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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

PADRE ANTÔNIO TOMAZ

ANTOLOGIA POÉTICA


PADRE ANTÔNIO TOMAZ


INVICTUS
Mensageiros do Arcanjo revoltoso,
Homens descridos - vão em fero bando
Há dezenove séculos tentando
Roubar-te, ó Cristo, o cetro glorioso.

Mas sempre forte e sempre poderoso,
Tu vais a todos eles suplantando,
E com o teu suave jugo, doce e brando,
Curva-se o mundo humilde e respeitoso.

Tens apesar da guerra a ti movida
Por essas almas fracas e pequenas,
A terra toda ao teu poder jungida.

E ainda hoje a um teu gesto apenas
Voltam de novo os Lázaros à vida
E vão beijar-te os pés as Madalenas.


CONTRASTE
Quando partimos no verdor dos anos,
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.

Rindo e cantando, célebres, ufanos,
Vamos marchando descuidosamente;
Eis que chega a velhice, de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.

Então, nós enxergamos claramente
Como a existência é rápida e falaz,
E vemos que sucede, exatamente,

O contrário dos tempos de rapaz:
Os desenganos vão conosco à frente,
E as esperanças vão ficando atrás.


A MORTE DO JANGADEIRO

Ao sopro do terral abrindo a vela,
Na esteira azul das águas arrastada,
Segue veloz a intrépida jangada
Entre os uivos do mar que se encapela.

Prudente, o jangadeiro se acautela
Contra os mil acidentes da jornada;
Fazem-lhe, entanto, guerra encarniçada
O vento, a chuva, os raios, a procela.

Súbito, um raio o prostra e, furioso,
Da jangada o despeja na água escura;
E, em brancos véus de espuma, o desditoso.

Envolve e traga a onda intumescida,
Dando-lhe, assim, mortalha e sepultura
O mesmo mar que o pão lhe dera em vida.


DEUS HOMO

Amo-Te, oh Cristo, dessa cruz pendente,
Varado o coração de acerbas dores,
Do teu suplício os bárbaros rigores
Sofrendo humilde e resignadamente.

Porque assim te revelas claramente
Deus dos filhos de Eva sofredores,
Apto ouvir os brados e os clamores
Da miseranda e triste humana gente.

Folgo em saber, nas horas de amargura,
Que um Deus de natureza igual à minha
Sofresse a mesma dor que me tortura.

Não quadra um Deus feliz ao desgraçado;
Por isso mesmo aos homens não convinha
Senão somente um Deus crucificado.


ÁRVORE SOLITÁRIA

“Há cem anos ou mais, surgindo da abertura
De um penhasco, nasceu franzino arbusto, e agora,
Gigante vegetal, às nuvens se alcandora,
Banhando à luz do sol a coma verde-escura.

Nenhuma clara fonte em seu redor murmura,
Nem a abelha, zumbindo, a agreste flor lhe explora,
Nem lhe soam na fronde, ao clarear da aurora,
Da passarada alegre os cantos de doçura.

Qual mísero galé ao solo acorrentado,
Exposto fatalmente aos golpes do machado,
Às injúrias do tempo e à sanha das procelas,

Pranteia o velho angico a sua ingrata sina,
Do âmago vertendo o choro da resina,
Por sobre o tronco rude, em bagas amarelas”.


O PALHAÇO

Ontem, viu-se-lhe em casa a esposa morta
E a filhinha mais nova, tão doente!
Hoje, o empresário vai bater-lhe à porta,
Que a platéia o reclama, impaciente.

Ao palco, em breve surge... pouco importa
O seu pesar àquela estranha gente...
E ao som das ovações que os ares corta,
Trejeita, canta e ri, nervosamente.

Aos aplausos da turba, ele trabalha
Para encontrar no manto em que se embuça
A cruciante angústia que o retalha.

No entanto, a dor cruel mais se lhe aguça
E enquanto o lábio trêmulo gargalha,
Dentro do peito o coração soluça.


A MERETRIZ

Essa mulher de face encaveirada
Que vês tremendo em ânsias de fadiga
Estendendo a quem passa a mão mirrada
Foi meretriz, antes de ser mendiga.

Em breve fugiu-lhe a sorte airada
A mocidade, a doce quadra amiga
E ela se viu pobre e desgraçada
Antes de tempo, a tanto o vício obriga.

Ontem, do gozo e da volúpia ardente
Fosse a quem fosse dava a qualquer hora
O seio branco e o lábio sorridente

Hoje, triste sina, embalde chora
Pedindo esmola àquela mesma gente
Que de seus beijos se fartara outrora.


DESENGANOS
Muitas vezes sonhei nos tempos idos
Acalentando sonhos de ventura,
Então a voz da lira suave e pura
Era-me um gozo d'alma e dos sentidos.

Hoje, vejo meus sonhos convertidos
Num acervo de dores e de amargura
E percorro da vida a estrada escura
Recalcando no peito os meus gemidos

E se tento cantar como remédio
Minhas mágoas ao sombrio tédio
Que lentamente as forças me quebranta

Os sons que ira que arranco agora
Mais parecem soluços de quem chora
Do que a doce toada de quem canta.

 
NOITE DE NÚPCIAS

Noite de gozo, noite de delícias,
Aquela em que a noiva carinhosa,
Vai do seu noivo receber carícias
No leito sobre a colcha cor de rosa.

Sonha acordada coisa fictícias,
Volvendo-se sobre o leito voluptuosa,
E o anjo de amor e de carícias
Fecha a cortina tênue e vaporosa.

Ouvem-se beijos tímidos, ardentes,
Por baixo da cortina assim velada,
Em suspiros tristes e dolentes.

Se fitássemos a noiva agora exangue,
Vê-la-íamos bem triste e descorda
E o leito nupcial banhado em sangue.

 
A MORTE DO JANGADEIRO

Ao sopro do terral abrindo a vela,
Na esteira azul das águas arrastada,
Segue veloz a intrépida jangada
Entre os uivos do mar que se encapela.

Prudente, o jangadeiro se acautela
Contra os mil acidentes da jornada;
Fazem-lhe, entanto, guerra encarniçada
O vento, a chuva, os raios, a procela.

Súbito, um raio o prostra e, furioso,
Da jangada o despeja na água escura;
E, em brancos véus de espuma, o desditoso.

Envolve e traga a onda intumescida,
Dando-lhe, assim, mortalha e sepultura
O mesmo mar que o pão lhe dera em vida.


ÁRVORE SOLITÁRIA

Há cem anos ou mais, surgindo da abertura
De um penhasco, nasceu franzino arbusto, e agora,
Gigante vegetal, às nuvens se alcandora,
Banhando à luz do sol a coma verde-escura.

Nenhuma clara fonte em seu redor murmura,
Nem a abelha, zumbindo, a agreste flor lhe explora,
Nem lhe soam na fronde, ao clarear da aurora,
Da passarada alegre os cantos de doçura.

Qual mísero galé ao solo acorrentado,
Exposto fatalmente aos golpes do machado,
Às injúrias do tempo e à sanha das procelas,

Pranteia o velho angico a sua ingrata sina,
Do âmago vertendo o choro da resina,
Por sobre o tronco rude, em bagas amarelas.


Um comentário:

  1. São notáveis e majestosas as palavras poéticas do Padre Poeta Antônio Tomaz!

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