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quarta-feira, 30 de março de 2011

DOM FERNANDO GOMES DOS SANTOS

ANTOLOGIA POÉTICA - II

DOM FERNANDO GOMES DOS SANTOS


O HOMEM


O homem, em mistério vive imerso.
O que há dentro dele, ninguém sabe.

Em qualquer um de nós, cabe o universo,
Entretanto, em si mesmo ninguém cabe!

Mesmo assim, em sentido bem diverso,
Muito embora o mistério não se acabe,

O homem é cantado em prosa e verso,
Por privilégios ter de que se gabe!

Senhor do cosmo, deve concertar,
Na mais sublime sinfonia do bem,

Tudo o que existe, o céu, a terra, o mar.
Realizando a vocação amor,

As coisas cabem nele... Ele, porém,
Cabe somente em Deus, seu Cria­dor!...


A FÉ


Que lindo contemplar daquele monte
O conjunto dos seres reunidos!
Distante, além, nos longes do horizonte,
Céu e terra parecem-nos unidos.

Bem diferente é ver daqui da ponte
A confusão dos seres desunidos...
Mesmo as águas que vêem da mesma fonte
Se dispersam nos campos ressequidos.

Neste contraste está grande mistério
Do Deus que ao Homem deu, sobre o Universo,
Toda força e poder e todo império.

Na fé, portanto, está sua vocação:
Ou tudo realiza, ou, ao inverso,
Se destrói, corrompendo a Criação!

Roma, 20 de fevereiro de 1930.


UMA PÁTRIA SOMENTE


Pedaço do mundo, grandioso, gigante,
Outrora era pátria de fortes guerreiros.
Seus filhos valentes, com peito ofegante,
De lutas viveram, quais tigres ligeiros.

Suas almas sedentas de amor e verdade
Buscavam seus deuses no sol e no mar.
Sem fé, sem estudo, sem rumo na vida,
Entravam na luta, por seu bem-estar.

Com ânsia incontida de vida melhor,
Errantes andavam os índios pagãos.
Lutando, sofrendo, por glória maior,
Nas guerras teimavam irmãos contra ir­mãos.

Talvez fosse impulso de povos famintos,
Buscando alimento nas coisas da terra.
Talvez fosse empenho por vida feliz
Buscando justiça nos feitos de guerra.

E Deus, lá de cima, com grande ternura,
À terra esquecida decreta levar
Amor e verdade, consolo e ventura,
Aos homens a quem deseja salvar.

Cristóvão Colombo, rumando outros mares,
Ao mundo apresenta outro mundo mais novo,
Mais rico, mais fértil, mais belo também,
A pátria gigante, tesouro de um povo.
Das lutas havidas de uns contra os outros,
O tempo vingou-se, tomou-se inclemente.
Criaram fronteiras, quebraram a unida­de...
Desfez-se em pedaços a terra da gente!

Então alguns filhos, rompendo distân­cias,
Afeitos à luta, vencendo pressões,
De novo re-ligam, com laços mais fortes,
Os pontos que unem as nossas nações!
O livro, o trabalho, são armas que temos,
Os arcos, as flechas, não temos mais não.
No estudo e na prece, unidos vivemos,
As lutas, as glórias, são outras... não são?!

Lar de nossos lares, nosso Pio Latino
Abriga os países de um só Continente.
Apóstolos nós somos de pátrias diver­sas,
Unidas em Cristo, nu' a Pátria somente!


Recitado no refeitório de Montenero, no ‘Dia das Nações’.
Montenero, 17 de setembro de 1931


ANGÚSTIA E PRECE


Não suporto o pesar de pensar nele.
Os seus olhos cegaram,
E mais nada ele vê.
Ele zomba de tudo
Ou então fica mudo.
Em mais nada ele crê.

Estou cansado de esperar por ele.
Um ruído que ouço,
Um zumbido que soa,
Uma sombra de alguém,
Tudo é barulho à toa...
Não é ele que vem.

Jesus, eu quero muito a ele,
E mais ainda à tua Igreja.
Consente que ele tenha
A visão do abismo
Faze que ele veja,
Faze que ele venha!

Ouve, Senhor, por ele, a minha prece.
É um bispo que chora
Por teu Padre, Senhor.
É teu povo, lá fora,
Tua Igreja que implora
Um milagre do Amor!
Penedo, 13 de junho de 1948.


CONFIANÇA




Senhor!
Tu me deste
Bons Auxiliares.
Falta-me, entretanto
O que mais desejo:

Merecer de todos eles,
Não o respeito cauteloso,
Mas confiança generosa.

Talvez a provação que me fere
Seja providência amorosa,
De teu coração de Amigo.

Não queres que pereça
Na cegueira,
Na vaidade tola,
Dos que confiam em si.

Senhor, que eu compreenda:
A culpa não é deles
Sou eu quem não confia
Plenamente em ti...

