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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

DOM HELDER CÂMARA

PALAVRAS DE VIDA


Seleção: José Ozildo dos Santos


A culminância da audácia e humildade do Criador foi atingida, quando ele escolheu, dentre as criaturas, a criatura humana, para fazer do homem um co-criador, encarregado de ajudar a Natureza a atingir o máximo de suas virtualidades, e de completar a criação...

A diferença que há entre o fariseu e o santo é, sobretudo esta: o fariseu é largo consigo e estreito com os outros; quer obrigar todo mundo a ir para o céu à força. O santo só é exigente consigo; com os pecadores, é largo como a bondade divina, sem limites como a misericórdia do Pai.

A expressão dominar a Natureza tem sido muito explorada por nós. Não se trata de pisar a Natureza, de poluí-la, devastá-la, dilapidá-la. Seria muito mais reger a Natureza, preparando-a para a Comunicação Universal.

A grande verdade libertadora é a morte e ressurreição de Jesus Cristo, filho de Deus, que se fez nosso Irmão e nosso Salvador.

A guerra é apresentada como instrumento de paz social, como incentivadora do progresso técnico, como criadora de empregos e do bem-estar para muitos.

A guerra foi sempre absurda e sem sentido. Por que concluir que tem razão quem vence, quem domina, quem esmaga? Acontece que as guerras se tornam sempre mais covardes e mortíferas. Bombas comandadas eletronicamente à distância atingem, com precisão matemática e de modo arrasador, os alvos prefixados: depósitos de armas, fontes de energia, mas também populações civis, desarmadas, só para difundir o pânico e forçar a derrota. Sabe-se que com as armas químicas e bacteriológicas (biológicas) e com as armas nucleares o homem tem nas mãos poder para fazer desaparecer a vida da face da Terra.

A Igreja não quer dominar a marcha dos acontecimentos. Quer servir aos homens, ajudando-os em sua libertação.

A Igreja não se marginaliza da história. Ela vive no coração da história por meio de seus leigos livres, adultos e responsáveis.

A liberdade é um dom divino a salvar a qualquer preço. Vamos libertar, no alto e profundo sentido da palavra, todas as criaturas humanas que vivem em torno de nós.

A melhor maneira de combater o erro é libertar as parcelas de verdade prisioneiras dentro dele.

A miséria é revoltante ou aviltante: fere a imagem de Deus, que é cada homem; viola o direito e o dever do ser humano ao aperfeiçoamento integral.

A miséria precisa ser incorporada, por nós, às guerras, como sendo a mais hipócrita, a mais traiçoeira e a mais mortífera de todas elas.

A mulher procura descobrir as qualidades especificamente femininas que ela recebeu de Deus. Quando o homem pensa que só o homem pensa, coitado dele. Quando o homem pensa que não tem nada a ganhar com a colaboração feminina, ele está muito enganado. Ele nunca experimentou ter, ao lado de sua cabeça de economista, de sociólogo, de filósofo, sei lá de quê, o ângulo de visão feminino, que o completa. Não foi por acaso que Deus criou o homem e a mulher: ambos se completam.

A não-violência ativa é humilde, nada espetacular, é demorada, mas é o único caminho verdadeiramente libertador.

A necessidade de ter a consciência em paz leva os países ricos a numerosas explicações quanto à distância sempre maior, entre países pobres e países ricos.

A partir do momento em que ficou provado que a guerra nuclear e a guerra bioquímica podem liquidar a vida na face da Terra, criaturas inteligentes deveriam abandonar, para sempre, o apelo à guerra.

A paz com Deus é o fundamento último da paz interior e da paz social.

A paz é, finalmente, fruto do amor, expressão de uma real fraternidade entre os homens.

A paz não se encontra, ela se constrói. O cristão é um artesão da paz.

A pobreza pode e às vezes deve ser um dom generosamente aceito ou até espontaneamente oferecido ao Pai.

A raiz profunda anticomunicação – para além da diversidade de línguas e de culturas, é o egoísmo.

A solidariedade humana não pode ser realizada senão em Cristo, que dá a paz que o mundo não pode dar.

A visão cristã do homem ensina que Cristo, sem deixar de ser o Filho de Deus, se fez Homem, é o Homem-Deus, Salvador e Irmão dos Homens.

