ALMINO ÁLVARES AFONSO
Almino Álvares Afonso nasceu em 17 de abril de 1840 no município do Patú e faleceu em Fortaleza, Ceará, a 13 de janeiro de 1899.
Formou-se em Direito pela Faculdade do Recife em 1871.
“Órfão de pai aos oito anos de idade, e sendo sua mãe muito pobre, Almino aprendeu a ler, segundo a tradição, à luz das fogueiras e em livros que lhe emprestavam pessoas amigas. Mais tarde, tendo adquirido conhecimentos de português, francês e latim, dedicou-se ao ensino dessas línguas na cidade de Martins, em Patú de Fora, Caraúbas e Catolé do Rocha, especializando-se no latim, em que se tornou profundamente versado. Nos anos de 1862 e 1863, sob os auspícios de seu tio José Torquato, começou Almino Afonso a trabalhar no foro, indo posteriormente, e a convite do mesmo seu tio, para a cidade do Recife, afim de cursar a Faculdade de Direito, onde se diplomou bacharel, em dezembro de 1871”. ANTÔNIO SOARES, “Dicionário Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte”.
A vida de Almino Afonso é uma sucessão de combates. Depois de vários cargos nas províncias da Paraíba e Ceará chegou, nesta última, a fiscal da Tesouraria de Fazenda. Um discurso arrebatado, feito num embarque de tropas, arredou-o do lugar. Tornou-se abolicionista. Ceará e a cidade norte-rio-grandense de Mossoró, devem imensamente à força veemente da palavra vibrante de Almino. A libertação dos escravos obcecou-o completamente. Mossoró, que em 30 de setembro de 1883 se libertou da escravidão, apaixonou-o.
Viajou para o Amazonas em 1884. Novamente envolvido em guerrilhas políticas. Três anos depois era presidente da Câmara Municipal de Manaus.
O partido conservador no Rio Grande do Norte, cindido em seus dois distritos eleitorais, lembrou-se de Almino. O segundo distrito sufragou-o. A proclamação da República colocou-o em evidência. Almino, verdadeiramente, era republicano teórico e teria dificuldade em explicar o que entendia pelo vocábulo. Em julho de 1889 era candidato monárquico. A 15 de setembro de 1890 era deputado republicano.
Almino Afonso era a sugestão do meneur inconsciente. Tudo nele respirava o domínio, o comando, a direção que partiria dum seu gesto. Sua figura predispunha. Forte, sólido, maciço, com o passo dum granadeiro, olhos imensos de brilho e de bondade, parecia, a um tempo, Miltre e o general Bourbaki.
Ritual, nas populações do 2º distrito, a memória da vida acidentada na cearense, passara a fronteira e conquistara a idolatria coletiva com sua voz estertórica, reboante e vastíssima. Era romântico, agressivo, teatral. Não havia nele o comum, o esperado, o todo-dia. Espalhava o fluído magnético, dominador e atraente, dum chefe bárbaro, dum guerreiro selvagem, dum guia de clã. Sua cabeça sobrepairava sobre o povo. Em toda parte era visto, apontado, aclamado.
Também era a generosidade, o amor instintivo, irreprimível, pelos pequeninos, os pobres, os fracos. Onde estivesse, fatalmente, Almino terminava sustentando várias famílias e várias causas. No Rio repartia o subsídio senatorial em remédios, vestidinhos e esmolas. Mas ninguém diria que aquele mosqueteiro furibundo, gritador e atrevido, apalpando facilmente o cabo de prata da faca ponta-de-espada, fosse o mais simples, caridoso e apiedado dos homens.
Foi um dos primeiros socialistas que tivemos. Incrível sua predileção pelos operários, os humildes, os anônimos, os deserdados. Entretinha-se com eles em conversas intermináveis num charabiá incompreensível. Conhecia todos. Almino era o tipo ideal da Ordem terceira de São Francisco se não tivesse o sestro das pragas hediondas, imprevistas e inéditas.
