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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA

TESTAMENTO

Padre Cícero Romão Batista

E
m nome de Deus, amém. Eu, padre Cícero Romão Batista, achando-me adoentado, mas sem gravidade, e em meu perfeito juízo, e na incerteza do dia da minha morte, tornei a resolução  de fazer o meu testamento e as minhas últimas disposições, para o fim de dispor dos meus bens, segundo me permitem as leis do meu País. E como, devido ao meu atual incômodo, não posso levar muito tempo apurado em escrever este longo documento, nem quero fazer um testamento público, mas sim um testamento cerrado, de acordo com o artigo nº 1638 e seus parágrafos do Código Civil Brasileiro, pedi ao meu amigo Luís Teófilo Machado, segundo tabelião de notas desta comarca, que por mim escrevesse este meu testamento, em minha presença, e por mim ditado, reservando-me para assiná-lo com o meu próprio punho.
Declaro que sou filho legítimo dos falecidos Joaquim Romão Batista e dona Joaquina Vicência Romana e nasci na cidade do Crato, neste Estado do Ceará, no dia 24 de março de 1844. Como profissão adotei o Ministério Sacerdotal, de acordo com as ordens que me foram conferidas pelo então bispo do Ceará, D. Luís Antônio dos Santos, de saudosa memória, exercendo-o, conforme a minha vocação, com amor, dedicação e boa vontade, e desejando assim continuar enquanto o bom Deus, pela sua divina misericórdia, me conceder forças e consciência dos meus atos.
Declaro que desde a minha ordenação, mesmo durante o pouco tempo que fui vigário da Paróquia de São Pedro do Crato, nunca percebi um real sequer pelos atos religiosos que tenho praticado como sacerdote católico. Declaro ainda que todos os dinheiros que me foram e continuam a ser dados, como ofertas a mim unicamente, os tenho distribuído em atos de caridade, que estão no conhecimento de todos, bem como em grandes e vantajosas obras de agricultura, cujo resultado tenho aplicado em bens, que ora deixo, na mor parte, para a benemérita e santa congregação dos Salesianos, a fim de que ela funde aqui, no Juazeiro, os seus colégios de educação para crianças de ambos os sexos. Desde muito cedo, quando comecei a ser auxiliado com esmolas, pelos romeiros de Nossa Senhora das Dores, que aqui chegavam, a par do auxílio eficaz por mim feito para o desenvolvimento desta terra, resolvi aplicar parte das mesmas esmolas recebidas em propriedades, visando assim fazer um patrimônio para ajudar uma instituição pia e de caridade que pudesse aqui continuar a sua obra benfazeja. E porque, dentre todas as existentes, nenhuma se me afigurava mais benemérita de ação mais eficaz e de caridade mais acentuada do que as dos bons e santos discípulos de Dom Bosco, os beneméritos salesianos, a eles deixarei quase tudo que possuo, conforme adiante declaro. E rogo a esses bons e verdadeiros servos de Deus, os padres salesianos, que me façam esta grande caridade, instituindo nesta terra uma obra completa. Estou certo, não só porque conheço a índole deste povo aqui domiciliado, assim como das populações sertanejas que aqui freqüentam e que por meio dos bons conselhos tenho educado na prática do bem e do amor a Deus, e mais ainda, porque o pedido que faço, estou certo, repito, que todos os romeiros aqui domiciliados ou de pontos distantes, como prova de estima e amizade a mim e em louvor e honra à Virgem Mãe de Deus, continuarão a freqüentar este meu amado Juazeiro com a mesma assiduidade, e auxiliarão aos beneméritos padres salesianos, como se fossem a mim próprio, para manutenção aqui da sua obra de caridade cristã, isto é, dos seus colégios nesta terra para todo o sempre, será a maior tranqüilidade para minha alma na outra vida, Declaro, outrossim, que os dinheiros que tenho recebido para celebrar missas, conforme a intenção das pessoas que mo têm dado, os tenho distribuído com o maior critério, por intermédio dos padres e vigários desta e de outras dioceses e de algumas instituições religiosas do País e do estrangeiro.
