CATÓLICOS
Padre João Maria Cavalcanti de Brito
Vai ter estréia, fazendo hoje circular o seu primeiro número, um novo periódico, consagrado exclusivamente aos interesses de nossa santa religião.
A incalculável importância desse fato tão auspicioso, me faz vir à imprensa concitar-vos, reclamando vossas judiciosas atenções para a oportunidade de semelhante publicação, que efetivamente vem ocorrer a uma das mais palpitantes necessidades de nossa época.
Tem sido, na verdade, um dos freqüentes assuntos das palestras familiares, entre nós, o lamentar-se quão desprotegidos se acham os saudáveis princípios católicos que nossos pais, felizmente, nos legaram, pela carência de imprensa religiosa, não havendo absolutamente em todo este Estado um jornal, sequer, órgão do verdadeiro Cristianismo!
O ‘Oito de Setembro’, pois, está às vossas portas; estendei-lhe mãos protetoras; ele mui legitimamente vos pertence; sua causa é a de todos os filhos da Santa Igreja. É indispensável, porém, que se estabeleçam mútuas relações: o ‘Oito de Setembro’ labora em vosso proveito, vós deveis também trabalhar pelo seu incremento, concorrendo para sua manutenção.
Ei-lo sem recursos, não podendo prescindir dos auxílios dos católicos em geral, sem distinção de classes, sem prevenções de idéias políticas, por ter sido o seu aparecimento simplesmente o penoso fruto de ingentes esforços de poucos natalenses, cordialmente devotados a pugnar pelo florescimento do reino de N. S. Jesus Cristo, a quem, súplices, elevando seus corações, se sentem fortalecidos. Adveniat regnum tuum.
Avante, pois, amigos: prossegui com ânimo decidido no desempenho de vossa árdua tarefa: nunca faltarão recursos para fazer triunfar a causa de Deus!
Sim, católicos; mas é natural que todos comungando as mesmas idéias e convictos da justiça e oportunidade deste tentâmen, venham a fazer fraternal junção com os denodados cidadãos que estão à frente do ‘Oito de Setembro’: é o que se deve certamente esperar de vossas zelosas convicções; e sendo de equidade que todos se considerem colaboradores natos, contribuam para a empresa, não somente com seus escritos, mas também com a espontânea oferta do que puderem destinar para custeio de seu órgão.
Assim unidos, seremos fortes: já, porque a união é naturalmente eficaz elemento da força; já, porque os laços fraternais, verdadeiros centros de mútuo conforto, por isso mesmo tendem a produzir valor; e já, finalmente, porque Deus, cujo nome nos reúne, fará infalivelmente sensíveis os efeitos da sentença evangélica: Ubi enim sunt duo vel tres congrega ti in nomine meo, ibi sum in media eorum (Math. XVIII, v. 20).
Enfim, eis uma feliz coincidência, que não convém passar despercebida: o dia de hoje, que exalçamos o glorioso pendão da imprensa católica, entre nós, é o mesmo em que a sociedade cristã faz chegar aos céus festivais hinos, cordiais louvores, comemorando o aniversário natalício da Grande Senhora, a Excelsa Rainha dos Anjos, que não se dedigna de ser invocada como Mãe de Misericórdia e zelosa Protetora dos frágeis humanos; esta auspiciosa coincidência, pois, batizando nosso jornal com uma data que faz lembrar ao universo o aparecimento daquela brilhante estrela, porta-luz do mundo, fez sugerir a santa idéia de consagrá-lo à celeste Maria, como presente (ainda que indigno) que lhe ofertamos no glorioso aniversário de sua natividade.
Ora, esta consagração que se traduz mui naturalmente por uma fervorosa súplica que endereçamos a tão Poderosa quão Bondosa Mãe, a favor de nossa empresa, é, de certo, de suma eficácia para produzir em peitos católicos os sentimentos de verdadeira intrepidez e da mais sólida confiança.
Sim, pois aquela que foi escolhida pela Sabedoria do Eterno para dar aos homens o Rei Imortal, não terá toda competência para alcançar do mesmo Soberano as armas defensivas, as munições necessárias aos que militam sob seu invicto lábaro?
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Em suma, ânimo!... zelo pela glória de Deus! União fraternal!... E descerão para nós as bênçãos do Bom Pai do Céu, que não somente removerão todas as dificuldades, mas também adoçarão nossos acres labores, coroando-os dos mais preciosos e abundantes frutos.
Transcrito do jornal ‘Oito de Setembro’, ano I, nº 1, Natal-RN, edição de 8 de setembro de 1897.
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