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sábado, 8 de janeiro de 2011

HISTÓRIA DO AMAZONAS

O
 conhecimento do território que hoje constitui o estado do Amazonas vem do século XVI, quando o espanhol Francisco de Orellana, desceu o rio Marañon até alcançar o Atlântico (1539-1542). A descoberta teve repercussões. Logo a seguir, Gonzalo Hernández de Oviedo y Valdés comunicou-a em carta ao cardeal Pedro Bembo, exaltando as riquezas naturais aí encontradas. A carta foi publicada em Veneza (1556), chamando a atenção dos governos colonialistas europeus para uma área inexplorada de consideráveis proporções.

Pedro de Ursua

Os espanhóis ainda fizeram outra incursão à Amazônia, similar à de Orellana. Pedro de Ursua, vindo do Peru, também navegou o Amazonas, sendo assassinado a meio caminho. Contudo, a expedição prosseguiu, comandada por Lopo de Aguirre, e por fim chegou ao oceano (1561). Como resultado dessa jornada os espanhóis decidiram, cientes das dificuldades de conquistar tão vasto espaço, adiar a tarefa de colonizá-lo.
Quase de imediato os ingleses e os holandeses, que disputavam o domínio da América aos ibéricos, entregaram-se à exploração do Amazonas, aí lançando as primeiras bases de implantações coloniais, através do levantamento de feitorias e pequenos fortes (1596). Até o segundo decênio do século XVII, quando os portugueses começaram a ultrapassar a divisória de Tordesilhas, as companhias de Londres e Flessingen promoviam um ativo comércio de madeiras e pescado, iniciando mesmo plantios de cana, algodão e tabaco. Os próprios governos passaram a estimular abertamente a empresa. Robert Harcourt obteve carta-patente de Jaime I da Inglaterra para explorar o território do Amazonas com seus sócios (1612).
A essa altura, os portugueses barravam a tentativa francesa de se instalar no Maranhão. Pensou-se de imediato em garantir a vitória, estendendo a conquista até o Amazonas, uma vez que as possessões sul-americanas estavam sob domínio conjunto da União Ibérica desde 1580. Assim é que o capitão Francisco Caldeira de Castelo Branco recebeu ordens de marchar sobre o Amazonas (1616), onde suas forças chocaram-se contra os ingleses e os holandeses ali estabelecidos. Os combates prolongaram-se até meados do século, quando foi destruída a última posição holandesa na área do atual Amapá.
Ao término da União Ibérica (1640) a soberania lusitana estava garantida no Pará, porquanto os espanhóis haviam delegado aos portugueses a tarefa de ocupação do vale amazônico. Uma grande expedição de mais de duas mil pessoas, comandada por Pedro Teixeira, já avançara em direção oeste. Em seus dois anos de jornada (1637-1639), atingira Quito e retornara a Belém, após ter fundado o povoado de Franciscana em território peruano, que, mais tarde, serviria de marco nas discussões de limites no Tratado de Madri (1750).
Antônio Raposo Tavares, no centro 

Afinal, o bandeirante Antônio Raposo Tavares chegou ao Guaporé, subindo o rio Paraguai, e percorreu a região vizinha aos Andes, de onde alcançou e desceu o Amazonas (1648-1652). Nessa época a Espanha já perdera em definitivo a entrada da bacia amazônica, limitando-se a controlar os pontos de acesso ao Peru nos territórios do rio Marañon, do Guaporé-Mamoré e em trechos do alto Negro. Os portugueses, ao contrário, tomaram a iniciativa de inúmeras arremetidas de conquista nos cursos dos rios Negro, Solimões e Branco, apossando-se formalmente da região em nome de sua coroa.