Devo acrescentar que os dinheiros que me têm sido entregues para eu aplicar como entendesse e quisesse, na intenção, louvor e honra de Nossa Senhora das Dores, sem nenhuma outra contradição, do mesmo modo os tenho aplicado com muita consciência em atos de caridade, em auxílios a obras e instituições pias e em bens que ora deixo, conforme vai adiante declarado, para Nossa Senhora das Dores, padroeira desta matriz, e para a Santa Congregação dos Salesianos. Particularizo, desta maneira, a aplicação à minha vontade, das importâncias em dinheiro, recebidas para distribuir na intenção de N. Sra. das Dores. Nunca me apoderei delas, ao contrário, ordenei sempre que fossem recolhidas aos respectivos cofres da igreja matriz, os quais estiveram sempre sob a guarda dos vigários da paróquia. Devo ainda declarar, por ser para mim uma grande honra e um dos muitos efeitos da Graça Divina sobre mim, que, em virtude de um voto por mim feito, aos doze anos de idade, pela leitura nesse tempo que eu fiz na vida imaculada de São Francisco de Sales, conservei a minha virgindade e a minha castidade até hoje. Afirmo que nunca fiz mal a ninguém, nem a ninguém votei ódio nem rancor e que sempre perdoei, por amor de Deus e da Santíssima Virgem, a todos que me fizeram mal consciente e inconscientemente. Preciso ainda elucidar um assunto ao qual meu nome por  circunstâncias especiais se acha ligado, porém no qual minha ação, aliás pacífica, conciliadora e sempre ao lado do bem, tem sido injustamente deturpada pelos que se deixaram dominar pelas paixões do momento ou não souberam interpretá-la. Nunca desejei ser político; mas em 1911, quando elevado o Juazeiro, então povoado, à categoria de Vila, para atender aos insistentes pedidos do então presidente do Estado, o meu saudoso amigo Comendador Antônio Pinto Nogueira Accioly, e ao mesmo tempo evitar que outro cidadão, por não saber ou não poder manter o equilíbrio de ordem até esse tempo por mim mantido, comprometer-se a boa marcha dessa terra, vi-me forçado a colaborar na política. Apesar das bruscas mutações da política cearense, sempre procurei conservar-me em atitude discreta, sem apaixonamentos, evitando sempre as incompatibilidades que pudessem determinar choques de efeitos desastrosos. Para isso conseguir, muitas vezes tive de me expor ao conceito de homens sem idéias bem definidas. Após a queda do governo Accioly, por motivo de ordem moral, retraí-me da política, mantendo, entretanto, relações de cordialidade com o governo Franco Rebêlo, sendo até eleito 3o vice-presidente do Estado. E o meu amor à ordem foi tão manifesto que, a despeito da má vontade do partido dominante para comigo, não hesitei em atender o pedido da população desta terra e autorizar que o meu nome fosse apresentado para voltar ao cargo de prefeito do município, naquele mesmo governo que me era sobremaneira hostil. Quando em novembro de 1913, o meu amigo dr. Floro Bartolomeu da Costa, atual deputado federal por este Estado, o diretor político desta terra, de volta do Rio de Janeiro, me informou que os chefes do partido decaído haviam resolvido reunir a Assembléia Estadual aqui, por ser impossível a reunião em Fortaleza, em virtude da pressão exercida pelo partido governante, e dar-lhe a direção do movimento reacionário, com a maior lealdade ponderei em carta reservada ao coronel Franco Rebêlo sobre a vantagem de sua renúncia, E assim procedi, porque, sem de nada mais grave propriamente saber (a não ser da reunião da Assembléia), percebi, pelos precedentes da violência do governo, a possibilidade de uma luta. Não sendo, porém, atendido pelo então presidente coronel Franco Rebêlo, e não podendo este evitar que à sombra do seu nome fossem cometidos atos de desatino, entre os quais bárbaros assassinatos e espancamentos, considerei finda a minha árdua tarefa, afastando-me do campo de ação política, deixando ao mesmo tempo que o dr. Floro agisse segundo as ordens recebidas, já que não me era possível poupar esta população laboriosa da triste condição de vítima indefesa.
