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quinta-feira, 30 de maio de 2013

AZEVEDO MAIA
(FAMÍLIAS SERIDOENSES – II)

José Augusto Bezerra de Medeiros
 

O primeiro membro da família Azevedo Maia a ir para o Seridó foi Antônio de Azevedo Maia, casado com Josefa de Almeida, o qual fundou fazenda de criação de gados em terras do atual município de Jardim do Seridó. 
Viveu por muito tempo, vindo a falecer em 28 de novembro de 1796, aos 90 anos de idade.
Um dos seus filhos, Antônio de Azevedo Maia Júnior, casado com uma filha de Caetano Dantas Correia e Josefa de Araújo Pereira, de nome Micaela Dantas Pereira, deixou traços do seu espírito progressista e de sua influência benéfica, tendo fundado uma povoação, Conceição do Azevedo, para cujo patrimônio e construção de uma capela dedicada a N. S. da Conceição doou os terrenos necessários.
Conceição do Azevedo é hoje uma das melhores e mais formosas cidades seridoenses: - Jardim do Seridó.
Ao falecer Micaela, em 23 de maio de 1799, Antônio de Azevedo ficou com 13 filhos, conforme se verifica do inventário existente no cartório de Jardim do Seridó: João Dantas de Azevedo, com 30 anos de idade; José de Azevedo, com 23 anos; Antônio de Azevedo, com 44 anos; Francisco de Azevedo; Joaquim de Azevedo, Caetano de Azevedo, Joana, Maria, Francisca, Ana, António, Josefa e Isabel.
João Dantas de Azevedo casou com Rosa Maria dos Santos, em 21 de setembro de 1791; Isabel Maria casou com José Tavares dos Santos; Josefa Maria com João Marques; Antonia com Manuel Salvador de Vasconcelos; Ana Rosa com José Soares de Vasconcelos; Francisca com Manuel Martins de Medeiros; Maria Marcelina com João Batista dos Santos; Joana com Manuel José da Cunha, tronco da família Cunha; e António de Azevedo Maia (o 3º do nome), (conhecido por Antônio Padre), por haver sido vaqueiro do padre Cosme Leite de Oliveira, casou com Úrsula Leite de Oliveira, irmã do referido sacerdote e filha do vale do Jaguaribe, no Estado do Ceará.
O segundo Azevedo Maia, o precursor de Jardim do Seridó, não se conservou viúvo por muito tempo, tendo contraído novas núpcias com Maria José de Santana, que lhe sobreviveu, e de quem teve filhos.
O falecimento de António de Azevedo (o 2º), ocorreu a 19 de maio de 1822, e o seu sepultamento verificou-se no cemitério público da então povoação de Conceição de Azevedo.
A família Azevedo Maia tem dado ao Seridó muitos filhos de grande projeção na política, na vida econômica e na sociedade.
Nenhum, até hoje, porém, excedeu em dedicação à causa pública ao coronel Felinto Elísio de Oliveira Azevedo, bisneto do patriarca de Jardim do Seridó, neto do terceiro António de Azevedo Maia, (Antônio Padre), e nascido em 29 de novembro de 1852.
Político militante durante mais de cinquenta anos, chefe de prestígio muito grande no município que lhe serviu de berço (Jardim), Felinto Elísio representou a sua terra em diversas legislaturas na Assembleia Provincial, durante o regime monárquico, continuando na República a receber do povo a delegação de confiança, em face da qual foi por vezes elevado à presidência do Congresso do Estado.
Também por duas vezes ocupou interinamente o governo do Rio Grande do Norte.
Pode dizer-se sem exagero que, por muitos decênios Felinto Elísio participou como elemento de consulta e decisão de todos os fatos de saliência na vida política da terra potiguar.
A sua palavra foi sempre ouvida e o seu conselho, indefectivelmente prudente e patriótico, sempre acatado e seguido. Prestigioso, leal, digno na vida pública, irrepreensível na vida doméstica, Felinto Elísio foi bem um verdadeiro e legítimo patriarca seridoense.

Fonte:
Seridó. 2 ed. Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1980.

sábado, 11 de maio de 2013

DANTAS CORREIA
(FAMÍLIAS SERIDOENSES – I)

