MANOEL TEOTÔNIO FREIRE JÚNIOR
Poeta, escritor e
jornalista norteriograndense, nascido no Acari,
fundador da
Academia de Letras de Pernambucano.
Theotonio Freire falleceu hontem ás 13 ½ horas.
Uma surpresa dolorosa foi a funebre noticia que
se lê acima. Todo o Recife intellectual teve o seu momento de pasmo angustioso,
porque com Theotonio foi-se um dos nossos mais avantajosos vultos, um talento
que não foi feito à custa dos annuncios.
Elle era para os que leem como um desses homens
extraordinarios de quem nos approximamos com veneração. Tinha entre nós
qualidades raras: era um caracter bem formado e um forte na accepção mais lata
do termo.
Anniquilado por uma fatalidade physica, afastado
do ruido e das mesquinharias, elle contudo não ficou só. Iam procura-lo as
peassas de destaque. Sua casa foi por mutias vezes um ponto de reunião
superior, vendo se lá os que comprehendiam o seu grande espirito e a claresa de
sua illustração.
Como homem de lettras sua obra é digna. Manejava
sua penna no verso com a mesma facilidade com que rendilhava um conto e
estendeu-se com sucesso, até ao romance. Jornalista de valor, sua iromia
torturou durante certo tempo os homemns influentes, porque Thjeotônio, como de
Euclydes da Cunha disse Alberto Rangel, não incesava o poder.
No emtanto era benevolo, principalmente com os
iniciados nas lettras. Mas, ultimamente, justamente revoltado com o cabetinismo
que prolifera entre nós, escreveu uma chronica, uma sublime chronica, que é
carapuça bem ajustada na cabeça de certas pequena intelligencias.
Às vezes, na sua obra, elle phantasia,
divagava... O realista tinha seus tons de romantico no temperamento e esse
romantismo chocado com a realidade também o tornou um pouco sceptico...
Patriota sem reclames, elle via angustiado o
triste destino que parece reservado ao Brasil. O sonhador desejava uma patria
inteiriça, propspera, digna. Mas infelizmente o destino não lhe reservou essa
ventura.
Mas, o ponto em que elle se mostrava maior era
no cuidado de sua familia. Chefe de familia numerosa, pobre, educou bem os seus
filhos, justamente acreditados pela nossa sociedade.
Não é no estreito espaço reservado a um
necrologio que nunca quizermos traçar, em nota escripta emquanto a penna
commovida escorre pelo papel, que se dirá sobre a personalidade superior de
Thetonio Freire.
Por isso, ‘A Provincia’, referente, dobra-se
ante o tumulo do mestre e condolencia com sinceridade sua distincta familia.
Theotonio Freire nasceu a 6 de outubro de 1865.
Diplomado pela Escola pela Escola
Normal, não dedicou, porem, os seus esforços ao magisterio publico.
Casado com a exma. sra. D. Praxedes de Lacerda
Freire, deixa de um consorcio venturoso os seguintes filhos: Theotonio Filho,
jornalista notavel e homem de lettras; Mario Theotonio e Cesar Theotonio,
auxiliares da Standard Oil Company, as senhorias Laura e Esther Freire, esta
noiva do sr. Carlos Maia; Maria Helena e Helana Maria e d. Noemi Lacerda,
esposa do sr. Jorge Lacerda.
Deixou publicadas as seguintes obras:
‘Republica’, poemeto; ‘Patria Nova’, em collaboração com França Pereira;
Ritonellos Lyricos, versos; ‘Passionario e Regina’, romances; ‘Flammulas’,
contos; De Relance, estudos críticos; ‘Bronze de Coryntho’, poemeto, além de trabalhos
esparsos pelos jornaes e em revistas.
Ultimamente collaborava no ‘Jornal do Recife’.
O enterramento do notavel extincto terá logar
hoje, às 14 horas, saindo o feretro de sua residência à rua do Riachuelo 39,
onde se verifiou o obito”.
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Publicado
no Jornal ‘A Provincia’, Anno XL, n.
82, Recife, edição de domingo, 25 de março de 1917, pág. 2.
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