E no período mais agudo da luta, cujo curso de gravidade foi para mim uma surpresa, podem garantir os que a testemunharam aqui, que a minha atitude era lastimar as desastrosas conseqüências dos erros políticos.
Jamais deixei de ser no sentido de evitar violências. De maneira que posso afirmar, sem nenhum peso de consciência, que não fiz revolução, nela não tomei parte, nem para ela concorri, nem tive nem tenho a menor parcela de responsabilidade direta ou indiretamente nos fatos ocorridos. Eleito no biênio do governo Benjamim Barroso, primeiro vice-presidente do Estado, apesar deste rompido politicamente com o dr. Floro Bartolomeu, sempre com ele mantive a maior cordialidade. Não tenho culpa é que, por um despeito malentendido e de ordem política, houvesse e ainda exista quem me queira tornar por ela responsável. Estou certo de que quando se fizer, sem paixão, a verdadeira luz, sobre estes fatos, meu nome realçará limpo como sempre foi. Faço estas declarações neste momento, para que os que me sobreviverem fiquem cientes (porque perante Deus tenho a minha consciência tranqüila) que neste mundo, durante toda minha vida, quer como homem, quer como sacerdote, nunca, graças a Deus, cometi um ato de desonestidade seja sobre que ponto de vista se possa ou queira encarar, nem nunca cometi, nem alimentei embuste de espécie alguma. Aproveito o ensejo para pedir a todos os moradores desta terra, o Juazeiro, muito especialmente aos romeiros, que depois da minha morte não se retirem daqui nem o abandonem, que continuem domiciliados aqui, no Juazeiro, venerando e amando sempre a Santíssima Virgem Mãe de Deus, único remédio de todas as nossas aflições, auxiliando a manutenção do seu culto e de todas as instituições religiosas que aqui se fundem, e com especial menção a dos beneméritos padres salesianos que serão os meus continuadores nas obras de caridade que aqui iniciei. Insistindo, peço, como sempre aconselhei, que sejam bons e honestos, trabalhadores e crentes, amigos uns dos outros, obedientes e respeitadores às leis e às autoridades civis e da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, no seio da qual tão-somente poderá haver felicidade e salvação. Torno extensivo este meu pedido também a todos os meus amigos, pessoas de outros estados e dioceses, romeiros também da Santíssima Virgem Mãe de Deus, isto é, que continuem a visitar o Juazeiro, em romaria à Santíssima Virgem, como sempre o fizeram, auxiliando a manutenção do seu culto e das instituições religiosas que aqui forem criadas, e com especial menção, repito, a dos beneméritos padres salesianos, que serão aqui no Juazeiro os meus continuadores na obra de caridade que empreendi; e que sempre sejam bons e honestos, trabalhadores e crentes, amigos uns dos outros e obedientes e respeitadores às leis e às autoridades civis e da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, no seio da qual tão-somente poderemos encontrar felicidade e salvação. Estes conselhos, que sempre dei em minha vida, não me canso de repeti-los aqui, para que, depois de minha morte, bem gravados fiquem na lembrança deste povo, cuja felicidade e salvação sempre foram objetos da minha maior preocupação.