Sua eloqüência era irregular, montanha-russa sem estilo e sem preocupação de forma e acabamento. Retórico, sonoro, tempestuoso, impulsivo, falava quando e onde queria, desolando os companheiros de bancada, aflitos pela indisciplina daquele grande demônio esmoler e gigantesco de atrevimento. Tratava quase toda gente de tu. Corrigia no Senado, com uma incrível sem-cerimônia, os tropeços gramaticais dos colegas da Câmara Alta, esquecidos dos verbos auxiliares.
Acima de toda espetaculosidade espontânea havia a absoluta sinceridade em gestos, palavras e ações. O povo encontrava nele, sem doutrina e sem explicação, um resumo de estética política e de sua ética administrativa. E, como Augusto Severo, Almino Afonso nunca se apercebeu completamente do quanto era querido.
O seu republicanismo era complexo, nebuloso, clássico. Almino nunca entendeu verdadeiramente a República. A Constituição lhe parecia um crime porque vedava certas prerrogativas. Dispensou-se de sua hermenêutica.
Um dia apresentou um projeto na Câmara pedindo duzentos contos para obras de abastecimento d’água de Macau; A Comissão de Finanças elaborou parecer contrário. Almino encaminhando a votação ouviu, dum colega superiormente instruído, que o auxílio não podia ser votado por ser contra a Constituição. Tratava-se de melhoramento com feição municipal. Privativo do poder competente. Almino queimou a resposta que o retrata.
Se a Constituição proíbe que se de água a quem tem sede, é uma Constituição irracional.
O Rio Grande do Norte mandou-o como deputado à Constituinte Republicana e elegeu-o Senador na segunda legislatura, 1894-1902.
Defendendo a indústria do sal, que seu Estado produz excelente e abundante, teve do Dr. Manuel de Morais Barros, senador por São Paulo, um aparte ríspido e fácil: “Os cafezais de São Paulo não precisam do sal do Rio Grande do Norte...”. “Mas, os animais precisam...”. Regougou Almino alisando o cavanhaque ornamental. Doutra feita, rebatendo, já irado, uns reparos do mesmo Morais e Barros, declarou não poder quadrupedar pela jumentice alheia...
Antônio Coelho Rodrigues, senador pelo Piauí, seu íntimo, também foi vítima duns momentos de arrebatação de Almino. Discursando, citou e áspera de Almino. A fama de sua independência, o renome de sua cultura, a lenda de sua coragem, corriam como chamas atiçadoras de maior incêndio. Na abolição de Mossoró Almino, que fora pars-magna uma frase latina que pareceu ao Almino está errada. E corrigiu-a imediatamente. O senador piauiense, latinista e jurisconsulto ilustre, negou o engano. E de sua cadeira, Almino bradava, entre surpreso e zangado: “Toinho? tô te estranhando... O latim tá errado, menino. Nem Deus dá jeito...”
E na outra sessão apareceu no Senado acompanhado dum moleque que trazia um tabuleiro repleto de livreções terríveis para provar o erro de Toinho. Os senadores dissuadiram-no da polêmica filológica e Toinho deu a mão ao bolo.
O anedotário de Almino é longo e curioso. Tomava o bonde para o Senado e cumprimentava todos os passageiros, dando-lhes os bons dias e tratando toda gente por “CIDADÃO”, vocábulo pronunciado por ele com entonações cavas e misteriosas. Usava indefectível sobrecasaca e cartola preta, lavada, por ele mesmo, três dias por semana, com querosene. O cabelo, luzidio e untado de oriza, espelhava sempre e era raspado na nuca. Almino rapava-o, passando a navalha duma para outra mão, naturalmente. Só falava alto, pausadamente, atraindo a atenção dos circunvizinhos. Farejava patrícios onde andava, interpelando-os com autoridade. Daí em diante, abria-lhes verba auxiliar.
Inimigo de Prudente de Morais, escrevera uma “oração” que, sozinho e lento, recitava todas as manhãs. Dizia que o grande paulista era doente de jumentismo.
A popularidade seguia-o como uma sombra. No Rio Grande do Norte teve vida política sem relevo. Votou em Deodoro para a presidência da República com a maioria da bancada que, exceto Pedro Velho e José Bernardo, tinham acompanhado o grupo do Generalíssimo.