Presença dos missionários

Na virada do século XVII o domínio português balizava-se na Amazônia pelo posto avançado de Franciscana, a oeste, e por fortificações em Guaporé, ao norte. Os franceses, instalados em Caiena, pretendiam descer o litoral para alcançar o Amazonas, instigando surtidas constantes de sacerdotes, pescadores e predadores de índios. Ao mesmo tempo, as expedições lusas de reconhecimento enfrentavam grandes dificuldades na atual região do Amazonas: no rio Negro, os manaus, coligados com tribos vizinhas, e os torás, na bacia do Madeira, entregavam-se a guerra de morte contra sertanistas e coletores de especiarias.
Na zona do Solimões a penetração portuguesa defrontou-se com missões castelhanas, dirigidas pelo jesuíta Samuel Fritz, que floresciam na bacia do Juruá, e talvez mais a leste. Logo chegaram ordens de Lisboa para que forças militares invadissem o território das missões espanholas, a fim de expulsar os padres e os soldados que as amparavam. Com efeito, entre 1691 e 1697, Inácio Correia de Oliveira, Antônio de Miranda e José Antunes da Fonseca apossaram-se do Solimões, enquanto Francisco de Melo Palheta garantia o domínio lusitano no alto Madeira e Belchior Mendes de Morais invadia a bacia do Napo. Restava aproveitar o imenso espaço conquistado, tornando-o produtivo. A coroa portuguesa, necessitando assim consolidar sua posição, solicitou o trabalho missionário na área.
A obra a que se deviam entregar os religiosos estava compreendida no chamado Regimento das Missões (1686). Incluía, afora a conversão católica dos gentios, sua incorporação ao domínio político da coroa mediante o aprendizado da língua portuguesa, a organização das tribos em núcleos de caráter urbano e, sobretudo, o aproveitamento racionalizado de sua força de trabalho em atividades extrativas e agrícolas. Regulada a divisão do território entre as ordens, por meio de cartas régias (1687-1714), vários grupos de religiosos iniciaram a tarefa sistemática de colonização, espalhando suas missões num raio de milhares de quilômetros pelo vale amazônico.
Foram os carmelitas, acompanhados de perto pelos inacianos e mercedários, que mais aprofundaram a colonização nos antigos domínios espanhóis, ocupando a área atual do estado do Amazonas. As missões jesuíticas espalharam-se pelo vale contíguo do Tapajós e, mais a oeste, pelo do Madeira, enquanto os mercedários se estabeleceram próximo à divisa com o Pará, nos cursos do Urubu e do Uatumã. Os carmelitas disseminaram seus aldeamentos ao longo do Solimões, do Negro e, ao norte, do Branco, no atual estado de Roraima.
Assim distribuídas, as missões entregaram-se a diligente trabalho de exploração econômica em suas circunscrições. A própria metrópole incentivou tal empreendimento, uma vez que perdera seu império asiático e necessitava dar continuidade ao comércio de especiarias, de que o Amazonas se mostrava muito rico. Os religiosos corresponderam de imediato a essa solicitação, iniciando as primeiras atividades extrativas de vulto. Firmou-se, dessa maneira, a exportação regular de cravo, cacau, baunilha, canela, resinas aromáticas e plantas medicinais, toda ela sob o controle dos missionários, que dispunham do indígena como mão-de-obra altamente produtiva.
No empenho de converter os gentios à fé católica e de ampliar o comércio de especiarias, ou "drogas do sertão", os religiosos com freqüência transferiam suas missões de um ponto a outro, seguindo sempre a margem dos rios. Da multiplicidade desses aldeamentos surgiram dezenas de povoados, a exemplo de Cametá, no deságüe do Tocantins; Airão, Carvoeiro, Moura e Barcelos, no rio Negro; Santarém, na foz do Tapajós; Faro, no rio Nhamundã; Borba, no rio Madeira; Tefé, São Paulo de Olivença e Coari, no Solimões; e em continuação, no curso do Amazonas, Itacoatiara e Silves.