Não tenho ascendentes vivos nem tampouco descendentes, e assim julgo poder dispor de meus bens, que livres e desembaraçados se acham, de acordo com as leis do meu País e do modo por que desejo e como se segue e o faço na plenitude de minhas faculdades e da mais livre e espontânea vontade:
– Primeira – Deixo para a Ordem dos Padres Salesianos todas as terras que possuo nos sítios Logradouro, Salgadinho, Moxila, Carás, Pão Seco, que pertenceu ao velho Antônio Félix, neste município; o sítio Conceição, na Serra do Araripe, município do Crato, onde reside o empregado Casimiro; os terrenos que possuo na Serra do Araripe e mais o sítio Brejinho, ao sopé da mesma Serra do Araripe, no município do mesmo nome; os prédios e a capela em construção na Serra do Horto, e todas as suas benfeitorias; o prédio onde funciona o Açougue Público, desta cidade, sito à Avenida dr. Floro, antiga Rua Nova; os prédios contíguos à residência da religiosa Joana Tertulina de Jesus, conhecida por Beata Mocinha, onde também resido atualmente, sitos à Rua São José; o sítio Faustino, sito no município de Crato; o sítio Paul, também no município do Crato, porém depois do falecimento da antiga proprietária, D. Hermelinda Correia de Macedo, que ainda nele reside, salvo se antes de sua morte, de acordo com os padres salesianos, ficar morando em outro lugar; o sítio Baixa Danta, no município do Crato; as fazendas Letras, Caldeirão e Monte Alto, no município de Cabrobó, no Estado de Pernambuco, com todas as benfeitorias e gados nela existentes; o quarteirão de prédios sito à Rua S. Pedro, os quais comprei ao dr. Floro Bartolomeu da Costa, nesta cidade, inclusive o prédio em construção na mesma rua, contíguo à casa de morada e de negócio do meu amigo Damião Pereira da Silva; a Fazenda Juiz, sita no município de Aurora, que comprei aos frades do Convento de S. Bento, de Quixadá; o prédio onde funciona o orfanato Jesus, Maria e José; o terreno contíguo a este mesmo prédio; o prédio em construção, junto à casa da Beata Mocinha, onde resido, à mesma Rua S. José; o sítio Fernandes, no município do Crato; o sítio Periperi, no sopé da Serra de São Pedro do município do mesmo nome, porém depois da morte de sua então proprietária, D. Maria Souto, salvo se esta, de acordo com os padres salesianos, quiser morar em outro lugar; os sítios Santa Rosa e Taboca no município do Crato; o sítio Rangel, sito no município de Santana, que comprei a D. Joana de Araújo, e todas as propriedades com todas as suas benfeitorias igualmente a estas por mim citadas que possuo ou venha a possuir e que não constam deste testamento, bem como todos os gados que possuo por toda a parte que não pertençam a outras pessoas ou herdeiros estabelecidos nas cláusulas deste testamento que ora faço, repito, deixo para os beneméritos padres salesianos. Suplico aos mesmos padres que terminem a construção da capela do Horto. Devo dizer, para evitar conceitos inverídicos e suspeitos, em torno do meu nome, que comecei a construí-Ia para cumprir um voto que eu e os meus falecidos colegas e amigos, os padres Manuel Félix de Moura, Francisco Rodrigues Monteiro e Antônio Fernandes Távora, então vigário do Crato, fizemos. Esse voto fizemos quando, apavorados com os resultados da seca de 1889, receamos, aliás com razão justificada, que o ano de 1890 fosse também seco – com o povo desta terra, ao Santíssimo Coração de Jesus. E como essa obra não pude terminar, muito a contragosto, é verdade, tão-somente para não desobedecer às ordens proibitórias do meu diocesano, o então bispo do Ceará, D. Joaquim José Vieira, peço aos beneméritos padres salesianos que concluam esse templo de acordo com a planta que trouxe de Roma e a miniatura em folha-de-flandres que deixo em lugar bem seguro.
Deixo mais para os padres salesianos a imagem em vulto grande do Senhor Morto, que me veio de Lisboa.