José Augusto Bezerra de Medeiros

O tronco da família Dantas é, no Seridó, Caetano Dantas Correia, que se fixou na fazenda 'Picos de Cima', no Acari, e chegou ao sertão como vaqueiro de um seu irmão Sabe-se, com segurança, que Caetano era filho de José Dantas Correia e Isabel da Rocha Meireles, ela paraibana e ele, a acreditar na tradição, português, senhor do Engenho Fragoso, nas proximidades do Recife, casados em 1710.
Sabe-se ainda que Caetano teve vários irmãos varões entre eles Gregório José Dantas Correia, que casou com Joana, irmã de Josefa de Araújo Pereira, filhas ambas de Tomás de Araújo Pereira e Maria da Conceição Mendonça, António Dantas Correia que casou com Mariana Monteiro da Silva, casamento em 1739, e que ficou no Engenho Fragoso; Frutuoso José Dantas, que residiu em Piranhas; e José Dantas Correia, de quem descende a família Dantas que se situou na Serra do Teixeira, na Paraíba.
Encontro também referências a Sebastião Dantas Correia, não sei se irmão de Caetano, o qual, em 1745, obteve uma data de terra ria Capitania do Rio Grande Em notas em poder do Dr. Felipe Guerra há ainda notícia de Estevão José Dantas, irmão ou parente de Caetano e de quem descendem os Dantas de São José de Mipibú.
Outros documentos antigos referem-se a vários Dantas Correia, entre eles Albino Custódio Dantas Correia, que, com Gregório Dantas, pedia e obtinha terras na Malhada Grande, no Apodi, no ano de 1778; Antônio Jácome Dantas Correia, que pedia uma concessão de terras em 1799, junto à Barra do Pitangui, alegando que seu avô materno tinha a posse delas há 80 anos; Alexandre Dantas Correia, que em 1777, com sua mulher Maria Lureana de Jesus, vendia uma propriedade nas cabeceiras do Rio Seridó, a Braz de Oliveira Ledo é José Dantas Correia, que em 12 de janeiro de 1788, pertencia ao Senado da Câmara de Natal e João Firmino Dantas Correia, que pedia e obtinha terras em 1811, no rio Choro, Aquiraz, Ceará.
Ignoro que relações de próximo ou remoto parentesco havia entre esses vários Dantas Correia e Caetano Dantas que é o ponto de partida da família nas plagas seridoenses.
Entre os descendentes de Antônio Dantas Correia, o irmão de Caetano, que ficou em Pernambuco, no Engenho Fragoso, um que devo fazer referência especial: o coronel Felismino do Rego Dantas de Noronha, que residiu em Ceará-Mirim, no Rio Grande do Norte, fruindo grande influência social e política e caracterizando-se pela firmeza das atitudes e inflexibilidade de caráter.
 Faleceu octogenário, e exerceu sempre vários cargos de eleição, entre eles a deputação estadual, revelando-se invariavelmente homem de severa conduta e nobre proceder.
De José Dantas Correia, o chefe da família Dantas no Teixeira, há descendência ilustre, e cabe destacar o Dr. Manoel Dantas Correia de Góis, antigo político paraibano, representante da Paraíba no Parlamento Nacional e homem de considerável prestígio.
O Rio da Carnaúba, hoje município autônomo chamado Carnaúba dos Dantas, foi todo ele povoado por descendentes de Caetano Dantas Correia, a quem se deve também a fundação de Cuité, na Paraíba, cuja capela, dedicada a N. S. das Mercês, resultou de iniciativa sua conforme se verifica de escritura de doação que, em 17 de julho de 1768, com sua mulher Josefa de Araújo Pereira, fez passar de meia légua de terra para constituição do patrimônio necessário à construção da referida Capela.
Eis a escritura nos seus próprios termos originais:

"Freguesia do Cuité — 17 de julho de 1768 — Escritura de doação para patrimônio que fazem o Capitão-mor, digo, fazem o Tte. Gel. Caetano Dantas Correia e Mer. D. Josefa de Aro. Pêra, de meya legoa de terra na serra chamada Coyté da freg. da Senhora Sant'Anna do Seridó para a Capella que na dita serra pretendem erigir com a invocação Nossa Senhora das Mercês. Saibam quantos este publico instrumento de escritura de doação para patrimônio da Capella que se ha de erigir com a invocação de Nossa Senhora das Mercês na serra do Coyté ou como em direito para a sua realidade melhor nome haja virem que no anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e setenta e oito aos dezessete dias do mês de julho do dito ano nesta Povoação de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Piancó Capitania da Parayba do norte no meu escritório appareceram partes presentes e outorgantes a saber o Tenente Coronel Caetano Dantas Correia e sua mulher D. Josefa de Araújo Pereira moradores na sua fazenda dos Picos de Cima Ribeira do Seridó que vivem de seus gados de mim reconhecidos pelos próprios de que se tratta e logo por elles ambos e cada um in solidum me foi ditto em presença das testemunhas adiante nomeiadas e assignadas que elles entre outros mais bens de raiz que possuíam e estavam de mansa e pacifica posse era bem assim uma parte de terras lavras na serra chamada do Coyté onde pretendiam erigir uma capella com a invocação N. S. das Mercês para patrimônio da qual disseram que doavam como de facto logo o doaram deste dia para sempre meya legoa de terra no lugar aonde for erigida a ditta capella principiando, a ditta terra doada do Olho de Agoa chamado Coyté correndo para a parte do Norte meya legoa de cumprido e hua de largo a qual doação disseram fasiam do seu motu próprio sem o constrangimento de pessoa algua mas que tão somente movidos de superiores impulsos e intensa devoção e que demettiam de si toda posse e domínio que na ditta terra doada tinham concediam e transpassavam na pessoa a quem diretamente pertença a administração da ditta capella e seus bens e delia poderão tomar posse por sy ou por autoridade de justiça e quer a tomem quer não desde logo o ham por empossado nella como posse real, actual, e corporal civil e natural pella clausula constituti e que contra este instrumento não viriam em tempo algum com duvidas ou embargos e vindo não queriam ser ouvido sem juízo nem fora delle antes eram contentes lhes fosse negado todo o recurso e acção que a seu favor allegar podessem e a Ley de Veliano que faz a favor das mulheres que de nada queriam usar senão ter e manter esta escritura e doação por elles feita na forma que nella se contem e declara a cuja firmesa disseram obrigavam suas pessoas e bens moveis e de raiz presentes e futuros em fé e testemunho de verdade assim o disseram o outorgante e pediram fosse feito este instrumento nesta nota que eu Tabellião estipuley e accetey em nome da ausente a que o favor desta possa tocar sendo a tudo presente por testemunhas que o doador assignaram o Capitão João Dantas Rothéa e João Gaya da Rocha, moradores na Ribeira do Rio do Peixe que vivem de seus gados e pella Doadora não saber ler e escrever assignou a seu rogo o Tenente Luiz Pereira Bolcão morador na Ribeira do Seridó e esta a lavrey por me ser distribuída pello juiz Ordinário, por seu bilhete. Eu António Gonsalves Reys Lisboa o escrevi".

