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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O AMANHECER DA REPÚBLICA NO
RIO GRANDE DO NORTE

Raimundo Nonato

O ano de 1889 foi de escasso inverno, motivo por que a República (o regime) instalou-se no Estado do Rio Grande do Norte, no fim de uma quadra de dura estiagem, de crise, de fome e privações.
E num contraste tão comum com as coisas do Norte (naquele tempo ainda não aflorara o modismo geográfico conhecido por Nordeste), se a seca vinha devastando a região como uma calamidade, por outro lado, era verdejante a planície ideológica, clareada pelo entusiasmo da nova ordem política que, de tanto tempo, vinha sendo pregada pelos seus violentos corifeus. Era o velho sonho dos idealistas de vigorosas campanhas da palavra e da imprensa que se concretizava como um evangelho cívico de homem do porte de Silva Jardim, de Lopes Trovão, de Benjamin Constant, ardorosos propugnadores de uma causa, de uma forma de governo nascida da vontade da representação do povo, desde que a monarquia vinha se desgastando lentamente, sofrendo golpes, dos quais evidentemente, o maior, fora o da abolição, e, a bem dizer, já não contava mais com a simpatia das multidões das ruas.
A substituição do Governo pela linha da hereditariedade não somava, em seu favor, o apoio integral da consciência do Povo brasileiro, apesar do profundo respeito com que todos ainda viam a figura magnífica do Velho Monarca, um Imperador Moderado e Magnânimo, amigo da cultura, das artes e das letras e, acima de tudo, dotado de um eloquente espírito de humanitarismo e de extremado amor ao Brasil.
Para o povo o que preocupava, com a ascensão de D. Isabel ao trono, era, praticamente, a presença de um estrangeiro (de origem) nos negócios da política nacional, que era o seu esposo, o Conde D'eu.
O prestígio pessoal de D Pedro era, no entanto, arraigado no espírito popular, que, de fato só conhecia o velho monarca, alcançando os mais distantes pontos dos sertões, dos sítios, das fazendas.
A esse respeito conta Câmara Cascudo um fato curioso que dá prova dessa simpatia coletiva:
"Em Catolé do Rocha PB, um matuto que obedecia ao comando do Coronel Valdevino Lobo, Coronel da Guarda Nacional e chefe político de indiscutível poder naquela redondeza, ouvindo, num dia de feira, contar que D. Pedro fora deposto e tivera de embarcar, à noite, debaixo de chuva, como se fosse um criminoso, explodia na sua revolta:
"Mas, como foi que seu Comandante Valdevino Lobo consentiu numa coisa dessa?" Mesmo assim, assegura o historiador da Cidade do Natal:
No Rio Grande do Norte, depois de 17 de novembro de 1889, não existia um político que fosse monarquista".
Em Natal a notícia foi a mais lacónica, mas bastante para instalar o novo regime.
No Rio de Janeiro, José Leão Ferreira Souto, "que fora companheiro de chapa de Pedro Velho, salvou o Partido Republicano Norte-rio-grandense, usando do seu prestígio pessoal. Obteve do Ministro Aristides da Silveira Lobo, que respondia pelo Ministério dos Negócios do Interior, um telegrama mandando Pedro Velho assumir o governo". LCC., com esta redação:
- Pedro Velho - Assuma o Governo e Proclame a República - ass) Aristides Lobo.
Estava, deste modo, instalado o Governo Republicano na Província do Rio Grande do Norte que, logo mais, passaria à categoria de Estado.
O acontecimento, só aparentemente, fora surpresa, pois na Cidade do Natal já circulava um jornal, porta-voz desse ideal, "A República", fundado por Pedro Velho, a 1° de julho de 1889.
E no interior, como foi contada a história?
Em Mossoró, a cidade-padrão desse espírito de rebeldia nativa (já em 1824, durante uma noite, uns grupos percorreram as ruas do vilarejo de Santa Luzia dando vivas à República!) a notícia deve ter chegado mais cedo, pois Mossoró tinha a estação do telégrafo inaugurada desde 21 de agosto de 1879.
Por sinal que, tendo falado no começo deste comentário em ano seco, como fora o de 1889, fique registrado que, em Mossoró, no dia 15 de novembro desse ano apareceram sinais de inverno com trovões e algum aguaceiro no dia 16.
Mas, o que interessa consignar é o fato de ordem política, estando registrado, que na sessão de 5 de dezembro de 1889 a Câmara Municipal de Mossoró tomou conhecimento da Proclamação da República, rato anotado por Vingt-Un Rosado, Câmara Cascudo, Raimundo Nonato e Lauro da Escóssia.
E ainda mais, a referida Câmara Municipal, por sinal a última do Império, foi dissolvida pelo Decreto Estadual n° 9, de 18-1-1890 (idem-idem).
À época era seu Presidente o comerciante Manuel Cirilo dos Santos e vice- Presidente Silvio Policiano de Miranda. Eram Vereadores: Astério de Souza Pinto, Targino Nogueira de Lucena, Alexandre Salviano dos Reis, António Sabino do Couto, Francisco Alves de Oliveira, João Camelo de Oliveira e Francisco Lopes de Oliveira.
O Primeiro Conselho da Intendência Municipal de Mossoró, criado pelo Governo Estadual (triênio 1890-1892), tinha como Presidente o Ten. Cel. Manuel Benício de Melo, dele fazendo parte o Dr. Francisco Pinheiro de Almeida Castro, António Ferreira Borges, Miguel Faustino do Monte e Francisco Gurgel de Oliveira.
Ao tomar conhecimento de que a República fora instalada no País, a Câmara Municipal de Mossoró telegrafa ao Chefe do Governo Provisório, saudando-o e externando seu voto de sincera adesão ao sublime governo ou soberano (o grifo é do comentarista) e a mim mesmo... na frase do imortal (cujo nome, infelizmente, não aparece no registro).
Ademais, ainda merece dizer-se da história de outro feto curioso da vitalidade do ideal republicano do povo mossoroense, e que é citado pelo historiador Câmara Cascudo, segundo o qual, de informação colhida do Deputado Augusto Leopoldo, em sessão do Congresso Legislativo ao Estado, o Deputado Almeida Castro, representante de Mossoró, teria pronunciado um discurso fazendo uma profissão de fé republicana.
Pelo inusitado do fato a Ata não fez o registro do discurso de Dr. Castro. O que foi uma pena.
Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Vols. LXXXI-LXXXII-LXXXIII, Anos 1989-1990-1991, Natal-RN, págs. 55-57.

Um comentário:

  1. Abordagem interessante! Sabia que Irineu Jóffily assistiu pessoalmente a queda do Império e o surgimento da República? Estou preparando um material para o site de Campina.
    Se possível, lembre-se de enviar-me o material das Sesmarias. Muito obrigado!

    Att.

    Rau Ferreira
    Blog HE

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