Desinteressou-se na luta contra o golpe de estado. Almino, adorado pela tradição de valentia e destemor, fora incluído, na eleição para a Constituinte Republicana, na chapa de todos os grupos. Tivera a maior votação do Estado. Sua atitude serena durante os acontecimentos de 1891, deposição de Miguel Castro e guerrilhas partidárias, fizeram Pedro Velho aproximar-se dele e indicá-lo para o Senado contra a sugestão de Floriano Peixoto que insinuava Amaro Cavalcanti. E Almino morreu senador...
Nunca possuiu desejos de ingerir-se na panela fervente da política norte-rio-grandense. Jogavam seu nome porque ele era acompanhado dum obstinado prestígio popular.
Na Câmara e Senado pronunciou discursos longos cheios de citações em latim e de nomes gregos. Cultura clássica, imponente de decisão e de altivez, manteve a mentalidade conspícua e grave através de todo o assombro de seus pares, encantados com a presença daquele formidável discutidor que parecia ter saído dum areópago.
Foi o único a escrever frase latina ao assinar o texto da Constituição de 24 de fevereiro de 1891. Pôs os óculos pensou um segundo e deixou, numa letra firme e clara, a frase sonhadora de sua grande alma generosa: “Pro vita civium proque universa Republica...”
A REPÚBLICA, Natal-RN, edição de 17 de abril de 1940.
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O PADRE LONGINO
Todo sertão oeste do Rio Grande do Norte conhece e rememora as façanhas de Francisco Longino Guilherme de Melo, nascido no arraial de Santa Luzia do Mossoró a 15 de março de 1826, cantando sua primeira missa, em Santa Luzia, a 2 de fevereiro de 1827, também a primeira dita por mossoroense, em Mossoró. Sempre assinou LONGINO. Outros dizem LONGUINHO. O santo do dia 15 de março é LONGUINHOS. Esse devia ser o nome verdadeiro.
Não há entidade mais famosa, cheia de lutas, lances de ousadia e violência, possivelmente alguns desfigurados pela imaginação dos narradores, através dos anos. Viveu combatendo inimigos, com a mentalidade da época, aguerrida, imediata e bruta. Era homem inteligente, espirituoso e pessoalmente de coragem alta. Esses predicados se fixaram na retentiva popular.
Inimizando com João Ferreira da Costa, chefe da família dos BUTRAGOS, sustentou uma verdadeira campanha, de escaramuças, descargas e ataques, assombrando a pacatez do arraial tranqüilo. Duas vezes os BUTRAGOS cercaram-lhe a residência, durante a noite, travando-se tiroteios cerrados, a 19 de março de 1839 e a 14 de julho de 1841. Dentro da casinha, inacessível ao medo, Longino gritava, como um guerreiro feudal, insultos e ameaças: - avança fariseu! Quem vier, dentro, morreu!
Em 1844, quando o Padre Antônio Joaquim Rodrigues assumiu a vigararia de Mossoró, cansado de brigas, esgotado de recursos, o Padre Longino deliberou ausentar-se de Santa Luzia, rumo ao Piauí, e daí ao Maranhão.
Um episódio fixa sua psicologia incisiva. Viajando, em terras do Piauí. Fugindo a chuva intensa, Longino adiantou-se dos companheiros alcançando uma residência confortável, casa-grande de fazenda rica. Apeiando-se, faminto e molhado, no alpendre, o Padre viu o dono da propriedade, um crioulo imponente e desdenhoso, sentado a mesa, cercado de convivas, ante um jantar fumegante e capitoso. Mesmo sem ter merecido um convite para entrar, Longino passou os batentes. De sua cadeira, o crioulo, fazendo pilhéria, perguntou, espetacular, fazendo rir os convidados:
- Padre! Se eu mandasse dar roupas enxutas e limpas para o senhor trocar por essas que estão molhadas e sujas, não era bom?
- Era bom - respondia, humilde, Longino.
- Pois, não tem - dizia o crioulo, rindo, e com ele os amigos. E repetia:
- Se eu convidasse para jantar, com essas comidas cheirando bem, não era bom?