Aceleremos, sem perda de tempo, como obra cristã e de evangelização, o esforço do desenvolvimento.

Alegar que o povo é analfabeto é partir do equívoco de que é incapaz de pensar, de julgar, de discernir quem não sabe ler, nem escrever.

Ao invés de querer reformar os outros, tratemos, em primeiro lugar e com seriedade, da nossa própria conversão.

Ao invés de termos que nos contentar com a informação vaga de que o Universo nasceu de uma explosão – sem possibilidade de ir mais longe –, aceitamos, tranqüilamente, a existência de um Criador, um Ser Supremo, de Infinita Sabedoria, de Poder Infinito e de Infinita Bondade...

Ao invés de termos visão limitada, de quem se contenta com o que vê da própria janela, aprendemos com o horizonte a alargar, o mais possível, a visão...
Aqueles que se podem aprofundar na ciência estão, cada vez mais, decididos a colocar a serviço dos grandes problemas humanos os estudos, as pesquisas, que conseguem realizar.

Arrancar esse homem e jogá-lo para as surpresas da cidade é um crime contra Deus e contra a criatura humana.

Até hoje a não-violência não mudou efetivamente estruturas de opressão. Mas acontece o mesmo com a violência. Se os oprimidos se tornam opressores, mesmo com a alegação de que será situação provisória, a opressão não acabou – continua e até se agrava...

Até quando os homens não crerão no homem? Até quando não levaremos a sério que o homem participa do Poder Criador e tem a missão de dominar a Natureza e completar a Criação?

Até quando, deixaremos de optar pela clara possibilidade de assegurar a abolição da miséria na Terra inteira, como ponto decisivo de partida para uma autêntica promoção humana, para ficar assistindo a uma corrida armamentista que, sem segredo para ninguém, pode levar à liquidação da vida na face da Terra?...

Como só a verdade nos libertará, nós, cristãos, devemos ter a coragem de confessar que se todas as religiões – e, inclusive, o humanismo ateu – têm razão de sobra para andarem humilhadas, ante o insucesso de nossa missão humanizadora, o triste recorde de humilhação cabe ao Cristianismo.

Crede na força do espírito! Não fomos criados para destruir, mas para construir. O amor vencerá o egoísmo. As guerras, de tão absurdas e anti-humanas, acabarão, antes de acabar com a humanidade. Basta de impérios! Basta de opressores e de oprimidos. Vamos unir as minorias sedentas de paz autêntica, em torno da multinacional de justiça e liberdade.

Creio em um Criador e Pai, que quis o homem como co-Criador e lhe deu inteligência e imaginação criadora para dominar o Universo e completar a Criação.

Cuidado com escapatórias conscientes ou não, como a da explosão demográfica. Alguns, com a melhor das intenções, partem de um mau real, como o crescimento vertiginoso da população em certas áreas, e acabam, praticamente, reduzindo a este item a responsabilidade do subdesenvolvimento e da miséria.

Cuidado com os que aderem, com entusiasmo, à inadiabilidade da total descolonização política do mundo, sem a coragem de reconhecer, aberta e claramente, que sem independência econômica quase nada significa a mera independência política...

De que adiantam maravilhas como os computadores eletrônicos, os telex, as naves espaciais, se todas as descobertas estão a serviço da anticomunicação, enquanto o homem dança na cratera de vulcões, brincando de preparar, sempre mais, o suicídio universal, a supressão total de vida humana em nosso Planeta!?...

Delírio? Utopia? O impossível dos impossíveis se tornou realidade: o Filho de Deus se encarnou, se fez Homem, se fez nosso Irmão.

Desenvolvimento autêntico não pode ser trabalho de um grupo ou de uma classe!

Deus é Pai e não abandona o homem, mesmo quando ele se deixa levar pelo egoísmo e injustiças terríveis. Deus é amor e se o ódio tivesse a última palavra seria o fracasso de Deus.

Deus fez a inteligência voltada para a verdade. Quando a inteligência adere ao erro é seduzida pela alma de verdade que existe dentro de todo erro.

Deus não nos fez apenas Pastores de almas, e, sim, de criaturas humanas, com alma e corpo.

Deus permita que o símbolo de minha vida seja a vela que se queima, que se gasta, que se consome, enquanto há cera a queimar.