Capitania do Rio Negro

Os sertanistas acompanharam os missionários na intensa atividade de exploração do Amazonas. Sua ação, em geral estimulada pelas autoridades coloniais, devia facilitar o trabalho dos provedores da fazenda, sob a direção dos quais corriam os serviços do fisco. Desvendavam-se os caminhos, reconhecia-se o espaço em que se davam operações econômicas de vulto, e facilitavam-se as comunicações pelo interior. A expansão portuguesa, dessa forma, implantava-se cada vez mais firme no oeste, em toda a extensão longitudinal além do limite do Tratado de Tordesilhas, já letra morta em inícios do século XVII.
No Rio Negro, entretanto, a oposição indígena era violenta. Em 1639, o sargento Guilherme Valente, para vencer o obstáculo, passou a viver maritalmente com a filha de um chefe manau. Ajuricaba, outro chefe manau, não aceitou a situação e passou a liderar o combate aos invasores. Levantou o vale todo e sagrou-se o herói amazonense, lutando até cair prisioneiro dos portugueses. Buscando detratá-lo, os traficantes de escravos acusaram-no de estar a serviço dos holandeses de Suriname. Preferindo a morte ao opróbio de uma condenação pelos brancos, Ajuricaba suicidou-se na baía de Boioçu, depois de tentar a insurreição dos que com ele desciam presos. Criou-se então uma lenda indígena segundo a qual, quando as águas da baía se encapelam, estariam exteriorizando o desespero de Ajuricaba em seu afã de libertar a raça.
Nos anos seguintes, intensificaram-se as atividades espanholas e francesas na região. Para melhor defender a posse lusitana no Amazonas, o capitão Francisco da Mota Falcão fundou em 1669 o forte de São José do Rio Negro. Mais de cinqüenta anos depois, quando floresciam as missões naquela área, Francisco de Melo Palheta, incumbido de subir o Amazonas, alcançou Santa Cruz de Cajuava, localidade próxima a Santa Cruz de la Sierra (1722-1723). A seguir, as autoridades resolveram fechar à navegação o rio Madeira (1732), numa época em que a colonização de Mato Grosso atingia seu auge. A proibição, no entanto, não impediu que Manuel Félix de Lima e José Leme do Prado, entre 1742 e 1749, explorassem a área, em busca clandestina de especiarias, estabelecendo comércio no eixo Cuiabá-Amazonas-Belém.
A partir de 1750, quando se iniciaram negociações com a Espanha a propósito das terras invadidas e colonizadas, intentou-se a incorporação definitiva do Amazonas às possessões lusitanas. Foi nomeado comissário de demarcações o governador do estado do Maranhão, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, que deveria realizar o levantamento da zona, tanto no norte (do Negro ao Japurá) como no sul (do Madeira ao Javari). Estabelecendo sua base de operações numa antiga missão carmelita do rio Negro, Mariuá (1754), rebatizada Barcelos, demorou-se aí dois anos. Datam dessa época a criação de pesqueiros para melhor abastecer os habitantes dos rios Negro, Branco e Solimões, e o incremento da cultura de cereais em toda a região.
Por fim, segundo sugestões de Mendonça, o governo português autorizou a criação da capitania de São José do Rio Negro (1755), separada do Pará. Visava-se, com o ato, a consolidar o domínio luso do Amazonas, ponto extremo setentrional dos limites com as possessões castelhanas. A disposição de incentivar os colonos a ocuparem o espaço da nova capitania revela-se, ademais, nos privilégios, prerrogativas e liberdades concedidos a quem lá fosse morar, compreendendo isenções de taxas, despesas de emolumentos, fintas e outros tributos pelo prazo de 16 anos.
Ao tomar posse o primeiro governador, Joaquim de Melo e Póvoas (1757), a capitania contava com 45 aldeias, das quais Silves, Serpa e São Paulo de Olivença foram logo elevadas à categoria de vila, com nova denominação. Ainda sob o governo de Póvoas desencadeou-se acirrada campanha contra os jesuítas, que resistiam à supressão de sua influência sobre os índios e eram acusados de não lhes ensinar a língua portuguesa, a fim de mantê-los sob controle, além de monopolizar o comércio das drogas em detrimento dos negociantes locais. O marquês de Pombal ordenou que fossem retirados à força das missões, expulsos da colônia e seqüestrados seus bens (1759).
A laicização dos antigos aldeamentos missionários, entretanto, não surtiu os resultados esperados. Além disso, a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão, criada para estimular as exportações através do desenvolvimento sistemático da produção daquelas capitanias (1755), fez estacionar as atividades extrativas de que vivia São José do Rio Negro. A nova capitania viveu, assim, durante todo o terceiro quartel do século, sob desigual concorrência econômica com as suas vizinhas orientais.
Extinta a Companhia Geral do Comércio, os governadores de Rio Negro puderam desenvolver atividades produtivas em maior escala. Assim é que João Pereira Caldas e Manuel da Gama Lobo d'Almada, os que mais se empenharam nesse sentido, deram novo impulso à capitania, elevando seu nível social e econômico. Na fase de relativa prosperidade, entre 1780 e 1820, criaram-se no Amazonas pequenas indústrias de tecidos de algodão, manufaturas de cordoalhas, manteiga de tartaruga, cerâmica e velas, além de se haver fomentado a agricultura de café, tabaco, algodão, arroz, milho, cacau, mandioca, cana-de-açúcar, e a pecuária no vale do Rio Branco. Nos últimos anos antes da independência, a capitania exportava em média, anualmente, cerca de cinqüenta mil libras esterlinas, ou seja, um terço da exportação total do Pará.
Ao lado desse progresso, incentivavam-se as explorações científicas, entre as quais se destaca a de Alexandre Rodrigues Ferreira, a fim de se examinarem terrenos e rios, com vistas a seu aproveitamento agrícola. Fizeram-se também minuciosos trabalhos topográficos e ecológicos, que muito contribuíram para melhor conhecimento da região, seus recursos e suas populações. Levando em conta a necessidade de se estabelecerem comunicações mais rápidas com Belém, o governador Almada transferiu, afinal, a sede administrativa de Barcelos para a confluência do Negro-Amazonas (1791), no local em que Mota Falcão erigira o forte de São José do Rio Negro, transformado então no povoado da Barra, hoje Manaus.