Cuité, na Paraíba, deve assim a sua fundação a Caetano Dantas Correia, de quem um genro, António de Azevedo Maia Júnior, casado com sua filha Micaela Dantas Pereira, foi, por sua vez, o patriarca e fundador, no Rio Grande do Norte, de Jardim do Seridó, a antiga "Conceição do Azevedo".
 Caetano Dantas Correia e Josefa de Araújo Pereira tiveram filhos, dos quais, através de mais de um século de evolução, tem resultado uma descendência de alguns milhares de indivíduos. Eis os filhos de Caetano Dantas - Josefa de Araújo:
1) Simplício (Francisco Dantas, que se casou três vezes — a 1ª  com Manoela Dorneles Bentancor, filha de António Garcia de Sá Barroso, a 2ª com uma filha de João Crisóstomo de Medeiros, e a 3?- com Rita, filha de José Ferreira e Joana Lins;
2) Gregário José Dantas;
3) António Dantas Correia;
4) Caetano Dantas Correia (2°), casado com Luzia, filha de Manuel Alves da Nóbrega;
5) Manoel António Dantas, casado com Maria José;
6) Felix Dantas, casado com Francisca, filha de Manoel da Anunciação
Lira;
7) Alexandre Dantas, casado com Joana, filha de Francisco Gomes;
8) Silvestre Dantas Correia, casado com Margarida, filha de João Damasceno Pereira;
9) Clemência;
10) Josefa, casada com António Ferreira;
11) Francisca Xavier, casada com João Crisóstomo de Medeiros;
12) Micaela Dantas Pereira, casada com António de Azevedo Maia
Júnior;
13) Maria, casada com o capitão-mor Francisco Gomes da Silva;
14) Maximiana, casada com Luís Joaquim;
15) Ana, casada com António Tomás;
16) Isabel, casada com João Felipe da Silva;
17) José Antônio Dantas
Caetano Dantas Correia faleceu a 19 de julho de 1797 (12), na sua fazenda Picos de Cima, no Acari, e tinha então 87 anos de idade. Sua viúva, Josefa de Araújo Pereira faleceu, com 77 anos de idade, a 18 de julho de 1816. (13) A morte de Josefa ocorreu no Acari, morte apressada, diz o registro de óbito. Caetano era mais velho do que Josefa 29 anos.
Entre os descendentes do casal Caetano Dantas - Josefa de Araújo, alguns desempenharam papel de relevo, quer na zona do Seridó, quer em outros pontos do Estado: - Manuel Francisco Dantas foi um homem de rara energia; o Dr. Bartolomeu Leopoldino Dantas e o professor Antônio Justino Dantas tiveram realce na vida política e foram deputados à Assembleia Provincial; o Dr. Manuel Gomes de Medeiros Dantas, jornalista, professor, advogado, jurista, político de grande significação no Rio Grande do Norte, em cuja Capital faleceu como Prefeito em junho de 1924; o Dr. João Valentino Dantas Pinagé.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

SERIDÓ

FAMÍLIAS SERIDOENSES: ARAÚJO PEREIRA


José Augusto

Entre as famílias que povoaram o Seridó, e ai se fixaram, a família Araujo, se não e a mais antiga, e das mais antigas, e certamente a que mais proliferou, sendo hoje a mais numerosa dentre quantas se contam radicadas naquele trecho do território norte-rio-grandense. Não e exagero afirmar que raro será o seridoense que não tenha sangue de Araujo.
O fundador da família no Seridó foi, há mais de dois séculos, Tomas de Araújo Pereira, casado com Maria da Conceição Mendonça (1), rezando a tradição, não sei com que fundamento, que Tomás era português (2) e Maria da Conceição baiana, filha de Cosme Soares de Brito e Madalena de Castro (3). Já em 1734 Tomas de Araújo Pereira pedia e obtinha uma data de terras no Seridó, para fundação de uma fazenda de gados, data que foi concedida na Capitania da Paraíba, no governo de Francisco Pedro de Mendonça Gurjão.
A data de terra e a que vem transcrita no livro de João de Lira Tavares (4), sob o numero 238, de 23 de maio de 1734, nos seguintes termos:

“Tomas de Araujo Pereira, não tendo cômodos para criar seus gados, descobriu a custa de seu trabalho um riacho chamado Juazeiro que nasce por detrás da serra da Rajada, que deságua para o rio da Cauhã e faz barra na ponta da várzea do Pico, em cujo riacho e suas bandas tem terras devolutas e nunca cultivadas; terrenos em que pede três léguas de comprimento e uma de largura, pegando das testadas do sargento-mor Simão de Góis pelo rio acima, ficando o dito rio em meio da dita largura”.