Por isso me procuro,
Quando devia procurar-te...
Com humildade,
Com amor.

Enfim, quem sou eu?
Nada sou, nada posso,
Sem ti, meu Senhor!
Aracajú, 12 de abril de 1953


ISOLAMENTO E PRECE


Um a um,
Eles estão saindo.
Estou ficando
Com alguns que não saem...
E com os poucos que são fiéis.

Serei eu a causa?
Talvez seja o pretexto
Para a fugida
Dos insatisfeitos...
Eles não encontram,
Em parte alguma,
O que falta a si mesmos.

O que mais me aflige
Não é tanto a saída,
Mas a marcha,
A penosa caminhada
Dos que não encontram lugar.

Senhor!
Não te peço que eles voltem
Nem que os outros fiquem.
Peço-te que os sigas,
Que lhes mostres o caminho,
Até que te encontrem.

Peço-te que me dês
Mais amor
Para cumprir,
Com fidelidade,
Com eles ou sem eles,
Mas sempre contigo, A tua vontade.

Aracaju, 20 de outubro de 1953.


SÓ ISSO!


Aquela rocha,
Aquele penhasco,
Aquela coisa dura no meio do mar...

Os homens consideram
Símbolo da firmeza
Da segurança,
Da força.

Aquela pedra parece
A imagem do Poder...
Do poder petrificado,
Do poder que não pode...

Pode somente
Desafiar os ventos,
Irritar as ondas
Que se deixaram atrair
Pela grandeza da pedra
Ou pela inveja da pedra.

Se aquela pedra vivesse?
E sentisse
a sua solidão!

Aquela pedra sou eu,
No meio dos ventos e das ondas,
Vendo os homens passarem:

Aqueles a quem ajudei,
Aqueles por quem sofri,
Os que me deviam ajudar...
Todos fogem de mim
Para que eu seja somente
Uma pedra,
No meio do mar...
Só isso!
Ó Jesus,
Tu és como a pedra,
Tu és a Pedra!

Na tua solidão,
Sentes também
O martírio de estar só.
Os homens se afastaram de ti
Te desprezaram,
Traíram,
Negaram.

Mesmo assim
Quisestes salvar-nos
Pela terrível lei do Amor...
Na pobreza,
Na renúncia,
Na Esperança...

Que seria do edifício,
Da casa,
Do mundo,
Sem a fidelidade da pedra?

Que seria da cidade dos homens,
Da tua própria Igreja
De todos, de tudo,
Sem Ti
Que és a Pedra?

Senhor,
Que eu te compreenda,
E seja fiel.
Tira-me tudo.
Se quiseres.
Mas deixa-me contigo.
Isso me basta,
Só isso!

Agosto de 1954.

A PEDRA



No caminho havia uma pedra.
Era a pedra do meu caminho.

Pensei em retirar a pedra do caminho,
Mas o caminho ficaria sem pedra...
- Como é vazio um caminho sem pedra!

Preferi ficar com a pedra
E perdi o caminho.

Minha vida parou
Petrificou-se...
Vida sem caminho,
Vida de pedra

Resolvi deixar a pedra
E atirei-a lá fora
Ficou, então, apenas o deserto
Sem pedra e sem caminho!

Em desespero, busquei no deserto
O caminho que perdera,
A pedra que deixara...

Depois, muito depois,
Encontrei a Pedra, a outra,
Sentada no deserto
Esperando por mim.

E a Pedra me disse:
Eu sou o Caminho,
Eu sou a Pedra.

Desde então esta Pedra
Não foi mais pedra no meu caminho.
Ficou sendo

Minha Pedra
Meu Caminho
Minha Vida.
Goiânia, 2 de setembro de 1960.

VOZES DO SINO


As vozes do sino
São gritos de bronze
Pedindo silêncio.
São pancadas de ferro
Batendo nas almas
Com açoites de fé.

As vozes do sino
Acordam, convidam...
São vozes eternas
Que ficam zunindo, chamando o infinito,
Sem nada dizer.

As vozes do sino
Penetram os espaços
Do mundo das almas...
E ficam lá dentro Fazendo silêncio
Para uni-las a Deus.

Aracaju, 8 de abril de 1956


CHEGANDO AO FIM


A vida me sorriu, em tempos idos...
Alegre trabalhei, sempre venci.
Com vigor e com ânimo incontidos,
Por Cristo, o bom combate combati.

Cidades e cidades percorri,
Levando a Boa Nova aos mais sofri­dos.
- Passou, porém, tempo que vivi
Devotado aos ofícios mais queridos.

Ao clarão d'uma Igreja renovada,
Um mundo novo vem surgindo agora
Dos restos d'uma idade ultrapassada.

É triste alguém sentir que chega ao fim
Depois da noite, vendo a luz da aurora...
Será, meu Deus, que morrerei assim?


Na Chácara Nossa Senhora da Guia, madrugada de 18 de abril de 1968.

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