ÁLVARO BARBALHO UCHOA CAVALCANTI
O
sopro gélido o implacavel da morte arrebatou a nossa sociedade mais uma
preciosa existência.
Falleceu,
hontem às 5 ½ horas da manhã, o ministro do Supremo Tribunal de Justiça
honorário Álvaro Barbalho Uchôa Cavalcante, em sua residência em Parnamerim,
victima de lesão cardíaca.
Cidadão
dos mais distinctos deste Estado e membro de uma das mais importantes famílias
pernambucanas, conquistou o illustre finado desde a sua mocidade pelo seu merecimento
a consideração e a estima publica.
Dedicado
aos interesses da sociedade e da pátria salientou se em toda a sua vida pelo
seu esforço em benefício do progresso e adiantamento nacional.
Espirito
salutar e propenso as boas causa, robusteado por uma intelligencia extensamente
illustrada, caracterisava-se por certa altivez indomável que o impedia de
sujeitar-se passivamente ao principio de ordem e disciplina partidária.
Dotado
de bons sentimentos, de um caracter correcto, franco e expansivo, de um natural
insinuante e attrahente que o tornava assaz sympathisado, querido mesmo por
aquelles de quem se approximava e consigo travavam conhecimento.
Modesto,
despretencioso, mesmo collorado nas mais elevadas posições, era accessível a
todos que o procuravam e propenso a esforçar-se pelo bem estar de quantos recorriam
ao seu prestigio.
Esse
predicados attrahiram-lhe geral apreço dos seus conterrâneos, recebendo
manifestações elegantes desde o inicio de sua vida publica.
Formado
em 1838, na Academia de Olinda com pouco mais de 20 annos, pois seus nascimento
foi a 30 de Novembro de 1818, nesta província, tendo como estudante grangeado
um nome respeitável entre os seus mestres e collegas, dedicou-se a carreira de
magistratura para a qual mostrava decidida vocação, sendo nomeado a 26 de
Setembro de 1839 prefeito da comarca do Rio Formoso e juiz de direito da mesma
comarca a 7 de Dezembro de 1840.
Dahi
foi removido para a de Flores a 19 de abril de 1844 e depois para a de Limoeiro
em 18 de Agosto de 1847.
O
seu procedimento como juiz e cidadão foi de tal modo digno e tanto se impoz ao
respeito e apreço da população dessa comarca e da então provincia, que filiado
ao partido conservador, o Dr. Alvaro Uchôa gosava já naquelle tempo de
prestigio político e de uma certa preponderância nos conselhos de seu partido,
tendo sido honrado com a eleição de deputado provincial e geral.
Da
comarca de Limoeiro foi removido para a vara dos Feitos da Fazenda desta capital
e promovido a dezembargador do Tribunal da Relação respectiva em 29 de Outubro
de 1861.
Honesto,
imparcial e justo, não deixou contaminar pela influencia partidária o seu
caracter de magistrado e deixou a mais honrosa tradicção no diversos cargos de
judicatura, posições honrosas na sua vida irreprehensivel de juiz.
Político,
teve no seu longo tirocínio as mais explendidas demonstrações da confiança do
seu partido e dos seus concidadões, expressada em innumeras eleicções em que o
seu nome foi sempre victoriosamente sufrragado.
Como
deputado a Assembléa Legislativa fez parte da 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e 9ª legislaturas
de 1840 a 1847, de 1852 a 1853 e sendo lhe confiado o mandato de representante da
provincia na Camara temporária nas legislaturas
5ª, 8ª, 11ª e 14ª, de 1843 a 1844, de 1850 a 1852, de 1862 a 1863, de 1869
a 1872.
Por
carta Imperial de 4 de abril de 1872 foi escolhido senador do império e logo
depois aposentado do cargo de dezembargador com as honras de ministro do Supremo
Tribunal de Justiça.
Membro
do instituto Histórico o Geographico do Rio de Janeiro e de diversas outras
sociedades litterarias e scientificas, era cavalheiro da ordem de Christo e Official
da da Rosa.
Casou-se
a 27 de Outubro de 1838 com Exma. Sra. D. Anna Rita Mauricio Wanderley, fallecida
em 1883.
Deste
consórcio teve 18 filhos, dos quaes existem somente 11.
Pae
do familia exemplar, teve a felicidade de educar sua prole nos principios os
mais sãos.
Parlamentar,
não era dos mais assíduos na tribuna, porem quando fallava os seus discursos
primavam pela firmeza do critério, elevação das ideas e profundeza com que
discutia os mais importantes assumptos.
Foi
uma perda muito sensível para o paiz e que lamentamos sinceramente.
Publicado,
inicialmente, n’A Província’, e
posteriormente transcrito pelo jornal ‘A
Epocha’, Anno I, num. 99, Recife, edição de sabbado, 21 de dezembro de
1889, pág. 2.
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