Encontro referencia a um outro Araujo, 0 coronel Domingos de Araujo Pereira, pedindo terras ao governo do Rio Grande do Norte, em 1738, no Rio de Meio, riacho do Canivete, poço do Jurupari.
Desse Domingos de Araújo Pereira não descubro, porém, outros vestígios e não sei mesmo se era parente de Tomas e, no caso afirmativo, qual o grau do parentesco.
Quanto a Tomas de Araujo Pereira, sabe-se que fundou a sua fazenda de gados, a qual deu a nome de ‘São Pedro’; e na qual viveu e criou os seus filhos, em numero de 8; 4 homens e 4 mulheres. Os homens foram Tomas de Araujo Pereira (2º), João Damasceno Pereira, Cosme Soares Pereira e José de Araujo Pereira. As mulheres: Josefa, Joana, Ana e Helena. A primeira casou com Caetano Dantas Correia, Joana casou em primeiras núpcias com Gregório José Dantas Correia, em segundas núpcias com Estevão Álvares Bezerra, Ana casou com Antônio Pais de Bulhões e Helena com João Garcia.
Tomás de Araújo Pereira Filho casou com uma filha de Rodrigo de Medeiros e Apolônia Barbosa, de nome Teresa, e teve por sua vez prole numerosa: 8 filhos varões e 4 do sexo feminino, e chamaram-se Tomas de Araujo Pereira (o 3º), Rodrigo, Antônio, Manuel, Beraldo, Felipe, Alexandre, Joaquim, Luzia, Teresa, Ana e Josefa.
Dos filhos do segundo Tomás de Araújo o que mais destacada situação alcançou foi o que lhe herdou o nome, o qual exerceu, por largo espaço de tempo, prestigiosa influencia social e política na região do seu nascimento, estendendo-a mesmo, por vezes, a todo o Rio Grande do Norte.
Tomás de Araújo Pereira (o terceiro), era homem de pequena cultura, mas de grande acuidade intelectual e de rija tempera e severos costumes. Além do mais, as suas condições de família deram-lhe um grande relevo na zona em que residiu. Sobrinho afim de coronel Caetano Dantas Correia; sobrinho legítimo do capitão-mor Manuel de Medeiros Rocha; genro do coronel Antônio Garcia de Sá Barroso; filho e neto dos dois primeiros Tomás de Araújo que foram prestigiosos elementos sociais seridoenses, Tomás de Araújo estava naturalmente destinado a ser, como foi realmente, o herdeiro e depositário máximo da força e da consideração social de sua família, transmitidas através das gerações por varões do maior respeito.
Teve, ao demais, de exercer a sua atividade na época em que o Seridó começava a aparecer nos concílios governamentais do Rio Grande do Norte.
Já em 1821, antes mesmo da Independência do Brasil, seu tio Manuel de Medeiros Rocha era eleito para a Junta Provisória de Governo.
No começo de 1822 nova Junta e eleita e a ela pertenceu Tomás de Araújo, que, desde então, passou a ser no governo o representante do Seridó, ao invés de seu tio, que assim cedia o posto ao sobrinho de confiança e estimação.
Proclamada a Independência do Brasil, ao ter de escolher o homem a quem devia ser confiada a tarefa maior do governo, o Imperador não hesitou na designação de Tomás de Araújo Pereira, e fê-lo nos seguintes termos:

“Carta Imperial - 25 de novembro de 1823 - Nº 168.
Tomás de Araújo Pereira: Eu, o Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil, vos envio muito saudar. Tendo consideração aos vossos distintos merecimentos, patriotismo, dedicação a Sagrada Causa deste Império, e mais qualidades recomendáveis que concorrem na vossa pessoa e que vos constituem digno desta Minha Imperial Contemplação; Hei por bem nomear-vos Presidente para a Província do Rio Grande do Norte em virtude da Carta de lei de vinte de outubro do corrente ano, de cujo Lugar tomareis posse com as formalidades que se acham estabelecidas, a qual vos será dada pelo atual Governo Provisório, que desde então não continuara as suas sessões; recebendo dela e da Câmara da Capital as noticias que forem convenientes ao Serviço Nacional; e procedereis imediatamente a eleição do Conselho da Província na forma determinada na mesma carta de Lei; cuja fidedigna observância fareis manter para prosperidade dos povos que vos são confiados. O que me pareceu participar-vos para vossa inteligência e execução. Escrito no Palácio do Rio de Janeiro, em vinte e cinco de novembro de mil oitocentos e vinte e três, segundo da Independência, e do Império.
Imperador - João Severiano Maciel da Costa.
Para Tomas de Araujo Pereira
Cumpra-se como S. Majestade Imperial manda, e registre-se na Secretaria deste governo, na Câmara desta cidade, e na Secretaria da Junta de Fazenda Publica.
Quartel do Governo da Cidade de Natal, 5 de maio de 1824, 3º da Independência, e do Império”.