Diálogo supõe respeito mútuo e um mínimo de confiança e boa-vontade.

Diante dos nossos olhos pasmos, o homem desagrega o átomo, joga estrelas no céu, prepara-se para os primeiros desembarques nos astros em cavalgada.

É claro que se todos temos o mesmo Pai, somos e devemos ser irmãs e irmãos uns dos outros. Irmãs e irmãos de sangue, porque Cristo derramou todo o seu sangue por todas as criaturas humanas, sem exceção alguma. Nós somos e devemos ser irmãs e irmãos de sangue uns dos outros, porque o mesmo sangue que Cristo derramou por mim, derramou por todos nós.

É Cristo ou não é Cristo que nossos olhos descobrem vivo, nos irmãos despejados de suas terras, de suas casas, varridos para sempre mais longe? Cristo se fez nosso irmão para ensinar-nos que Deus, acima de tudo, quer ser Pai, mas Pai de todos, e não Pai de um pequeno grupo privilegiado, e Padrasto de mais de 2/3 da humanidade?

É curioso como há pessoas e países que, mesmo oficialmente abolida a escravidão e reconhecida a independência política de povos do 3º Mundo, mantêm complexos de dominação.

É grave diante de Deus e diante da história negar-se à reconstrução do mundo.

É necessário ter bem claro diante da inteligência, do coração e dos olhos que uma ampla e total comunicação humana é condição indispensável para a Comunicação Universal.

É preciso conquistar pelo amor o direito difícil de dar. Igualmente, é preciso conquistar pelo amor o direito dificílimo de dizer a verdade.

É preciso que o Cristianismo nos inspire a mística de servir, de tal modo que na medida em que nos desenvolvamos não nos tornemos egoístas e prepotentes.

É um absurdo chamar de desenvolvimento o mero crescimento econômico de grupos privilegiados, com esmagamento de milhares e até milhões de concidadãos, mantidos na miséria e na fome, mantidos em condições subumanas.

É um erro pensar que desenvolvimento é responsabilidade apenas de técnicos ou administradores. Desenvolvimento concerne à totalidade dos valores humanos e, portanto, requer a mobilização de todas as energias humanas.

É uma graça divina descobrir os sinais dos tempos, estar à altura dos acontecimentos, corresponder de cheio aos planos de Deus.

É verdade ou não que dentro de todos os países – de todas as raças, de todas as religiões e de todos os grupos humanos – há minorias que, com a maior sinceridade e até com sacrifícios, se for preciso, desejam ajudar a construir um mundo mais respirável, mais justo, mais humano?

É verdade ou não que, hoje, o homem, capaz de liquidar a miséria da Terra, continua preferindo fabricar armas nucleares, químicas e biológicas, em quantidade várias vezes superior à carga necessária para liquidar a vida em nosso planeta?...

É verdade que a fé ajuda a fraqueza humana a atingir altos níveis de perfeição. Isto nem de longe quer dizer que o ateu é um limitado intelectual e moral. Muitas vezes, o chamado ateu, ou quem se considera ateu, reage à nossa maneira estreita, limitada, não raro deformada de crer... Na medida em que ele possui sede de Infinito, de Absoluto, de Verdade, pode estar muito mais perto de Deus do que nós, os crentes, se nossa religiosidade é simplesmente externa, de exibição, farisaica...

Engana-se quem pensa que quem não sabe ler, nem escrever, não sabe pensar... O povo tem o que aprender, mas tem muito o que ensinar: o que lhe falta em aprendizagem com livros e professores,

Engana-se quem pensar que gente humilde e simples não é capaz de pensar e de apresentar sugestões válidas. Até quem não sabe ler, nem escrever, é capaz de pensar, não raro com bom senso e perspicácia, capazes de causar inveja a muito técnico...

Fala-se tanto em desenvolvimento. Multiplicam-se reuniões, conferências, congressos sobre desenvolvimento, mas a impressão dolorosa é que a opressão no mundo só faz aumentar. O mais terrível é que, não raro, o que é feito em nome do desenvolvimento, serve de cobertura para esmagamentos ainda maiores.