Desenvolvimento

A capitania teve sua vida política encerrada como unidade distinta ao advento da independência. Apesar dos esforços que sua população despendeu para que fosse graduada na condição de província do império nascente, tal não ocorreu. Houve certa perspectiva de êxito nos primeiros tempos, uma vez que conseguira mandar representantes às cortes de Lisboa, o que lhe assegura uma situação privilegiada. As autoridades locais entraram em conflito ao tratarem do futuro da ex-capitania, sustentando umas o direito de que o Rio Negro se constituísse província, enquanto outras, as judiciárias de preferência, sustentavam a tese de que a capitania era agora mera comarca do Pará, sem governo próprio.
Em 1832, dado o estado de espírito agitadiço que envolvia todo o vale, os amazonenses pegaram em armas, desligando a comarca de sua subordinação à província paraense e proclamando-a província imperial. O pronunciamento foi esmagado pelas armas, sem que o governo imperial atendesse às razões apresentadas pelos amazonenses, que enviaram ao Rio de Janeiro um delegado, o religioso frei José dos Santos Inocentes. Em 1833, passou a denominar-se Comarca do Alto Amazonas, governada por um juiz de direito e por um comandante militar.
No período colonial levantara-se uma rede de fortificações para garantir o domínio português: São Joaquim, São Gabriel de Cachoeira, Maribatanas e Tabatinga. O comando militar resultava da necessidade de continuar a política de preservação do território que fronteirava com cinco repúblicas de origem espanhola e a antiga Guiana Britânica.

Cabanagem

A comarca manteve-se fiel ao legislativo no decorrer da cabanagem, movimento da população de raízes indígenas contra os dirigentes que lhes pareciam estranhos às suas aflições, bem como protesto contra distâncias sociais e econômicas que não lhes permitiam o acesso ao bem-estar material nem aos postos da mais alta administração regional. Com a invasão dos cabanos, que obtiveram grandes adesões, Manaus, assim como várias outras vilas, esteve em mãos dos rebeldes. Um caudilho legalista pernambucano, Ambrósio Aires, cujo nome de guerra era Bararoá, e que cumpria sentença por crime político no Rio Negro, combateu com bravura, perdendo a vida numa surtida nos Autazes. Apolinário Maparajuba foi o chefe cabano de maior nomeada.

Cabanagem
Província

Em 1850, pela lei nº 592, de 5 de setembro, a comarca foi promovida a província, aspiração das populações amazonenses que se julgavam preteridas em seus direitos de autonomia. Um projeto a respeito fora apresentado ao Parlamento imperial em 1826. Os presidentes do Pará por mais de uma vez haviam sustentado perante o ministro do Império o acerto da providência. A instalação ocorreu a 1º de janeiro de 1852. Tenreiro Aranha, o primeiro presidente, criou os serviços públicos básicos. As rendas, no entanto, eram precaríssimas. O Pará e o Maranhão, por determinação do governo nacional, supriram as deficiências com a remessa de numerário durante alguns anos. Facilitando a montagem de uma tipografia, Aranha possibilitou a circulação do primeiro jornal, o Cinco de Setembro.
Seguiram-se, na administração da província, 62 presidentes e vice-presidentes em exercício. O progresso era lento. O crescimento demográfico não expressava dinamismo. A navegação a vapor, resultante da ação do barão de Mauá e de Alexandre Amorim, permitiu a circulação de mercadorias e de pessoas, diminuindo as distâncias. As flotilhas de pequenas embarcações, que serviam ao vaivém mercantil, perderam substância. O "regatão", mercador fluvial que substituíra o comerciante das vilas e cidades, embora praticando abusos continuou a servir ao homem isolado pelo deserto.

