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sábado, 11 de dezembro de 2010

DOM FERNANDO GOMES DOS SANTOS

 ANTOLOGIA POÉTICA

Dom Fernando Gomes dos Santos

O DRAMA DA VIDA

Peregrinos na terra
a gente vai vendo
o drama que encerra
a vida vivida.
- Sonhando ou sofrendo,
lutando ou dormindo
a gente vai indo vivendo na vida.
- Para onde, para quê?
Uns sabem outros não sabem.
- Gemendo ou cantando,
sorrindo ou chorando,
com dor ou sem dor,
com fome ou sem fome,
no calor ou no frio,
a gente vai indo
dentro da vida.
- Quando a vida começa não mais...
o jeito é viver,
querendo ou sem querer.
Pois a vida não volta mais nunca ao não-ser.
- Quem não conduz a vida
é levado por ela.
- Para onde, para quê?
- Os que sabem responder
dão sentido à vida,
a plenificam do ser e do ter.
- Os que não sabem
se distraem na estrada
para não ver a vida...
e deixam a vida correr.
- Pobre de quem não vê a vida
e deixa a vida passar...
- Desse jeito, a gente nem sente,
e a vida se vinga
acabando com a vida da gente...
- Mas, mesmo assim,
vivendo sem vida
a gente, na vida,
- Vai indo, vai indo...
Setembro de 1972.

LIBERTAI-ME, SENHOR!

É triste, muito triste, a minha vida,
Sinto que estou perdendo as esperanças.
Não tenho forças nem amor à lida,
Apenas vivo de velhas lembranças.

Atravesso uma fase indefinida,
Bem distante dos dias de bonanças.
Sozinho estou, com alma ressentida,
Um marginal das bem-aventuranças.

Terá sentido a vida neste exílio
Somando, sem poder, tanto martírio?
- Vinde. Senhor Jesus, em meu auxílio.

Fazei-me ouvir mais claro a vossa voz.
- Libertai-me de vez deste delírio
De dor, de tanto sofrimento atroz!

Dia 12/07/1970.

DESENCONTRO

Meu olhar está cansado
De tanto olhar para lá...
O meu amigo esperado
Não chegou. Quando virá?

Vive então sempre ocupado?
Ou, quem sabe, ele estará
Querendo ser convidado,
Mas o convite... onde está?

Está na mútua amizade
Pelo amor se aprofundando,
Sem qualquer formalidade.

- Não pode ser mais assim,
Um do outro se afastando
Num desencontro sem fim.

Dezembro - 1973.

SAUDADE



A saudade, a bem dizer,
É quando agente não tem
Um jeito de a gente ver
A quem tanto nos quer bem.

A saudade é ter vivido
O tempo que já passou
Bem unida a seu marido
Até que a morte o levou...

Saudade é falta de tudo
Que na vida se viveu.
É como convívio mudo
Com tudo que aconteceu:

Aquele beijo gostoso,
Um olhar afetuoso,
Um exemplo de bondade...
Lembrança que a gente tinha

Até mesmo da briguinha
Que não era de verdade
Porque logo, de mansinho,
Se transformava em carinho...

Ter saudade é relembrar
As horas de felicidade...
Mas é também recordar
Aquela angústia passada
Que já desapareceu
Por ter sido acompanhada
Do bem que a vida nos deu.

A saudade sempre aumenta,
Sempre, sempre, todo dia,
Pois de tudo se alimenta
Quer de dor, que de alegria...
Goiânia, novembro ­-1973.

PAZ INTERIOR

O mundo é triste quando se está triste,
alegre, quando a gente está feliz.
O problema, portanto, só existe
dentro, ‘no coração’, como se diz.

Afortunado aquele que resiste
a tentação de ser um infeliz,
pois a tranqüilidade inda consiste
na vitória de quem não se maldiz.

Venturoso quem guarda na lembrança
os encontros felizes do caminho,
que alimentam a chama da esperança.

Esperar é ungir com muito amor
a ferida agudíssima do espinho
que nos perturba a paz interior.

Goiânia, 4 de abril de 1968.

