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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

AMÉRICO FALCÃO

Domingos de Azevedo Ribeiro


“Eu creio na Tristeza e na Saudade...
Suas lindas imagens que bendigo,
Como creio no Amor na Verdade,
Que eternamente hão de viver comigo”.

É
 comum dizer-se que a Paraíba é fértil de valores intelectuais. O escritor e polígrafo Osias Gomes assim afirma cotidianamente, com aquela visão harmoniosa de seu espírito, a refletir nuanças in­terpretativas do nosso passado cultural e enriquecê-las de novas emoções.
Na poesia, em particular, a singularidade criadora de Américo Falcão resiste às mutações sociais e devera ser apreciada pelos ho­mens do nosso tempo e gerações porvindouras.
Para ele o mundo era todo aurora, embora fosse um romeiro que chorasse embriagado pelas cantilenas doridas dos amores in­compreendidos. Sua poesia não veio de fora - é o reflexo da corres­pondência de interiorização.
Cultor da fantasia estética, procurou também a vida, através da associação humana. Um coração que chorava em versos, uma alma torturada pelo fogo das paixões, onde se aflora e abriga os peitos angustiados.

Américo Falcão

Seus versos estão cheios de luar, de amor, de silêncio, de co­res, de estrelas, de alma, de Deus. Talvez encontrou no ensinamento de Goethe a suprema ventura "se tua dor te aflige, faze dela um poema" .
Passava dias e noites, manhãs e madrugadas a contemplar a formosura da Praia de Lucena, por que a insônia foi sua companhei­ra inseparável.
Na sensibilidade particular, que registra todas as variações imaginativas e simbólicas de que nutre a verdadeira poesia, reflexo da sua visão íntima de realidade, encontrou expressão imensa na vasta produção poética.
Sua obra é um misto de alegria e tristeza, que espelha o poeta que ele foi, falando de si e dos seus.
O escrever nele era um instinto e não um ato consciente de inteligência, um instinto que revelava a verdadeira vocação da vida, desejoso de esclarecer sofrida significação oculta.
A quadra que compôs e que todo o Brasil canta, tem um profundo sentimento e projeta o autor à consagração nacional.
"Não há tristeza no mundo
Que se compare à tristeza
Dos olhos de um moribondo
Fitando uma vela acesa".
Um poeta que simboliza mensagem íntima, amor e sonho, sem perder a visão telúrica que o circundava.
Uma poesia bastante sensível às nuanças musicais da frase, ri­ca nos efeitos, com suas imagens e comparações. Um homem de Deus, apegado às raízes do misticismo, na beleza e serenidade do julgamento. O ritmo da palavra encadeada com espontaneidade e en­canto, valoriza seus versos, através dos efeitos psicológicos que ele bem soube extrair.
Seu filho Leomax Falcão, guarda na lembrança passagens inéditas da vida do poeta, que muitas vezes nas suas quadras emprega a sátira, que adverte e corrige, arrasa e constrói.
Américo Augusto de Souza Falcão, nasceu na Praia de Lucena - PB, a 11 de fevereiro de 1880.                                                                                                     
Descendia de Mariano de Souza Falcão e Deolinda Zeferina de Carvalho Falcão. Nas suas peregrinações à terra de José de Alencar, faz publicar o seu primeiro livro - Auras Paraibanas, prefaciado por Álvaro Martins e Fernando Heyne. Regressando à gleba, ingressou, mais tarde, na Faculdade de Direito do Recife, onde se bacharelou.
De volta a Paraíba, exerceu indiscutível influência nos nossos meios intelectuais. Ainda, publicou: ‘Rosas de Alençon’ e ‘Soluços de Rea­lejos’. Colaborou em vários jornais e revistas que se editavam nessa capital, inclusive na Era Nova. Foi Diretor da Biblioteca Pública do Estado, onde conseguiu com o brilho de sua 4tteligência uma fase áurea à nossa casa de consulta. Poeta por vocação e índole, faleceu em João Pessoa a 19 de abril de 1942.
Que todos os poetas do mundo se abracem num elo unitico, formando uma roda sem barreiras de climas contrários, sem distân­cias opostas, porque a poesia não desintegra, mas une, anima a força do espírito, e todos assim confraternizados, se considerem irmãos.


Publicado inicialmente n‘O Norte, João Pessoa-PB, edição de sexta-feira, 1º de fevereiro de 1980 e reproduzindo em ‘Crônicas do Cotidiano’ (João Pessoa, 1993).

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