Há meios pobres de atingir a opinião pública e de atuar, de cheio, sobre a imprensa escrita e falada. Há meios pobres de sensibilizar as pessoas de boa vontade, que são muito mais numerosas do que se imagina!... Há milhares e milhares de pessoas, cansadas de ver como se manipula a consciência humana...

Há misérias gritantes diante das quais não temos o direito de ficar indiferentes.

Hoje e em todas as partes da Terra, o homem é ameaçado, sofre violência, é condenado à morte ainda antes de nascer, a maior parte dos nossos irmãos sofre fome, miséria e injustiça.

Hoje os oprimidos aprendem que só com oprimidos se podem aliar de maneira válida.

Hoje, é comum encontrar uma ponta de fatalismo em nossa gente que acha natural que uns nasçam ricos e outros nasçam pobres, pois é preciso aceitar a vontade de Deus Nosso Senhor...

Hoje, procuramos denunciar as injustiças, a violência e encorajar as massas no seu esforço de promoção humana.

Jamais o homem esteve exercendo tão plenamente a ordem recebida de Deus, de dominar a natureza e completar a Criação. Para isto, como sabemos, Deus faz o homem participar da natureza divina e de seu poder criador. E não há domínios privativos de Deus. Quanto mais longe o homem conseguir avançar, mais glória estará dando ao Senhor e Pai!...

Longe de nós o absurdo de perder a esperança, de entrar em pânico, esquecidos de que, apesar de confiada à nossa fraqueza humana, a Igreja é e será sempre do Cristo.

Mais de 2/3 da humanidade vivem em condição subumana, de miséria e de fome, e a parte restante enfrenta o risco de cair em situação desumana, pelo excesso de conforto e de luxo... Nosso querido Brasil é um triste resumo deste quadro terrível.

Minha porta e meu coração estarão abertos a todos, absolutamente a todos. Cristo morreu por todos os homens: a ninguém devo excluir do diálogo fraterno.

Na medida em que a violência se espalha pelo mundo inteiro e o ódio, além de envenenar cabeças e corações, provoca desastres terríveis, feliz de quem não guarda, dentro de si, a menor gota de travo, e adota, como programa de vida, a prece de São Francisco de Assis.

Não adianta lembrar que a fé em um Criador e Pai em nada tem ajudado, ao longo dos séculos, a fraternidade entre aqueles que crêem serem irmãos, porque filhos do mesmo Pai...

Não falta quem pense que, se os países pobres usassem a cabeça, superassem a preguiça e conseguissem ser honestos, venceriam a miséria e seriam ricos também...

Não há país nenhum no mundo que não tenha suas áreas-problemas, suas zonas subdesenvolvidas e a presença, a seu modo, da pobreza, da miséria.

Não há sub-homens nas áreas subumanas, como não há super-homens nas áreas ricas.

Não me cansarei de dizer que me parece sopro de Deus encontrar em toda parte – dentro dos países ricos e dentro dos países pobres, dentro de todas as raças, e de todas as religiões –, grupos que não aceitam o mundo que aí está e como está; não admitem que se marche, sem reação, para o extermínio da vida humana, ou através de guerras que podem, facilmente, varrer a vida da face da terra, ou através do exaurimento das matérias-primas através de uma sociedade do desperdício...

Não me canso de admirar, jovens comunicadoras que traduzem aos surdos-mudos cada palavra que vou dizendo, não raro eu mesmo falando mais com os gestos do que com as palavras...

Não podemos prescindir da colaboração dos jovens na luta pelo desenvolvimento. Ai da causa que não tem em seu favor a juventude. Vamos propiciar aos jovens de hoje a glória de que se revestiram os jovens abolicionistas de ontem.

Não tenhamos medo das idéias certas, mesmo que andem muito exploradas: desenvolvimento supõe despertar de consciência, despertar de sentido público, despertar de cultura, autopromoção, planificação técnica...

Não tenho a pretensão de trazer no bolso soluções para os grandes problemas com que se enfrenta o mundo de hoje. Mas se não tenho soluções feitas, tenho a alegria de acenar para pistas que me parecem mais do que vagos acenos de esperança.

Não vacilo em dizer que a violência número um é a miséria. A miséria mata mais do que as guerras mais sangrentas. Hoje, o número de pessoas, no mundo inteiro, que morrem a cada ano de fome é uma coisa incrível.