- Era bom - psalmodiava Longino, fervendo por dentro.
- Pois, não tem - rosnava o crioulo deliciado com seu espírito.
Nesse momento, na latada da casa, chegam os companheiros do Padre. Rápido, rubro de cólera, Longino, com um gesto chama seus homens, empurra para um canto os convidados, espavoridos pelas armas espelhantes e apontadas. Manda amarrar o crioulo, com tiras de couro cru, a um esteio. Escolhe um rebenque. Aproximando-se do dono da casa, por sua vez, perguntou, numa fala macia de ave mansa:
- Negro! Se uma alma caridosa aparecesse agora e pedisse para eu te mandar soltar, não era bom?
- Era - dizia o crioulo suando frio.
- Mas, não tem - respondia Longino, tão impassível na vingança quando fora na humilhação. E, durante minutos, surrou desapiedadamente o fazendeiro. Quando cansou, voltou a cantilena:
- Negro! Se alguém pedisse para que eu não te batesse mais, mas era bom.
- Era - gemia o crioulo, riscado a chicote.
- Mas, não tem - berrava Longino.
E, saciada a indignação, deixou-o amarrado, seguindo viagem.
Vinte e oito anos esteve longe do Mossoró, e vinte sem notícias de sua vida. Em 1872, Laurentino Martins da Silveira, fazendo cobranças pelo Ceará, Icó ou Crato, encontrou o Padre Longino, velho, completamente cego, procurando voltar à sua terra, financiado por auxílios públicos. Laurentino informou a família Guilherme de Melo e ao povo mossoroense que famoso Longino estava vivo, bem castigado e vinha buscando a sua velha povoação, agora cidade e sede de Comarca.
Em abril de 1872, Longino chegou. Muitos cavaleiros o foram esperar e o escoltaram, desde a serra. A curiosidade ambiente era tão forte que uma multidão se acotovelava para vê-lo. Acolhido fraternalmente pelo Padre Antônio Joaquim, com a piedade unânime da população, Longino ainda foi capelão na RUA DA PALHA (Upanema) e mesmo em Areia Branca. Dizia, de cor, a Missa da Conceição, assim como todas as cerimônias religiosas. O gênio era o mesmo. Quando lhe perguntaram - Então o senhor cegou?... Longino respondeu, feroz: - É verdade. Ceguei. Ceguei de ver gente ruim...
Faleceu quatro anos depois. Ainda é a figura mais sugestivamente lembrada em qualquer palestra sertaneja na região que assistira sua existência turbulenta e afoita.
“Aos trinta de março de mil oitocentos e setenta e seis, sepultou-se na Capela do Cemitério de São Sebastião, filial a esta Matriz de Mossoró, o Reverendo Francisco Longuinho Guilherme de Melo, idade setenta e quatro anos, envolto em hábito preto e pelo Reverendo João Urbano de Oliveira encomendado. Do que mandei fazer este assento e assigno. (a) O Vigário Antônio Joaquim Rodrigues”.
A REPÚBLICA, Natal-RN, edição de 20 de outubro de 1940.
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O PRIMEIRO VIGÁRIO DO NATAL
O Des. Luiz Fernandes, anotando o “Auto da Repartição das Terras do Rio Grande” (1614) ensinou que a fundação da Cidade envolveu a da Freguesia, sendo nomeado seu primeiro Vigário o referido padre Gaspar Gonçalves da Rocha. Nada sabemos do início e fim desse ministério sacerdotal. O padre vigário não apareceu na História como pastoreando almas mas possuindo terras. Não tivesse ele oito sesmarias, registradas nos papéis oficiais daquele ano de 1614, e nada teria deixado de sua existência terrena. Boas ou más obras sabe-as Deus eu ignoro. Assim, na qualificação do nosso primeiro vigário, é óbvia a inclusão da nota: - aos costumes disse nada.
A revelação desse “Auto da Repartição”, devida ao Barão de Studart é de inesgotável riqueza documental. Inúmeros aspectos serão fixados, em seus princípios, graças aos registros de cento e oitenta e cinco trechos da terra norte-rio-grandense, doados aos homens que começaram a vida social da pequena Capitania.