– Segunda – Deixo para a Santíssima Virgem Mãe das Dores desta Matriz de Juazeiro os seguintes bens: o sítio Porteiras, onde mora o meu encarregado José Inácio Cordeiro; o sobrado onde Manuel Sabino tem a loja de santos, à Rua Padre Cícero; o prédio onde funciona a Cadeia Pública desta cidade, sita à Avenida dr. Floro, bem como os demais que se seguem contiguamente à mesma rua e na Rua Padre Cícero; o prédio onde mora Dona Rosa Esmeraldo, bem como os prédios contíguos, que foi o oratório do Senhor Morto, e o que reside a beata Soledade e mais ainda o terreno murado a este contíguo; o prédio onde morou a beata Isabel da Luz; o prédio onde funcionaram as redações d’O Rebate e da Gazeta do Juazeiro, todos à Rua Padre Cícero, e os cômodos situados no consistório da matriz, onde funciona o colégio do dr. Diniz, e mais ainda o sítio Palmeira, no município de Ceará-Mirim, Estado do Rio Grande do Norte, com vinte braças de largura, sem plantio mas com água permanente, cujo meu encarregado é Pedro Vasconcelos; o sítio Petitinga, do município de Touros do Rio Grande do Norte, com vinte braças de largura, com água permanente e cerca de 230 coqueiros; o sítio Saco, do mesmo município de Touros, com cento e vinte braças de largura, água permanente, e com cerca de dois mil pés de coco, entre velhos e novos, também no Rio Grande do Norte, e dos quais é meu encarregado Alexandre Maurício de Macedo. Declaro mais que esses bens que deixo para Nossa Senhora das Dores, padroeira desta matriz, não poderão ser vendidos ou alienados sob que pretexto for. E, no caso de quem quer que seja encarregado da direção do patrimônio de Nossa Senhora das Dores entender de vendê-los ou aliená-los, passarão todos esses bens a pertencer à Congregação dos Salesianos.
– Terceira – Deixo para Maria de Jesus (vulgo Babá), para Teresa Maria de Jesus (vulgo Teresinha do Padre), para a beata Jerônima Bezerra (vulgo Geluca) e para Maria Eudóxia da Assunção, o prédio onde residiu e faleceu minha saudosa irmã Angélica Vicência Romana, sito à Rua Padre Cícero, para nele residirem, sendo que, por morte da última sobrevivente, passará o dito prédio a pertencer à Congregação dos Salesianos. Entretanto poderão estas minhas herdeiras durante a vida passar o referido prédio aos padres salesianos, caso entendam e queiram ou entrem em acordo em trocar com os mesmos padres, este mesmo prédio por outro onde possam morar, contanto que, por morte da última sobrevivente, fique o mesmo prédio trocado para os padres salesianos.
– Quarta – Deixo para Nossa Senhora do Perpétuo Socorro daqui do Juazeiro, cuja capela está construída no cemitério desta cidade, os seguintes bens: o sítio Porteiras, que pertenceu ao velho Raimundo Pinto, sito neste município, à estrada do Crato, e uma importância em dinheiro conforme vai declarado mais adiante. Devo declarar que esta capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que por proibição do meu superior ainda não foi benta para ser entregue ao culto dos fiéis, fiz construir no cemitério público desta cidade, para cumprir um voto feito pela virtuosa e falecida Hermínia Marques de Gouveia, quando eu estive à morte de uma moléstia muito grave. Nessa capela fiz sepultar o seu corpo, como última recompensa do seu grande esforço, e bem assim os corpos das boas servas de Deus, Maria Joaquina, Maria de Araújo, minha boa mãe Joaquina Vicência Romana e minha querida irmã Angélica Vicência Romana. E desejo e peço que não sejam dali retirados os seus restos mortais e suplico mais que nesta mesma capela seja sepultado para sempre o meu corpo.
– Quinta – Deixo para o meu amigo e compadre Conde Adolfo Van Den Brule, e seus legítimos herdeiros, o sítio Veados, deste Município.
– Sétima – Deixo de botar a Sexta declaração porque quem a copiou do original esqueceu-se de transcrever esta cláusula (Jeová). Deixo para a capelinha de Nossa Senhora do Rosário, no antigo cemitério desta cidade, sita à Avenida dr. Floro, antiga Rua Nova, o sítio S. José, que pertenceu a Gonçalo e sua mulher D. Ana Rodrigues.