Nós criaturas humanas – homem e mulher – fomos criados para despertar e reger a Sinfonia Universal, a comunicação entre todos os seres criados e o Criador... Fomos preparados de duas grandes maneiras principais para tão estonteante missão: somos síntese dos mundos existentes, somos irmãos das pedras, dos minerais, ocupamos lugar no espaço, temos peso, sofremos a lei de atração. Somos irmãos dos vegetais. Como as plantas, nascemos, respiramos, nos alimentamos, crescemos e morremos. Quem já não passou dias apenas vegetando?... Somos irmãos dos animais. Quem já não sentiu o animal irromper dentro de si, quem já não teve a impressão de ser arrastado pelas esporas? Temos notas especificamente humanas, a exemplo de nossa maneira única de sorrir, entreabrindo, inteligentemente, os lábios...

Nós sabemos que a sociedade de consumo, quando fabrica os seus produtos, ela tem de pensar, sobretudo, em duas qualidades: a primeira é que o produto seja irresistível e a outra condição é que sejam frágeis. Quanto mais frágil é o produto mais representa o espírito da sociedade de consumo.

Nos tempos modernos, raras revoluções têm a responsabilidade da Revolução Francesa.

Nossa gente ainda hoje não se incomoda de não ter casa ou de viver em mocambos, indignos da criatura humana, mas quer ver esplendor na Casa de Deus!

Nosso amor à vida é tão instintivo que a criatura que se mata, estava louca de sofrimento e de desespero. Deus há de ter compaixão dos suicidas.

Nunca será demais lembrar a profundeza e a extensão do egoísmo humano. Em nível mundial, há, entre outras, duas estatísticas que merecem estar sempre diante de nossa consciência...

Nunca será demais recordar como o Criador, partindo para criar fora de Si Mesmo, manifestou audácia e humildade, estonteantes para nós.

O amor é a alma da justiça. O cristão que trabalha pela justiça social deve cultivar sempre a paz e o amor em seu coração.

O Brasil somos todos nós, a quem Deus concedeu o privilégio e a responsabilidade de nascer aqui...

O Criador é e faz questão de ser Pai de todas as criaturas humanas: de todas as raças, de todas as cores, de todas as línguas, de todas as crenças... Que base admirável para firmar a humanidade no amor, na fraternidade!...

O Criador e Pai, para ajudar o homem, quis que o seu próprio Filho, se fizesse homem e envia, constantemente, o seu Espírito que fecunda a mente humana, como fecundou as águas no início da Criação.

O desenvolvimento autêntico abrange o homem todo e todos os homens. Guarda uma medida humana. O desenvolvimentismo só se satisfaz com obras faraônicas, cada uma pretendendo ser, no gênero, a maior do mundo. A medida humana só sobra, cedendo lugar ao gigantismo. Ao invés de preocupar-se com o homem todo e com todos os homens, salvaguarda apenas o crescimento financeiro de uma minoria realmente mínima.

O Espírito de Deus faz surgir, dentro de todos os países, de todas as raças, de todas as religiões, de todos os grupos humanos, minorias dispostas a qualquer sacrifício para ajudar a construção de um mundo mais respirável, mais justo e mais humano.

O Espírito Santo não atuou apenas na criação do universo e nos primeiros tempos da Igreja: hoje, amanhã e sempre, Ele sustenta, inspira e dirige a Igreja do Cristo.

O homem, criado à imagem e semelhança de Deus, é destinado a participar da vida divina, da natureza divina, do poder de Deus, dominando a Natureza, completando a Criação, iniciada pelo Pai; completando a libertação, começada pelo Filho; completando a humanização do mundo, trabalho a realizar, em conjunto, com o Espírito de Deus.

O homem, de hoje, sabe que é capaz de destruir a miséria da Terra e, conseqüentemente, a fome. No entanto, o egoísmo, a anticomunicação nos deixam diante da vergonha de mais de 2/3 da humanidade em condição subumana, de miséria e de fome.

O homem, que participa da Inteligência Divina e do Poder Criador de Deus, com o avanço da tecnologia e da eletrônica, seria capaz de liquidar a miséria da Terra inteira. Mas com os gastos absurdos e loucos com a corrida armamentista não sobra dinheiro para eliminar a fome e a miséria do nosso Planeta.