NÃO PECAR CONTRA A LUZ

Estou cansado de esperar
A Reforma que não vem...
- É que ela está vindo
Sem se anunciar
Parece até que nem anda
o que está caminhando...
- Reformar é discernir
o que é mutável
do que não pode mudar.
- O dia que vai surgir,
a noite que vai chegar
quem poderá impedir?
- Reformar é libertar-se e libertar
da miséria, da fome, da opressão
mas sobretudo do egoísmo que leva
a pessoa a se aniquilar
E assumir com decisão
o que à Vida conduz.
É deixar a noite ser noite,
sem temer a escuridão.
É deixar o dia ser dia,
sem pecar contra a luz!

Setembro - 1972.

EU QUIS FICAR DE FORA


Vivemos nos ajudando
Anos mais anos seguidos.
Uma só pessoa formando
Por todos éramos tidos.

Pensando do mesmo jeito,
As mesmas coisas querendo,
Julgamos sempre bem feito
O que estávamos fazendo.

Mas eles foram mudando
E julgaram-se importantes.
Não viram estar cavando
Entre nós fossos gritantes.

Um abismo bem profundo,
Desde a simples aparência
À nossa visão do mundo,
Perturbou a convivência...

Sozinho, quase isolado,
Sem ódio dos que me firam,
Tenho sofrido calado
As calúnias que me atiram.

Diz-se que ao incomodado
É que compete ir-se embora.
Perplexo, desencantado,
Desejei ficar de fora...

Depois de tanto pensar
Supliquei ao meu Senhor
Isso tudo superar
Humilde, com muito amor.

A todos os que me ferem
Lhes darei mais amizade,
Querendo os que não me querem,
Como manda a Caridade.
Que seja sempre bendita
Esta minha decisão:
Enquanto Deus me permita
Irei cumprindo a missão...

Dezembro - 1973.

A HISTÓRIA DA CASINHA

Da Casa Grande bem perto
Era uma vez a casinha,
bem pequenina por certo.

Vestida de branco,
parecia o sorriso franco
do arvoredo rendado.

Nela morava o chacareiro
com sua mulher e seus filhos.
Era também carroceiro
a conduzir arroz e milho
para vendê-los
na cidade vizinha.

Aquela casinha,
no alpendre.
tinha um banquinho
para acolher os amigos.
Na frente um jardim,
cheirando a jasmim.
Então fundou-se a Escola
para mostrar
à juventude rural
os caminhos do amor,
do trabalho, do bem.

Vieram os diretores,
os professores,
as religiosas também,
alegres, ativas,
servidoras de Cristo
no cultivo da Vinha.
Cedendo a casa às Irmãs
o chacareiro se foi,
conformado, saudoso,
mas contente ao saber
que cedia seu lugar
para que os filhos dos outros
se pudessem educar...

Para melhor servir
à causa do ensino,
mudou-se o destino
daquela casinha.

Ela também cresceu,
para abrigar
maior número de freiras.

Pressurosas, ligeiras,
derrubaram paredes
construíram mais celas.

Pois não é que também elas
tiveram que ir embora,
depois da casa ampliada!

Hoje a casinha pequena
é grande, bonita, arrumada.
Mas ao vê-Ia se tem pena...
Agora é casa fechada,
sem nada, sem ninguém.

Dezembro - 1973.

LIÇÃO DA FLOR

A seus espinhos perguntou a flor
Porque estavam ali, em redor dela.
- Responderam que estavam por amor,
Só para vê-Ia e pra ficar com ela.

A delicada flor, mimosa e bela,
Deixou que se exalasse o seu odor.
- Num gesto carinhoso, muito dela,
A todos aqueceu seu calor.

Os espinhos parecem agressivos.
Para quem viu, porém, aquela cena,
Bem ao contrário, são contemplativos...

Aquela flor ensina a muita gente
Tomar melhor a vida e mais amena,
Seus espinhos beijando, complacente!

Junho - 1975.

LIBERTAÇÃO

Quem desconhece as fontes da bondade
E as riquezas do humano coração
Não percebe a grandeza da amizade
E, por vezes, ofende o próprio irmão...

No mundo existe, assim, certa malda­de:
Agentes que se dizem ‘de exceção’,
Usando as armas da arbitrariedade,
Implantam o regime da opressão!

Mas Deus libertador falou assim:
“A Esperança jamais enganará,
bem depressa o perverso terá fim”.

Vamos unidos - vem ó meu irmão!
Fazer o mundo novo que trará
Justiça-Paz, Amor-Libertação!

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