Tomás de Araújo recebeu a nomeação sem o menor entusiasmo. Protelou enquanto pode a sua posse, que só se realizou a 5 de maio de 1824, quase 6 meses após a sua nomeação, dirigindo-se imediatamente ao Imperador para solicitar-lhe demissão do cargo, alegando, são palavras suas, ponderosos motivos que o inibiam para desempenhar uma comissão de tanto melindre, e esses motivos eram, além de outros, a sua avançada idade, cegueira e enfermidade crônicas.
Em tais condições, reputava-se o menos indicado para uma tarefa de tão grandes responsabilidades, mormente tendo-se em consideração o estado de desordem em que se debatia a Província, em cuja Capital a tropa de linha sublevava-se continuamente em tumultos, ora contra o elemento português, ora sob outros fundamentos.
Por outro lado, surgiam, por essa mesma época, fermentos revolucionários que se canalizaram afinal no grande movimento cívico que se chamou a Confederação do Equador e que envolveu todas as províncias nordestinas, entre elas o Rio Grande do Norte.
Na impossibilidade de por ordem no caos que era então o Rio Grande do Norte, Tomás de Araújo demitiu-se a 8 de setembro de 1824 passando o governo a Lourenço José de Morais Navarro, Presidente da Câmara do Senado de Natal.
O sucessor de Tomás de Araújo entrou desde logo, como e comum na hora das quedas políticas, a fazer pesada carga contra o seu antecessor, acusando-o, sobretudo de crime de conivência com os elementos revolucionários, e assim de traição à causa do Império e à pessoa do Imperador.
Há hoje publicada farta documentação a respeito desse incidente da vida política potiguar, de modo que fácil será ao historiador, isento de paixões, fazer o julgamento sereno e imparcial das figuras que tiveram papel de relevo a desempenhar naquela emergência.
A defesa de Tomás de Araújo, por ele mesmo escrita em sua fazenda Mulungu, no município da Vila do Príncipe, e enviada ao Imperador em 13 de novembro de 1824, parece-me cabal e completa (5).
A sua ação, ao que se evidencia, foi toda norteada no sentido de “conservar aquela porção do Povo que S. M. lhe havia confiado, ileso de divergências políticas, e evitar a menor intriga, e guerra civil”.
O seu papel foi assim de conciliação, atitude que nunca os contemporâneos justificam, mormente nas horas de acesas e acerbas lutas políticas, em que só são compreendidos e apreciados os elementos radicais e extremados.
Para mim, Tomás de Araújo Pereira, em toda a sua vida homem de uma só palavra e de posições definidas, tendo, como ele mesmo disse, jurado espontaneamente o Projeto de Constituição, e convencido ao mundo inteiro a sua subordinação às leis e fidelidade ao seu Soberano, jamais se deixando levar da impetuosa corrente de opiniões republicanas, anárquicas e subversivas da obediência e boa ordem, em uma idade sexagenária, quando já olha a cada instante mental e para sepultura; adotando princípios diametralmente opostos de educação com que foi criado e mantido.
Ficou desse modo fiel ao Imperador e ao Poder Constituído, não tendo praticado um só ato do qual pudesse se inferir adesão à causa revolucionária, mesma que sentisse pelos que a encarnavam íntimas inclinações, perfeitamente compreensíveis, dados os laços de parentesco próximo que a prendiam a figuras da maior graduação a frente do movimento ou por ele revelando simpatias e manifestando aplausos.
Félix Antônio, o Governador revolucionário da Paraíba, era casado com uma sua prima; o coronel Antonio Bezerra de Souza Menezes, governador das armas no movimento do Ceara, era tio avó dos dois Ciprianos, um Lopes e outro Bezerra Galvão, casados com duas netas de Tomás de Araújo; o capitão-mor Manuel de Medeiros Rocha, tio de Tomás de Araújo, acolheu frei Caneca no Seridó, com as mostras da maior deferência.
Via, assim, Tomás de Araújo muitos e destacados membros de sua família inclinados para a revolução ou dela participando ativamente.
Mas nem por isso faltou à fé dos seus compromissos públicos; e a sua palavra foi sempre de condenação à causa revolucionária.
Nesse passo, Tomás de Araújo diz que não dúvida haver cometido infinitos erros par falta de luzes e do legítimo Conselho, mas só poderão ser estes erros de entendimento, e não de vontade.
O que não quis foi fazer obra de perseguição aos adversários vencidos, entendendo poder defender os direitos do Imperador, a cuja causa se consagrara por juramento publico, “sem hostilizar os seus súditos”.  
O certo e que Tomás de Araújo, não obstante a catilinaria do seu sucessor, deixara o poder sem desmerecer da confiança dos seus conterrâneos, afirmando Rocha Pombo que com ele “estaria talvez a grande maio ria da Província”(6).
Retornando ao seu retiro do Seridó, para a direção das suas fazendas e o trato dos seus rebanhos, o ex-presidente continuou a ser, a despeito do seu voluntário alheamento das coisas públicas, a autoridade social ouvida e consultada em todas as horas difíceis atravessadas pelas populações seridoenses, as quais, enquanto ele viveu, jamais deixaram de se socorrer das luzes da sua experiência, prudência, bom senso, moderação.
Viveu ainda mais de 20 anos, pois o seu falecimento ocorreu a 19 de março de 1847, na Vila, hoje cidade do Acari, sendo sepultado na Matriz de então, agora Igreja do Rosário, no dia seguinte, conforme o registro existente no livro de assentamento daquele templo católico, concebido nestes termos: “Aos vinte de maio de mil oitocentos e quarenta e sete foi sepultado nesta Matriz de grades acima o cadáver de Tomás de Araújo Pereira, falecido de indigestão na idade de oitenta e dois anos, casado que foi com Teresa de Jesus, (7) com todos os Sacramentos, envolto em habito preto e encomendado por mim, do que para constar mandei fazer este assento em que me assino. Vigário Tomás Pereira de Araújo (8)”.
 

Notas

(1) O coronel Manoel Maria do Nascimento e Silva, descendente de Tomaz de Araujo e Caetano Dantas, em trabalho genealógico que escreveu em 1909, hoje em meu poder, diz que, “morrendo Maria da Conceição, Tomaz casou segunda vez, na Paraíba, e tendo nascido um filho do segundo casamento, foi criado na Fazenda ‘Picos’, do Acari, sendo tratado pelo apelido de ‘Paraíba’. Foi pai de Manoel de Araújo e este de Miguel de Araujo, que residiu no lugar Boqueirão”.