Expedições científicas

Homens de ciência como Henry Walter Bates, Louis Agassiz, Von Martius, João Martins da Silva Coutinho, William Chandless, continuando o esforço de Alexandre Rodrigues Ferreira, identificaram a flora, a fauna, o solo, o subsolo, os grupos indígenas.


Henry Walter Bates

O Museu Botânico, fundado em Manaus em 1883 por Barbosa Rodrigues, recolhia o material que se coletava na floresta e nas águas. Manuel Urbano da Encarnação, descendente direto de índios muras, foi o grande desbravador do vale do Purus-Acre, servindo de guia às expedições científicas, nos contatos com as populações primitivas e no início da ocupação econômica da região. As levas de nordestinos que começaram a chegar promoveram essa ocupação do interior, iniciando o rush da borracha. O Acre é uma resultante dessa façanha que reproduzia o episódio do bandeirismo colonial.

República

Em 10 de julho de 1884 a província declarou extinta a escravidão, libertando os trabalhadores negros. A Sociedade Emancipadora Amazonense e mais outras nove associações que se espalhavam pela capital e pelo interior, movimentaram a causa.
Estabelecida a república em 21 de novembro de 1889, foi nomeado governador o tenente Ximeno Villerroy. Três governantes, Taumaturgo de Azevedo, Antônio Clemente Ribeiro Bitencourt e Turiano Meira, sofreram deposição.

Alcântara Bacelar

Nas administrações Eduardo Ribeiro, Jônatas Pedrose Alcântara Bacelar, a luta política exteriorizou-se mais intensamente por meio de pronunciamentos armados com derramamento de sangue. Um tipo estranho, espécie de caudilho caboclo, Guerreiro Antoni, comandou agitações, galvanizando a opinião estadual. Eduardo Ribeiro, maranhense, cercou-se de prestígio popular. Iniciou a obra urbanizadora de Manaus, assegurando-lhe muito da feição típica que possui; aterrou igarapés, abriu ruas, avenidas, praças, construiu edifícios públicos.

O fastígio da borracha

A borracha dos seringais do Purus-Acre, do Juruá e do Madeira projetava o Amazonas no cenário mundial. Manaus tornou-se um dos mais famosos centros exóticos da Terra. Em seu teatro, decorado por artista italiano, com zimbório trazido do pavilhão de festa da Exposição de Paris, apresentavam-se as melhores companhias européias.
Antiga Praça da Matriz - Manaus

Homens e mulheres de todas as cores e de todos os continentes encontravam-se em Manaus. De todo o país, médicos, bacharéis, jornalistas, engenheiros, agrônomos, comerciantes e operários iam "fazer o Amazonas". Navios das mais variadas bandeiras fundeavam no porto. Este era uma construção típica, realizada sobre tambores, que subiam e desciam ao sabor do movimento das águas. O amazonense era o maior contribuinte, per capita, do erário federal. Nos seringais, bebiam-se as melhores bebidas, comia-se o enlatado mais fino do Velho Mundo.
O presidente Afonso Pena, ao visitar a capital amazonense, declarou: "Manaus é uma revelação da república". Manaus absorveu quase todo o rush da borracha. Os demais centros urbanos, em conseqüência, não se desenvolveram. Tudo isso entrou em colapso com a emigração da Hevea para o Oriente e a concorrência daquele mercado. O funcionalismo deixou de receber os vencimentos. Numa administração, durante quatro anos houve o calote oficial aos servidores -- o que explicou a adesão popular ao pronunciamento que eclodiu em São Paulo em 1924 e teve repercussão imediata em Manaus. Até então, os homens que comandavam a política, a vida intelectual e econômica eram, na sua quase totalidade, de fora.

