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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

CELSO FURTADO

A PARAÍBA PERDE UM DE SEUS MAIS ILUSTRES FILHOS


José Ozildo dos Santos

A PERDA

Sábado - dia 20 de novembro de 2004 - a Paraíba perdeu um de seus filhos ilustres: Celso Furtado, que era tido como um dos maiores intelectuais do país.
Celso foi um exemplo: honrou a Paraíba e projetou internacionalmente o Brasil, inserindo-se entre os maiores nomes da economia mundial. Cabeça privilegiada, “sem ele o Nordeste não seria um terço do que é hoje”. A ele, deve-se a criação da SUDENE, que, reconhecidamente, em muito contribuiu para o desenvolvimento do Nordeste e ainda estaria contribuindo se os políticos de nosso país soubessem o que é ética e seriedade.

NASCIMENTO E ESTUDOS

Celso Furtado nasceu no dia 26 de julho de 1920, em Pombal, no sertão paraibano. Foram seus pais Maurício de Medeiros Furtado e Maria Alice Monteiro Furtado. Seu pai, administrador da Mesa de Rendas Estaduais, transferiu-se para a capital paraibana em 1924, onde tornou-se professor da Escola Normal. E, posteriormente, ingressando na magistratura ascendeu ao alto posto de desembargador do Tribunal de Justiça da Paraíba.
Do pai, o garoto Celso não somente herdou o gosto pela leitura como também recebeu os mais sólidos ensinamentos e exemplos, que pautariam no futuro a sua conduta como pensador. Mesmo criança, ele era cauteloso e quando adulto, a semelhança de todo sertanejo, guardava “a consciência aguda da angústia do outro” e “era insatisfeito com a condução humana” do povo brasileiro, conforme certa vez declarou à imprensa.
No Liceu Paraibano, em João Pessoa, e no Ginásio Pernambucano, no Recife, fez seus estudos primários e secundários. No Rio de Janeiro - para onde sua família transferiu-se em 1941 - diplomou-se em Direito pela antiga Universidade Nacional (1944). Quatro anos mais tarde, doutorou-se em Economia pela Universidade de Paris (Sorbonne), defendendo a tese “L’économie Coloniale Brésilienne”. E, em 1957, quando trabalhava na Comissão Econômica para a América Latina (ONU), licenciou-se de suas funções para fazer um curso de pós-graduação na Universidade de Cambridge, Inglaterra. Foi nessa época, que escreveu seu magnífico livro ‘Formação Econômica do Brasil’.

UMA CARREIRA BRILHANTE

Membro da Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial, Celso Furtado foi Técnico de Administração do Governo Brasileiro, no período de 1944 a 1945. Posteriormente, tornou-se economista da Fundação Getúlio Vargas (1948-49) e como Diretor da Divisão de Desenvolvimento da CEPAL (1949-57), ao lado do economista argentino Raúl Prebish, deu uma grande contribuição à formulação do enfoque estruturalista da realidade sócio-econômica da América Latina.
Em 1958, desligou-se da CEPAL e retornou ao Brasil, onde logo assumiu uma diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico. No ano seguinte, tornou-se interventor no Grupo de Estudos do Desenvolvimento do Nordeste. Sob sua coordenação, elaborou-se o estudo ‘Uma política de desenvolvimento para o Nordeste’, que deu origem ao Conselho de Desenvolvimento do Nordeste - CODENO, do qual foi seu secretário executivo.