(2) Tomaz de Araújo Pereira seria realmente português, como reza a tradição, no Seridó, ou teria nascido já no Brasil, descendendo de Amador de Araujo Pereira, que é o tronco da família em Pernambuco?
Vale a pena transcrever a noticia que a respeito de Amador refere Borges da Fonseca na ‘Nobiliarchia Pernambucana’: “Amador de Araujo Pereira é, em Pernambuco, o tronco da família do seu apelido. Dele fazem honorífica memória dos autores que escreveram a Guerra dos Holandeses, na qual foi eleito capitão-mor de Ipojuca, quando João Fernandes Vieira, em 1645, aclamou a liberdade e procedeu com tanta honra que Sua Majestade em atenção aos seus serviços o nomeou governador de São Tomé, posta que não logrou, por falecer quando estava para embarcar. Foi natural da Província do Minho, onde seus pais Pedro Gonçalves, o novo, e Felipe de Araújo Pereira, parentaram em grau muito próximo com a casa do Esquivo e com a de D. Miguel de Azevedo e de Luis de Miranda Pereira, com cujos parentes conservou sempre comunicação, como se prova das cartas que conservam descendentes. Veio a Pernambuco antes da entrada dos holandeses e casou, na freguesia de Ipojuca, com D. Maria da Costa de Lima, filha de Álvaro Gonçalves de Luna e de sua mulher Izabel da Costa, pessoas principais da mesma freguesia”. (Borges da Fonseca, vol. 19, pags. 28 e 456).

(3) Nas notas do coronel Manoel Maria do Nascimento e Silva há a afirmação de que Maria da Conceição é paraibana. Felipe Guerra, porém, diz que Cosme Soares de Brito casou-se, na Bahia, com Magdalena de Castro e que a filha do casal, de nome Maria da Conceição, e baiana, casada com o português Tomaz de Araújo Pereira; e Urbino Viana, no livro “Bandeiras e Sertanistas Baianos”, enumera entre as fazendeiros de gado anteriores a 1664, no baixo São Francisco, o capitão Cosme de Brito. Será o marido de Magdalena de Castro e sogro de Tomaz de Araujo?
Tambem nas ‘Publicações do Arquivo Nacional’, Vol. XXVII, pág. 48, aparece um Tomaz de Araujo, como tendo vendido terras a Antonio de Melo Cabral, nas imediações do rio Sergipe. Será o marido de Maria da Conceição, o patriarca seridoense? Será Tomaz de Araujo Pereira?

(4) João de Lyra Tavares. Historia Territorial da Paraíba, vol. I, pag. 145.

(5) Publicações do Arquivo Nacional, Vol. XXV, págs. 329, 330 e 331.

(6) Rocha Pombo. História do Estado do Rio Grande do Norte, pags. 303 e 304.

(7) Filha do coronel Antônio Garcia de Sá Barroso e d. Ana Lins de Vasconcelos.

(8) Neto de Tomás de Araújo, o Presidente.


FONTE: AUGUSTO, José. Seridó. 2 ed. Brasília: Senado Federal, 1980, pag. 75-80.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

FAMÍLIA DANTAS

OS DANTAS DA SERRA DO TEIXEIRA
UM POUCO DE SUA HISTÓRIA


Fábio Lafaiete Dantas

O homem não nasceu da noite para o dia. Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas. Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo que mutilá-lo.
(Carl Jung)

A presença dos Dantas na Serra do Teixeira, segundo a tradição oral, remonta ao século XVIII, quando chegaram à região quatro portugueses que logo se dispersaram: Inácio, o mais jovem regressou a Portugal, dois foram para Currais Novos, RN e Antônio que, casando-se com a bela Josefa, permaneceu no local, tornando-se dono de terras e de escravos. Em homenagem ao jovem que regressou a Portugal, o nome “Inácio” iria se repetir em algumas gerações dos descendentes de Antônio.