Que sabemos nós de Padre Gaspar Gonçalves da Rocha?
A 24 de abril de 1601, recebia duas mil braças por costa, começando da boca do rio Curimataú, para o norte, e duas mil para o sertão. Houve aí casario, criação de gado e rede de pescaria. Em 1606 ficara despovoada. Não tinha águas. O padre teve hus chãos de çítio da cidade em que fez cazas em que vine. Esse vine é vive. A terceira data é de mil braças em quadra, do rio Guacoripera, um afluente do rio Potengi, desaparecido ou de nome irreconhecível atualmente. Havia roça e canavial plantado. Era terra capaz para um trapiche. Trapiche é o engenho de açúcar que moe com tração animal, moem com bois, e chamam-se trapiches, ensinava o padre Fernão Cardim em 1585. Outra data é de 1500 braças, pelo rio Guoarahú, pelo rio Potengi acima. Era dádiva de 23 de junho de 1603. Em 1614 pertencia ao Escrivão Pero Vaz Pinto. Constituía porto de pescaria que fora de todos os Capitães-Mores. Esse rio Guoarahú é apenas o Guagirú, rio Doce. A terra é a praia da Redinha.
He ho melhor porto de pescaria que aquy há e está de fronte da fortaleza, explicava o auto. Em 7 de agosto de 1604 há uma data, 300 braças em quadra na campina junto a esta cidade. Estava devoluta. A campina junto a esta cidade é a praça Augusto Severo em diante, para leste e norte. Outra data ficava nos arredores de Pirangí. Não é de préstimo nenhum, afirma o Auto e não sei para que o reverendo Vigário a queria. A de 26 de julho de 1607 constava de uma légua de terra na várzea do Tarayre, que é o Trairí. Servia para pastos e não he ynda cultivada, anotavam em 1614. Diga-se que o pároco era senhor da primeira sesmaria doada no Rio Grande do Norte. Dera Manuel Mascarenhas Homem, ao capitão João Rodrigues Colaço, nosso segundo Capitão-Mor, uma data de 2.500 braças ao longo do Rio Potengi, a 9 de janeiro de 1600. O Auto dá poucos detalhes mas existe ainda o registro que a minucia inteiramente. O Padre comprou-a a Rodrigues Colaço. Pagava os dízimos pontualmente e a tinha cultivado de roçarias de mantimentos, e ia roçando outra parte dela para plantar canas e ver-se hera capaz delas e de hu trapiche. Essa idéia de fundar um engenho de açúcar estava popularizada e, noutro registro, duma data vizinha, anuncia-se que servirá para canas, fazendo-se o engenho do Padre Vigário como fica dito.
Ter-se-ia construído esse trapiche? Creio que sim. A História, recordando a morte de Francisco Coelho, família e amigo à mãos holandesas, dí-lo proprietário de um engenho, posteriormente conhecido por Ferreiro Torto, no município de Macaíba. Desde 1608 que Francisco Coelho tinha terra nos arredores e a data-93 informa que ele a tem povoado com casas e roças e gado vacum, e servirá para canas, fazendo-se o engenho do Padre Vigário. Não há outro engenho na região. Teria o Reverendo construído o engenho ou vendera a terra a Francisco Coelho e este erguera o trapiche? Não sei.
E como findou o Padre Gaspar Gonçalves da Rocha? Só sabemos o nome do Padre Ambrósio Francisco Ferro, sacrificado na matança de Uruassú, a 3 de outubro de 1645. Aceitando que o padre Ferro fosse Vigário em dezembro de 1633, quando os Holandeses se apossaram de Natal, há um lapso de dezenove anos, de 1614 a 1633, que o Padre Gaspar, ou Gaspar Gonçalves da Rocha, teria ou não paroquiado.
Os Holandeses incendiaram todos os arquivos. Pode ser que, nalguma parte ignorada, durma um documento elucidador. E, um dia apareça, como apareceu, pela mão ilustríssima do Barão de Studart, o Auto da Repartição das terras.
A REPÚBLICA, Natal-RN, edição de 25 de julho de 1940.
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