A CRIAÇÃO DA SUDENE

Embasado no plano de estudos elaborado por Celso Furtado, o presidente Juscelino Kubitschek criou a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), através da Lei nº 3.692, de 15 de dezembro de 1959. E, num justo reconhecimento, nomeou o talentoso economista paraibano como seu primeiro superintendente.
Entretanto, a criação da SUDENE não foi algo tão fácil. Manobras, tentativas de boicote, críticas, etc., caracterizaram o referido processo, pois, “os interesses da indústria da seca eram grandes demais para que, seus beneficiários, diretos ou indiretos, não se mobilizassem contra as mudanças no quadro estrutural existente, propostas pelo Dr. Celso Furtado e sua equipe”.
Estruturada sob a direção do mais ilustre e talentoso economista paraibano, a SUDENE mostrou-se ser mais do que uma ‘agência administrativa’. Pois, como não era um projeto improvisado, a partir dela, “o Nordeste emergiu como entidade política”.
O reconhecimento do trabalho de Celso Furtado veio rápido. Ainda em 1961, o Presidente John Kennedy decidiu apoiar um programa de cooperação para o Brasil. Para tanto, Celso Furtado, na condição de superintendente da SUDENE esteve com aquele estadista norte-americano, definindo as metas do programa ‘Aliança para o Progresso’.

O GOLPE MILITAR DE 1964

Em 1962, durante o regime parlamentarista, Celso Furtado tornou-se o primeiro titular do Ministério do Planejamento, funções que exerceu até o ano seguinte, quando retornou à direção da SUDENE. De sua autoria é o ‘Plano Trienal’, apresentado ao país pelo presidente João Goulart.
Homem de talento e de idéias avançadas, foi uma das primeiras vítimas do arbitrarismo instituído pelo regime militar. E, em 4 de abril de 1964, teve seus direitos políticos cassados por dez anos. Perseguido e ameaçado, deixou o Brasil e transferiu-se para Santiago (Chile), onde viveu alguns meses como exilado.
Nome de projeção, cedo dedicou-se à pesquisa e ao ensino da ‘Economia do Desenvolvimento’ e da ‘Economia da América Latina’, em diversas universidades, a exemplo de Yale (EUA, 1964-65), Sorbonne (França, 1965-85), American University (EUA, 1972), Cambridge (‘Cátedra Simon Bolívar’- Inglaterra, 1973-74) e Columbia (EUA, 1976-77).
Quase duas décadas mais tarde, iniciado o processo de redemocratização, Celso Furtado retornou ao Brasil, oportunidade em que foi nomeado embaixador junto à Comunidade Econômica Européia, em Bruxelas (1985-86). Ministro da Cultura do Governo José Sarney (1986-88), elaborou a primeira legislação de incentivos fiscais e fez a defesa da identidade cultural brasileira.

O PENSADOR

Celso Furtado é um “exemplo de intelectual comprometido com as grandes causas do país, com respeitabilidade em nível internacional” e por isso, seu nome está inserido “entre os grandes economistas do mundo que estudaram, no pós-guerra, e de forma pioneira, os problemas do desenvolvimento econômico relacionando-os com problemas históricos”. Para ele, “a economia tem que sempre estar submetida a uma visão política da sociedade”, produzindo e distribuindo riquezas, gerando empregos e dando ao mesmo tempo, condição de vida digna ao homem, ao invés de escravizá-lo em nome do progresso.
Em 1946, no Rio, publicou ‘Contos da vida expedicionária: de Nápoles a Paris’, iniciando uma produção literária somente interrompida com sua morte. Grande parte de seus livros foram traduzidos para vários idiomas, inclusive o inglês, o francês, o sueco, o chinês, o japonês e o polonês.
Em sua valiosa bibliografia, podemos destacar: ‘Economia Brasileira’ (1954); ‘Uma economia dependente’ (1956); ‘Uma política de desenvolvimento econômico para o Nordeste’ (1959); ‘Formação Econômica do Brasil’ (1959); ‘A pré-revolução brasileira’ (1962); ‘Um Projeto para o Brasil’ (1968), ‘Transformação e Crise na economia mundial’ (1987); ‘O longo Amanhecer’ (1999), ‘Cultura e Desenvolvimento’ (1984); ‘Criatividade e Dependência’ (1978) e ‘Em busca de novo modelo: Reflexões sobre a crise contemporânea’ (2002).

