um dos argumentos apresentados a favor desta ‘teoria’ é a suporta semelhança entre os símbolos rupestres existentes no interior do Brasil e o alfabeto fenício.
No entanto, a professora Ruth Trindade de Almeida afirma que “até aqui, os achados arqueológicos não revelaram vestígios da passagem de fenícios pelo Brasil. E se quisesse sustentar a tese de fenícios como povoadores do continente americano, as dificuldades seriam maiores uma vez que o período áureo da história daquele povo situa-se no tempo compreendido entre os séculos X e VII a.C. e em datas muitíssimo anteriores, já foi registrada a presença do Homem em nosso continente”.
Desta forma, aquela estudiosa paraibana afasta por completo a idéia de serem os fenícios os autores das inscrições rupestres encontradas no território brasileiro - e em especial, na Paraíba - aceitando como verdadeiro que seus principais executores foram os indígenas.
Entretanto, apesar da arqueologia brasileira negar a existência de inscrições fenícias em qualquer parte do país, Byron Longman (Descobridores Esquecidos do Novo Mundo), informa que as inscrições colhidas por Ladislau Neto, na Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro, e aquelas de Pouso Alto, constituem, realmente, caracteres fenícios. Essas conclusões partiram do professor Cyrus H. Gordon, da Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, que em 1968, “confirmou a interpretação de Neto, argumentando que certas características do estilo púnico, desconhecidas dos investigadores do século XIX, confirmavam a sua autenticidade”.
As inscrições de Pedra Lavrada foram descobertas no final do século XVIII, pelos primeiros desbravadores que ali apontaram, em busca de terras propícias à lavoura e à criação de gado. Na época, a ribeira do Seridó já se destacava por sua fertilidade, servindo de estímulo à fixação do homem naquela região. Os blocos de gneiss cobertos de símbolos dos mais variados formatos, serviram como fonte toponomástica, fazendo com que os primeiros povoadores da região batizassem o lugar com o nome de ‘Pedra Lavrada’.
As inscrições de Pedra Lavrada, registrada por Retumba, infelizmente hoje submersas, guardam consigo seu ignorado significado. Expressam, sem dúvidas, sentimentos, idéias de um povo que ali habitou. É uma página da nossa pré-história, que como outras inscrições brasileiras, se decifradas, poderão nos oferecer noções exatas sobre a “origem ainda desconhecida do homem americano”.
________________
Artigo publicado na ‘Revista Tudo’, suplemento especial do ‘Diário da Borborema’, Campina Grande-PB, edição de domingo, 16 de dezembro de 1990.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

PESQUISA NO SITE