Teatro de Manaus, início do século XX

O "glebarismo" foi o movimento cívico que, depois de 1930, desfraldou a bandeira do Amazonas para os amazonenses. Os homens públicos que exerceram o governo daí em diante -- exceção de dois interventores federais do período ditatorial -- foram, em conseqüência, todos amazonenses. A vida política processou-se sem particularidades de monta. O movimento paulista de 1932 ecoou no estado no combate naval travado em frente à cidade de Itacoatiara entre forças legais, terrestres e navais, e rebeldes da guarnição de Óbidos.
A criação dos territórios federais de Rondônia e Roraima, que provocou mal-estar, desfalcou o estado em área e população. Os municípios de Porto Velho e Boa Vista passaram àqueles territórios. Pela lei no 117, de 29 de dezembro de 1956, que fixou a divisão territorial, administrativa e judiciária, os antigos 28 municípios desmembraram-se, elevando-se para 44.
A população aumentou num ritmo relativamente lento. Em 1850, somava cerca de trinta mil habitantes; cem anos depois, perto de meio milhão. Os contingentes nordestinos, denominados "arigós", levados no decorrer da segunda guerra mundial para a restauração dos seringais e produção intensiva de borracha necessária à indústria bélica americana, não constituíram um peso ponderável. Ao invés da mortalidade que teria ocorrido e de que tanto se falou naquela época, o que houve foi um regresso dos imigrantes que não se integraram no novo meio. Muitos, depois de encerrada a "batalha", instalaram-se em Manaus, que cresceu na área suburbana e no comércio de rua.
A imigração estrangeira não teve expressão quantitativa. A contribuição japonesa, iniciada às vésperas de 1930, foi reduzida. As colônias de Maués, Parintins e Bela Vista não atingiram concentrações significativas.
A partir de 1930, o governo federal passou a se empenhar no sentido de valorizar o grande vale equatorial. Dispondo de grandes reservas de terra e apresentando um índice demográfico muito baixo (cerca de 250.000 habitantes em 1900, 450.000 em 1940 e 720.000 em 1960), o Amazonas despertou o interesse internacional para a inversão de capitais em seu povoamento e na exploração de seus múltiplos recursos naturais. A tese da internacionalização da bacia, sustentada por James Bryce (1912) e Prescott Webb (1952), chegou a ser proposta por entidades científicas, a exemplo da Academia de Ciências de Washington, da UNESCO e do Instituto Hudson de Nova York.
Em contrapartida, o governo federal elaborou vários projetos visando à recuperação do interior, a fim de articular o desenvolvimento em todo o território nacional. No Norte, criou-se a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA, 1953), que, mostrando resultados insatisfatórios, foi transformada na Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam, 1966). Promulgaram-se ao mesmo tempo leis de amparo à iniciativa privada, como a de incentivos fiscais para a instauração de empreendimentos no setor da agroindústria. Instalaram-se no Amazonas, dessa forma, fábricas, moinhos de trigo, refinaria e usina, além da abertura de uma zona franca em Manaus.
A partir da década de 1960, rompeu-se em definitivo o isolamento do Amazonas por meio de sua incorporação ao sistema rodoviário brasileiro, com a abertura de estradas como as de Manaus-Porto Velho, Manaus-Itacoatiara, Manaus-Manacapuru e Manaus-Boa Vista, todas confluindo para o eixo das comunicações interiores que têm como centro Brasília.
O leito da Transamazônica, por outro lado, corta o Amazonas desde Jacareacanga, no Pará, até Humaitá, no rio Madeira, daí ligando-se a Lábrea, no rio Purus, ponto de convergência para Boca do Acre e Benjamin Constant, no Solimões (fronteira com o Peru), após atravessar os vales do Coari, do Juruá, do Jutaí e do Jandiatuba. Do ponto de vista regional, a abertura desses vários troncos contribui para a colonização e desenvolvimento econômico do Amazonas, bem como possibilita exploração mais sistemática de lençóis de petróleo e jazidas de manganês e estanho em artérias vitais do estado.
Em 1987, o governo federal anunciou a descoberta de depósitos de petróleo de boa qualidade, que se acreditava alcançar volume igual a todas as reservas então conhecidas no país. A questão ecológica, avultada nessa década, exacerbou-se em 1989, com um movimento internacional pela preservação da Amazônia, desencadeado após o assassinato do ecologista e líder sindical Chico Mendes, no Acre. Nos primeiros anos da década de 1990, a Zona Franca de Manaus enfrentou uma profunda recessão, que atingiu basicamente a indústria de eletro-eletrônicos, plásticos e vidros, o que aumentou drasticamente o desemprego na região.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

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