– Oitava – Deixo para as duas filhas do meu primo Francisco Belmiro Maia, a casa onde residem nesta cidade, à Rua Padre Cícero, e o sítio Carité, neste município, os quais bens, por morte da última, passarão a pertencer à Congregação dos Salesianos.
– Nona – Deixo para o meu amigo José Inácio Cordeiro, pelos bons serviços que me tem prestado, o sítio Arraial do município de Missão Velha.
– Décima – Deixo para a Casa de Caridade do Crato o sobrado onde residiu José Joaquim Teles de Marrocos, sito à Rua Grande, da cidade do Crato, e a pequena casa encravada nos fundos do mesmo sobrado, à Rua da Laranjeira, na mesma cidade.
– Décima primeira – Deixo a minha propriedade Fazenda Coxá, encravada nos municípios de Aurora e Milagres, e compreendidos na mesma área os sítios Coxá, propriamente dito, Contendas, Escondido, Taveira e Bandeira, com todas as benfeitorias e com todos os meus direitos nas minas de cobre que ditas terras possam conter, bem como o sítio Lameiro, no município de Missão Velha, para que sejam vendidos e, com a importância adquirida pela venda dessas mesmas propriedades, sejam pagas as dívidas que eu possa deixar quando morrer, as despesas do meu enterramento e os sufrágios de minha alma. E o que sobrar dessa mesma importância seja entregue a Maria das Malvas, a Maria de Jesus (vulgo Babá), a Teresa Maria de Jesus (vulgo Teresinha do Padre), a beata Jerônima (vulgo Geluca), Maria Eudóxia da Assunção e a cada uma das filhas do meu primo Francisco Belmiro Maia, quinhentos mil réis para cada uma, e o que sobrar seja entregue à Congregação Salesiana que aqui se fundar, para os seus respectivos padres celebrarem missas por minha alma e na intenção de Nossa Senhora das Dores e das almas do Purgatório.
– Décima segunda – Deixo ainda para Maria das Malvas, Maria de Jesus (vulgo Babá), Teresinha do Padre, beata Geluca e Maria Eudóxia da Assunção o sítio Barro Branco, neste município, para desfrutarem enquanto viverem, o qual, por morte da última sobrevivente, passará a pertencer aos Salesianos.
– Décima terceira – Desejo ser sepultado, conforme já disse no começo deste testamento, na capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no cemitério desta cidade, e que os meus funerais sejam feitos com simplicidade, bem como que sejam rezadas pelo eterno repouso de minha alma doze missas em cada ano, durante cinco anos, igualmente o mesmo número de missas, durante o mesmo tempo, para as almas do Purgatório.
– Décima quarta – Deixo mais todos os bens que deixaram de ser citados neste testamento e os que possa adquirir depois desta ocasião, até o meu falecimento, repito, bens móveis, imóveis e semoventes, à Congregação dos Padres Salesianos.
– Décima Quinta – Nomeio meus testamenteiros os meus amigos dr. Floro Bartolomeu da Costa, atualmente deputado federal por este Estado, o conde Adolfo Van Den Brule e o coronel Antônio Luís Alves Pequeno, servindo um no impedimento do outro na ordem em que se acham colocados. Os meus referidos testamenteiros terão a posse e administração da herança na ordem em que se sucederem e, bem assim, perceberão, respeitada a mesma ordem, dez por cento (10%) em dinheiro sobre toda a herança, líquida compensação dos trabalhos testamentários. E por tal modo e forma concluo este meu testamento que em meu perfeito juízo e de minha livre e espontânea vontade, sem constrangimento nem tampouco induzido por quem quer que fosse, ditei ao meu amigo Luís Teófilo Machado, segundo tabelião desta comarca, e assino com o meu próprio punho, de acordo com o Código Civil Brasileiro em vigor, e peço à justiça de meu País que o cumpra e mande cumpri-lo tão inteira e fielmente como nele se contém, declarando mais ficar por este testamento revogado outro qualquer testamento que porventura existir. E por modo tal concluo e termino este meu testamento. Declaro em tempo que, por uma resolução por mim tomada neste momento antes de assinar este testamento, ficam sem vigor os legados que faço dos sítios Veados e Santo Antônio, deste município, cuja doação a quem desejo fazer as realizarei por escritura pública, bem como não ficarei inibido de vender os bens que deixo reservados na cláusula décima primeira, antes de morrer, para satisfação de quaisquer compromissos. Juazeiro, 4 de outubro de 1923. (4/10/23, repetidos mais quatro vezes sobre uma estampilha federal de 20$000 e quatro outras estaduais no valor de 3$300). – Padre Cícero Romão Batista.