O jovem-jovem, jovem de verdade, tem sede de conhecer os grandes problemas humanos. Não os teme. Não entra em pânico. E vibra por viver em tempos, nos quais a comunicação supõe medidas profundas e ciclópicas, de aproximação não só entre homens ou entre classes, mas entre mundos...

O povo sabe que o povo unido é Deus com o povo. Vamos completar nossa independência política, com nossa independência econômica e nossa independência cultural.

O povo sabe que sua arma é sua união pacífica, não para pisar direitos de outros, mas para não permitir que ninguém venha pisar direitos que ele não recebeu de governos, nem de ricos, mas do próprio Criador e Pai.

O primitivismo do açambarcamento, o mandonismo e o paternalismo de quem lida com escravos subsistem no século dos computadores, e se firmam, além do plano individual, através de países ricos e de superempresas multinacionais.

O progresso, em toda parte e sempre, é pesadamente pago pelos pequenos.

O que ando procurando entre os jovens são as novas lideranças de amanhã, capazes de unir, sem de modo algum unificar, estas minorias famintas e sedentas de justiça. Ando procurando os jovens que irão descobrir o segredo de entrosar, de articular, em torno de objetivos prioritários, as minorias diversas, mas todas tendo o denominador comum, de desejar, sem violência, mas com decisão, a mudança das estruturas que oprimem mais de 2/3 da humanidade.

O Rádio e a TV levam, ao mundo inteiro, tudo o que acontece de importância, mesmo na ilha mais longínqua ou no país menos desenvolvido. E como falar em “problemas internos” na era das macroempresas, multinacionais?

O sacerdote, posto a serviço do povo como Cristo, deve aceitar sem limitações as exigências e as conseqüências de servir aos irmãos, e, em primeiro lugar, a de saber assumir as realidades e o sentido do povo em suas situações e em sua mentalidade.

Onde a paz social não existe; onde há injustas desigualdades sociais, políticas, econômicas e culturais, rejeita-se a paz do Senhor; mais ainda, rejeita-se o próprio Senhor.

Os adversários das reformas de estruturas costumavam dizer que a Igreja falava em reformas de maneira vaga e perigosa, sem traçar o mais leve rumo a ser seguido.

Os humanistas ateus nem podem rir das religiões, pois andam às voltas com o mesmo encargo, aparentemente redundante, na realidade tão difícil, de ajudar o homem a ser homem.

Os jovens quando não estão ainda bem mergulhados na posição de autênticos comunicadores, no largo e belo sentido que a comunicação pode e deve ter, e quando encontram pressão forte, sobretudo em casa, por vezes caem no comodismo, de ser apenas filhos de papai rico, às vezes param no hipismo, quando não derrapam para as drogas...

Os jovens que enveredam pelo caminho de viver e fazer viver a comunicação como enfrentamento dos grandes problemas humanos; os jovens que se decidem a ajudar a criar um mundo mais respirável, mais justo e mais humano, tornam-se exigentes em casa, na escola e na igreja.

Os que só confiam na violência armada acusam a não-violência de angelismo, de medo de sujar as mãos. E chegam a proclamar que, hoje, país pobre para arrancar-se das garras do imperialismo capitalista tem que correr o risco e aliar-se ao imperialismo comunista. Recuso-me a aceitar que nossa única alternativa seja mudar de patrões, seja variar de opressão.

Para conseguirmos que os oprimidos não se entreguem a violências estéreis e destruidoras, é preciso superar a aparência de concórdia que consiste na impossibilidade de diálogo.

Qualquer um de nós poderia deixar de ter nascido e ninguém daria pela nossa falta, nem saberia nosso nome, nem se lembraria de perguntar por nós...

Qualquer vida humana tem valor que dinheiro nenhum pode pagar.

Quando a escuridão torna difícil até um passo, Cristo é o Caminho. Quando as ideologias se multiplicam ao máximo e os erros pululam, Cristo é a Verdade. Na luta pacífica para que todos tenham vida e vida em abundância, Cristo é a Vida.