Segundo José Adelino Dantas (1977), dados comprovados mostram que o português José Dantas Correia (I) e sua esposa, a paraibana Isabel da Rocha Meireles, constituem as raízes dos Dantas da Serra do Teixeira. Eram eles senhores do Engenho Fragoso, localizado nas proximidades do Recife, conforme documentação disponível. Sua descendência ajudou a povoar os sertões da Paraíba e do Rio Grande do Norte, a partir de 1710. Um de seus filhos, Caetano Dantas Correia (1710-1797), constituiu a origem da família Dantas na região do Seridó. Outro filho, também de nome José, aqui referido como José Dantas Correia (II), vai constituir o tronco da família Dantas, na Paraíba.
José Dantas Correia (II) casa-se com Tereza de Góis e Vasconcelos, filha de Lourenço de Góis e Vasconcelos e de Joana de Góis e Vasconcelos. Dessa união resultou um único filho, Antônio, o futuro Alferes Antônio Dantas Correia de Góis, que seus contemporâneos chamam Capitão Anta e o pintam como homem alto e magro, de feição escultural, mas “perfeitamente desleixado abotoando o paletó sem simetria nem ordem, como se fosse o nosso Diógenes. Era major da Guarda Nacional e gostava muito de andar de espada, coisa maravilhosa naqueles bons tempos de simplicidade. Homem de grande força moral e profundo espírito de justiça, ele às vezes castigava um amigo turbulento em proveito do adversário colocando acima das conveniências do partido, a ordem e a lei” (Antônio Farias, 1914).
O Alferes Antônio Dantas Correia de Góis foi casado com Josefa Francisco de Araújo e Almeida, filha de Mariana Francisca Benedita e do português João de Araújo e Almeida, Cavaleiro da Ordem de Cristo, natural do Arcebispado de Braga. Mariana Francisca era filha de Ana Coelho Barreto, da família Gomes Coutinho. O Alferes tornou-se próspero senhor de terras e escravos. Uma de suas fazendas, no município vizinho de São José do Egito, era povoada exclusivamente por escravos e tinha o paradoxal nome de “Piedade”. Em 1795, faz com sua mulher a doação de 24.000 braças quadradas de terras ao Patrimônio da Capela de Santa Maria Madalena, da freguesia do Teixeira. Essas terras serão permutadas, oitenta e seis anos depois, em 1881, por outras melhor localizadas, por seu bisneto, Delmiro Dantas Correia de Góis, filho do Coronel da Guarda Nacional, Dr. Manoel Dantas Correia de Góis. Delmiro era então administrador do Patrimônio de Santa Maria Madalena.
Os quatro filhos do Alferes – Antônio, Lourenço, José e Inácio – tiveram, como o pai, o sobrenome “Góis” acrescido ao “Dantas Correia”. Era também um tributo à avó, Tereza de Góis e Vasconcelos. Antônio Dantas Correia de Góis (Júnior) ordenou-se padre, foi vigário em Teixeira e depois em Patos, nos anos de 1828 a 1852. São suas as primeiras assinaturas do Livro número 1 de batizados da freguesia do Teixeira, de 1843. Era considerado “homem de idéias, um pouco caprichoso, mas pacífico”. Padre Antônio prestou bons serviços à paz e ao progresso da Vila. Faleceu em Patos, em 1852, mas seu corpo foi sepultado na Capela de Teixeira.
O segundo filho do Alferes Antônio Dantas Correia de Góis, Inácio Dantas Correia de Góis, não constituiu família. Morreu no ano de 1860.
Lourenço Dantas Correia de Góis e José Dantas Correia de Góis casaram-se com as  filhas do Capitão Manoel Pereira Monteiro, de Serra Negra do Norte e de Dona Tereza Maria da Conceição. Lourenço e Senhorinha Francisca dos Passos tiveram catorze filhos; José e Maria Isabel dos Passos, Bilinha, geraram quatro filhos. Os filhos dos dois casais manterão o sobrenome “Dantas Correia de Góis”, sem nenhuma referência a “Pereira Monteiro”, mas o segundo  filho de José adota “Monteiro” na composição de seu nome: Antônio Dantas de Góis Monteiro.
Austero e religioso, José vivia da agricultura e da pecuária. “Jamais aceitou cargo público, era alheio completamente ao movimento social”.De seu casamento com Bilinha, houve quatro filhos:

1.      Manoel, Coronel Dr. Manoel Dantas Correia de Góis (1827-1910), casado com Jacinta Augusta Duarte Dantas, filha de Bernardo Duarte, fazendeiro na Paraíba e no Ceará. Jacinta faleceu prematuramente, em 1878. O casal teve catorze filhos. Manoel tendo enviuvado, dedicou-se inteiramente à política, sendo eleito várias vezes deputado e torna-se, pela sua popularidade e grande prestígio, a personalidade mais proeminente da linhagem dos Dantas do Teixeira. Em 1880, foi eleito deputado provincial e presidente da Assembléia. Tal como seu tio Lourenço, Manoel pertenceu ao Partido Liberal. Em 1885 foi eleito deputado geral; em 1888, voltou à Assembléia provincial e em junho de 1889, assume, interinamente, a presidência da Província da Paraíba. Fez parte da Constituinte estadual de 1892, sendo reeleito deputado estadual em 1896, 1900 e 1904. Em agosto de 1889 é a vez de seu oitavo filho, Dr. Franklin Dantas Correia de Góis, ser eleito deputado geral, também pelo Partido Liberal. No Rio de Janeiro, Franklin presenciará, em novembro, o golpe militar no Campo de Santana, a queda do Império e a fundação da Primeira República.
2.      Capitão Antônio Dantas de Góis Monteiro, casado em primeiras núpcias com Rita de Cássia Pessoa de Mello e em segundas com Idalina Dantas da Fonseca Neves, teve oito filhos dos dois matrimônios.
3.      Benigna Dantas da Silveira, casada com o primo, filho de Lourenço, Ilídio Dantas Correia de Góis (1834-  ?). Ilídio casou-se a segunda vez com Justina Eugênia Ferreira Dantas. Do primeiro casamento houve onze filhos e do segundo, sete.
4.      Casusa, o Alferes José Dantas Correia de Góis Júnior ( ?  – 1876), casado com Maria Senhorinha dos Passos Dantas, Maroca (1844-1926), filha de Lourenço. O casal teve oito filhos. Uma tragédia aconteceu na família: ocupando a função de delegado, em 1876, Casusa foi incumbido de prender, no município de Santa Luzia do Sabugi, o ex-chefe do Partido Conservador e ex-Delegado de Teixeira, Liberato de Carvalho Nóbrega, que devia contas à justiça e estava  homiziado na própria fazenda. Ao chegar aí, o caçula de José foi mortalmente atingido pela pontaria do bacamarte de Liberato.
José Dantas Correia de Góis, acabrunhado e entristecido com o assassinato do filho, falece meses depois, em 1877, nove anos depois de seu irmão Lourenço Dantas Correia de Góis, Casusa deixou viúva, sua prima Maroca, de apenas trinta e dois anos de idade e oito filhos menores:
a)     Belisário Dantas Correia de Góis, o mais velho, com catorze anos;
b)     Josefina Maria dos Passos Dantas, com treze;
c)     Epaminondas Dantas Correia de Góis, com onze;
d)    Liberalina dos Passos Dantas, com sete;
e)     Orlando Dantas Correia de Góis, com cinco;
f)      Maria dos Anjos dos Passos Dantas, com quatro;
g)     Lourenço Dantas de Góis Monteiro, com três e
h)    Josefa dos Passos Dantas (Tia Sinhá), com um aninho de idade.
O sétimo filho de Casusa, Lourenço Dantas de Góis Monteiro (1873-1927) será o pai, dentre outros, do poeta João Dantas Monteiro (1910-1964) e do empresário Arlindo Dantas Monteiro (1918-1980). Este último, a razão de ser do Museu Arlindo Dantas Monteiro.