O RECONHECIMENTO

Nascido no interior da Paraíba, Celso Furtado é um nome internacional. Quando professor da Sorbonne - nomeado que foi por Charles De Gaule - solidificou suas idéias e passou a ser visto como um dos maiores pensadores econômicos do século XX. Na atualidade, é ele o economista brasileiro mais conhecido e melhor conceituado em todo mundo.
Membro do Conselho Editorial das revistas Econômica Brasileira (1954-64), Desarollo Ecnómico (Buenos Aires, 1966-70), El Trimestre Econômico (México, 1965-2004), Revista de Economia Política (São Paulo, 1981-2004), Pensamiento Iberoamericano (Madri, 1982-2004); Membro do Conselho Acadêmico da Universidade das Nações Unidas (Tóquio, 1978-82), do Committee for Development Planning, das Nações Unidas (1979-82), da South Commission (1987-1991), da Commission Mondiale pour la Culture et lê développement (ONU/UNESCO, 1993-95) e do Comitê International de Bioéthique (UNESCO, 1995-97), Celso Furtado recebeu inúmeras condecorações e títulos, sendo ainda Membro da Academia Brasileira de Ciências (2003), Doutor Honoris Causa das Universidades: Técnica de Lisboa (Portugal, 1987), da UNICAMP (Campinas-SP, 1990), Federal de Brasília (Brasília, 1991), Federal do Rio Grande do Sul (Porto Alegre, 1994), Federal da Paraíba (João Pessoa, 1996), Pierre Mendès-France (Grenoble, França, 1996), Estadual do Ceará (Fortaleza, 2001), Estadual de São Paulo-UNESP (São Paulo, 2002), Federal do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, 2002) e Membro do PEN Clube do Brasil (1991).
Em 2001, a Fundação Carlos Chagas de Apoio à Pesquisa (com sede no Rio de Janeiro), instituiu o ‘Prêmio Celso Furtado de desenvolvimento’. Antes, porém, em 1997, a Academia de Ciências do Terceiro Mundo, sediada em Trieste (Itália), criou o ‘Prêmio Celso Furtado’, outorgado a cada dois anos a um cientista social do Terceiro Mundo.
Celso Furtado não se considerava ‘homem de letras’, mas homem de pensamento. Sua obra - que totaliza mais de 30 livros publicados - vai além de outras interpretações da realidade brasileira, “não porque seja teoricamente superior”, mas por “explicar e ‘construir’ o Brasil de seus dias”. Eleito para a Academia Brasileira de Letras, aos 7 de agosto de 1997, foi empossado no dia 31 de outubro seguinte, passando a ocupar a cadeira nº 11, cujo patrono é Fagundes Varela.

O FALECIMENTO

Nordestino, possuidor de uma “rara visão de Brasil e de mundo”, Celso Furtado que era “um homem com espírito público e capacidade de servir inigualáveis”, faleceu na tarde do dia 20 de novembro último, em seu apartamento no Rio de Janeiro, aos 84 anos de idade.
Seu corpo, em câmara ardente, foi velado na sede da Academia Brasileira de Letras. Na tarde do dia seguinte, o caixão coberto com a bandeira do Brasil e sob a guarda de um Corpo de Honra, do Corpo de Bombeiros do Rio, foi levado para o Cemitério São João Batista, em Botafogo.
Ali, o corpo do maior economista brasileiro de todos os tempos foi sepultado no Mausoléu dos Imortais da Academia Brasileira de Letras. Na oportunidade, cantou-se o hino da Independência do Brasil, pois Celso Furtado sonhava também com a independência de nosso país da submissão, da fome, etc., e de tudo aquilo que impede ainda nosso desenvolvimento social e econômico.
A Paraíba está de luto. O Brasil e o mundo perderam CELSO FURTADO. E, que a dimensão desse nome jamais seja lançada no esquecimento: é o que eu espero.

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Artigo publicado no jornal ‘A Voz do Povo’, Ano VII, nº 92, Patos-PB, edição de dezembro de 2004.

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