Quando as Nações Unidas proclamam, oficialmente, que mais de 2/3 da humanidade se acham em situação subumana de miséria e de fome, a afirmação pode parecer exagerada e demagógica para quem nasceu e vive em país rico, e viaja, através de agências de turismo, especialista em mostrar o que convêm mostrar, e em esconder, cuidadosamente, o que o turista não deve ver.

Quando mais nada restar para ser consumido, que minha chama ainda, um instante, teime em permanecer viva e de pé, para tombar depois, feliz, na convicção de que, um dia, talvez mais rapidamente do que imaginamos, a força do direito vencerá o pretenso direito da força!...

Quando o erro perde a verdade que nele se esconde, deixa de ter poder de sedução e consistência interior.

Quando um homem trabalha a terra durante anos e anos, cria raízes.

Quanto mais avançarmos no progresso material, mais precisaremos de uma fé esclarecida e firme.

Que Civilização é esta que nos querem trazer, que desenvolvimento é este que nos querem praticamente impor, se a conseqüência é a redução a uma situação abaixo de humana de milhões de filhos de Deus!?...

Que desenvolvimento é este em que uma sociedade de consumo, que mais merece o nome de sociedade do desperdício, arrasa com nossas matérias-primas, devasta nossas florestas, polui os nossos rios, envenenando as águas, matando os peixes, reduzindo os moradores a uma subvida?

Que Deus nos ajude a descobrir caminhos de esperança concreta e de desenvolvimento autêntico, pois partimos do pressuposto de que fomos criados para construir e não para destruir e estamos convictos de que o amor tem condições de vencer o egoísmo.

Que Deus nos ajude a ver claro nesta hora de bruma e cerração.

Que Deus nos dê a coragem necessária para pôr a nu se haverá ou não condições de desenvolvimento do homem todo e de todos os homens, ou, se, ao contrário, desenvolvimento deverá ser entendido como progresso econômico de grupos sempre mais restritos, com o sacrifício total de massas sempre mais numerosas.

Que esperamos ainda para incluir, oficialmente, a miséria como a mais sangrenta das guerras, quando as estatísticas demonstram que a miséria deforma e mata mais do que a guerra nuclear e a guerra bioquímica?

Que grande dom o Senhor nos faz, tirando-nos do nada e chamando-nos à vida!

Que ilusão pensar que as perseguições anunciadas pelo Cristo se referiam apenas aos primeiros tempos da Igreja e que o ideal para a Igreja do Cristo é viver a paz constantiniana, com todas as suas conseqüências?...

Que o Espírito Divino sopre as perguntas que mais urgentes te pareçam e cujas respostas, não só em palavras, mas em atos, seriam o melhor presente que desejarias em teu Jubileu...

Quem considera a fé ingenuidade tolerável apenas para crianças ou pessoas simples, sem a menor profundidade de visão; quem guarda apenas uma lembrança de fé, misturada com a saudade de uma Mãe boníssima e piedosa, deve estar achando que basta, pois já rompi todos os limites da paciência e da generosidade...

Quem não rasga, de alto a baixo, a carapaça de egoísmo e não sai de si, ao encontro do irmão, jamais terá verdadeiros encontros com alguém e jamais chegará a autênticos diálogos...

Quem não sabe que a sociedade de consumo, na qual vivemos mergulhados, merece muito mais o nome de sociedade do desperdício!?...

Se escaparmos do suicídio coletivo através da guerra, seremos devorados pelas conseqüências da maneira de agir da sociedade, por nós chamada, eufemisticamente, de sociedade de consumo: de fato, se trata de sociedade do desperdício...

Se nós todos, sem esquecer a vida eterna, exigirmos condições humanas para a vida terrena; se nós todos, decididamente, ultrapassarmos a linha do mero assistencialismo e promoção humana e social, então, ficará patente que soou, de fato, a hora de mudarem as estruturas.

Se o homem, participando do poder criador de Deus, vence as alturas, vence o som, desagrega o átomo, parte para as viagens espaciais, evidentemente, tem o direito e o dever de usar a inteligência na hora de lançar ao mundo novos seres humanos.

Se os jovens não se convencerem de que há um futuro, uma libertação, correrão para as enganosas luzes da cidade...

Se quisermos ir à raiz dos nossos males sociais, teremos que ajudar o País a romper o círculo vicioso do subdesenvolvimento e da miséria.