As terras do Amparo e o Casarão do Jabre

Ao patriarca Lourenço Dantas Correia de Góis pertenceram as terras do Deserto e do Amparo, e outras propriedades adquiridas por compra e por herança de seus pais, o Alferes Antônio Dantas Correia de Góis e Josefa Francisco de Araújo e Almeida.
            Lourenço residiu em Teixeira, na Capital Paraíba e em Patos, onde era advogado e também suplente de juiz municipal. Em 1840, foi eleito deputado provincial pelo Partido Liberal. Como outros de sua época, era admirador da Guarda Nacional, onde ocupou o posto de  Tenente-Coronel (a Guarda Nacional foi criada em 1831, substituindo as antigas Milícias e Ordenanças e tinha como missão defender a Constituição, a Independência do Brasil e a integridade do Império). Nos vários papéis que desempenhou, era sempre tido como “inteligente e ilustrado; pacífico e ordeiro”. Faleceu no ano de 1868.
            Atribui-se a Lourenço a construção, com mão-de-obra escrava, do Açude do Amparo, do engenho e da casa residencial, de frente para o Açude. Essa casa – edificada em data ainda incerta, possivelmente entre os anos de 1820 e 1835 – possui hoje um nome oficial, que é “Casarão do Jabre”. Está situada a pouco mais de 2 km a oeste de Maturéia e a 1,5 km do sopé do Pico do Jabre, ponto culminante da Serra da Borborema. A imponência do Casarão, as enormes dimensões dos tijolos, das telhas, do madeirame e dos espaços, a qualidade superior do material empregado, tudo leva a crer que seu construtor foi um homem bem posicionado economicamente, a exemplo do Dr. Lourenço Dantas Correia de Góis.
Dos filhos de Lourenço e Senhorinha Francisca, apenas dois deles – Ilídio e Felinto – usufruíram da beleza da ambiência da casa, do engenho e do açude. Depois vieram os sobrinhos, Alfredo Dantas Correia de Góis e sua mulher, Benigna dos Passos Dantas. Os filhos do casal Alfredo e Benigna – José Alfredo Dantas, Esmerina dos Passos Dantas, Severina Benigna Dantas, Francisca de Assis Dantas e Adelina dos Passos Dantas – foram criados nesta casa e, como seus antepassados, puderam desfrutar do clima ameno e das belezas do Amparo, até os anos de 1920. Com o falecimento de Alfredo Dantas Correia de Góis, em 1922, o Amparo sofre o infortúnio do mal uso de seus recursos naturais, sendo até descaracterizado em suas dimensões originais, resultado da inoportuna venda de suas melhores terras. A feição original do Casarão, no entanto, manteve-se íntegra, ao contrário do Casarão do Deserto, construído por ancestral de Lourenço, possivelmente pelo primeiro Dantas que chegou à Serra do Teixeira, José Dantas Correia. É deplorável o fato de que a mais antiga moradia dos Dantas do Teixeira tenha sido demolida iconoclasticamente no final do século XX.
O Casarão do Jabre foi habitado, até início dos anos setenta, por José Dantas Correia de Góis, neto de Casusa, e sua mulher, a legendária Biliu, Severina Dantas de Araújo, bisneta de Lourenço. Nesta paisagem magnífica, tendo o Pico do Jabre como fundo, o açude à frente, o Casarão era sempre bem conservado. Ali valorizavam as palmeiras, as belíssimas árvores e os jardins floridos que cultivam com esmero. Ali, reverenciaram a memória de Joel, o filho de sete anos de idade falecido em 1943.
O Casarão do Jabre sedia o recém-criado (1998) Museu Arlindo Dantas Monteiro. A iniciativa de sua fundação e a escolha do nome deu-se, em boa hora, por inspiração da esposa e do filho de Arlindo, Josefa Rodrigues Monteiro, Zelice e Heráclio Dantas Rodrigues.
             Prosseguirá o Museu Arlindo Dantas Monteiro na sua missão de resgatar a história dessa pequena parte do Brasil. Muito há para revelar sobre a presença dos Dantas na Serra do Teixeira Muito mais, entretanto, resta estudar sobre os indígenas, seus primeiros habitantes e sobre os afro-descendentes que ajudaram a construir o passado e o presente de Teixeira, Maturéia, Imaculada, Mãe D’água e adjacências.
            O Museu Arlindo Dantas Monteiro, hoje, revela o passado, com vistas ao futuro!
                                                                                                                                          (Recife, 2002)

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