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Saibam quantos este instrumento de auto de aprovação de testamento virem, que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, de mil novecentos e vinte e três (1923), aos quatro dias do mês de outubro, nesta cidade do Juazeiro, Estado do Ceará, em casa de residência do reverendíssimo padre Cícero Romão Batista, onde eu, tabelião vim, e sendo ele ali presente que reconheço pelo próprio, que se acha de pé, em seu perfeito juízo e entendimento, segundo o meu parecer e das testemunhas que presentes estavam e positivamente foram convocadas perante as quais por ele testador das suas mãos às minhas foi dado este papel fechado e cosido, dizendo-me que era seu testamento, que eu mesmo a seu rogo e ditado por ele lho fizera, que queria que lhe aprovasse; o qual papel eu aceitei e achei com efeito ser o testamento do súdito reverendíssimo padre Cícero Romão Batista, escrito em vinte e uma laudas de onze folhas de papel e não achado em todo, borrão, risco ou entrelinha, nem coisa que dúvida faça, lhe perguntei se aquele efetivamente era o seu testamento e queria que eu o aprovasse, na presença das testemunhas abaixo assinadas, a que respondeu que este era o seu testamento e última vontade; que tinha por bom, firme e valioso; que por ele revogava outro qualquer; que rogava à justiça da República lhe desse cumprimento de justiça; que era seu desejo ficasse fechado, cosido e lacrado e que não fosse aberto senão depois do seu falecimento; e por não ter coisa que dúvida fizesse, rubriquei as vinte e uma laudas de papel em que se acha escrito o testamento com o meu apelido de L. Machado e lhe aprovei e houve por aprovado na forma da lei, com todas as solenidades de direito, e ficará fechado, cosido e lacrado com sete pingos de lacre, sendo quatro por fora e três no centro. E para constar fiz este auto de aprovação que assina ele testador, do que dou fé, sendo testemunhas presentes João Leodegário da Silva, natural do Estado de Pernambuco, negociante; Irineu Olímpio de Oliveira, natural da Bahia, agrimensor; Abílio Gomes de Sá, natural do Estado de Pernambuco, negociante; e José Furtado Landim, natural deste Estado, escrivão da Coletoria Estadual neste município e comarca. Todos residentes nesta cidade, que reconhecem ser dito testador o próprio, de que dou fé, e assinarão depois de lhes ser lido por mim tabelião, este auto de aprovação. E eu Luís Teófilo Machado, segundo tabelião o escrevi e assino em público e raso. Em testemunho (o sinal) da Verdade. O 2º tabelião Luís Teófilo Machado. – Padre Cícero Romão Batista, João Leodegário de Sá, Irineu Olímpio de Oliveira, Abílio de Sá, Francisco José de Andrade, José Furtado Landim. (Estava colocada e legalmente inutilizada uma estampilha estadual de trezentos réis). Juazeiro, 28 de julho de 1934. Está conforme ao original, donde foi copiado fielmente. Ressalvo os borrões. Dou fé. – Antônio Machado, 2º tabelião público interino.

FONTE: LOURENÇO FILHO, Manoel Bergström. Juazeiro do Padre Cícero (obra premiada pela Academia Brasileira de Letras em 1927). 4. ed. aum. Brasília: MEC/Inep, 2002, pág. 154-160.

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