Se tiverdes ouvidos para ouvir o povo, completareis o que apreendestes em vossa universidade com o que vós resta aprender na Universidade da Vida.

Sejamos apóstolos da Vida eterna, mas Vida eterna que começa agora e aqui, pois é agora e aqui que construímos a nossa eternidade.

Sem fechar os olhos para a realidade terrível que está diante de nós, tenho a confiança de proclamar que real, tangível, observável, como a presença da miséria ou a presença das multinacional, é a presença – dentro de todos os países, de todas as raças, de todas as religiões, de todos os grupos humanos – de minorias decididas a quaisquer sacrifícios para ajudar a criar um mundo mais justo e mais humano.

Sem justiça e liberdade para todos é impossível falar em desenvolvimento.

Sem uma sabedoria à altura de nossa ciência, o progresso material produzirá, não o desenvolvimento, mas a desumanização dos homens que ainda podem consolar-se com sonhos de um futuro melhor, mas que amanhã não terão o consolo nem dessa ilusão.

Senhor de tal modo privilegia a criatura humana, que, na impossibilidade de transmitir, ao homem, sabedoria infinita, perfeição suprema, acende no espírito humano, transcendentais, seres que nos transcendem e que bem revelam que somos filhos de Deus...

Sustentar que o desenvolvimento se tornou de tal modo técnico, que é utopia pensar em levar o povo a participar da criatividade e das opções; sustentar que o desenvolvimento, hoje, exige estados de exceção, governos fortes, ditaduras, é descrer da criatura humana e não contar com os prodígios da promoção humana, da educação libertadora, quando elas não são temidas e combatidas, e, sobretudo, quando elas não são desvirtuadas por movimentos que parecem movimentos de conscientização, mas começam por temer até o verbo, profundamente humano, que é conscientizar.

Temer a violência, combatê-la, é fazer o jogo da violência dos opressores. E exigem que se aponte um único exemplo de mudança efetiva de estruturas na base da não-violência.

Temos que aprender, com o Criador, como criar e não como destruir. A destruição não é digna do Criador e é absurda no co-criador.

Tenho pena de quem acha que não tem nada mais a aprender. A beleza entre os diferentes povos, principalmente entre nós, cristãos, é grandiosa.

Toda religião está convicta de ter recebido uma mensagem de Deus, senão para fazer o homem participar da natureza divina, ao menos para torná-lo mais humano.

Trabalhemos, sem descanso, para que todos os homens vejamos em Deus um Pai e não um padrasto. Trabalhemos para que todos tenham vida e vida em abundância, não só na eternidade, mas já começando agora e aqui.

Tudo o que vemos, tudo o que encontramos em nosso caminho – desde arranha-céus até brinquedos de crianças, desde panelas de barro até aparelhos eletrônicos, desde sambas até músicas de grandes gênios musicais –, há sempre, por detrás do que vemos, do que encontramos, um Criador...

Um dos sinais de primavera é a coragem de a Igreja, mantendo sempre a atenção para com os pecados pessoais – que exigiam, exigem e sempre exigirão conversões pessoais – chamar, cada vez mais, a atenção para os pecados sociais, que exigem e exigirão, sempre mais, conversões sociais.

Um jovem ou uma jovem, mesmo na flor da idade, se contempla o mundo como feira de liquidação, como mágica idiota, como absurdo sem saída e sem fim, já é um velho ou velha precisando urgente de uma bengala ou de um sanatório...

Uma das grandes descobertas que o Espírito de Deus soprou a quantos nos ocupamos com nossos irmãos é a diferença que parece pequena e é enorme, entre apenas trabalhar para o povo e trabalhar com o povo.

Uma pista concreta para unir as minorias que têm fome e sede de um mundo mais respirável, mais justo e mais humano, de uni-la com salvaguarda plena da própria identidade, dos próprios líderes e dos métodos próprios, é descobrir objetivos prioritários comuns.

Vamos, juntos, encorajar, sempre mais, nosso povo, em sua luta pacífica, mas corajosa, decidida, para ser ouvido em relação aos grandes problemas de nosso País... Ser ouvido e ter o direito de apresentar sugestões e votos!...

Viver, de todo, fora de estruturas, é ilusão para a criatura humana. A partir de que instante as estruturas se tornam opressivas e clamam por mudança?

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