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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

Tobias do Rego Monteiro

TOBIAS DO REGO MONTEIRO, nasceu em Natal-RN, aos 29 de julho de 1866 e faleceu no Rio de Janeiro, em 4 de agosto de 1952. Inteligência rara, foi um atento historiador da evolução política do Brasil. Jornalista de renome, em 1898, acompanhou o presidente eleito Campos Sales, em sua viagem à Europa. As impressões colhidas nesta viagem foram publicadas nas páginas do Jornal do Comércio’ e posteriormente, em 1928, enfeixadas em livro. O texto transcrito a seguir, é parte do livro ‘Pesquisa e depoimento para a História’, publicado em 1913.


QUINZE DE NOVEMBRO


Tobias do Rego Monteiro

V
enha já. Dizia simplesmente assim um telegrama de São Paulo, com a assinatura de Campos Sales e recebido em Campinas pelo Sr. Francisco Glicério, poucos dias antes da Proclamação da República (1).
O telegrama ia encontrar o destinatário no seu escritório de advogado, uma hora mais ou menos antes da partida do trem. Num momento ele entreviu que alguma coisa grave teria ocorrido em política.
Os republicanos paulistas andavam alvoroçados e já chegavam a São Paulo informações de Aristides Lobo acerca do rumo que as coisas iam levando no Rio.
Sem tempo para chegar a casa, que era afastada da cidade, o Sr. Glicério pediu pelo telefone roupa para oito dias e anunciou à esposa uma viagem de interesse profissional, talvez a Barra Mansa, querendo justificar com esta hipótese a marcha em direção ao Rio. O trem partia para São Paulo.
Poucas horas de distância separam as duas cidades. Por maiores que fossem os seus sonhos e ambições, aquele homem, perdido em conjecturas, não poderia prever, apesar da sua audácia, o papel decisivo que os acontecimentos lhe reservavam num futuro tão próximo.
No estreito círculo do seu partido já o consideravam chefe. Outros teriam maior nome, maior cultura, mais eloqüência, mais recursos para A garantir-lhes a independência; nenhum, porém, o excedia em atividade, em tato, em aptidão para organizar o partido. Da mais modesta situação pessoal, ‘rábula da roça’, como o chamavam para deprimi-lo, elevara-se até ser considerado a maior influência eleitoral do seu distrito e chegara à Assembléia Provincial numa patrulha de correligionários. Quando a propaganda aumentou e as esperanças pareceram mais vivazes, pensou em distender o olhar, ver alguma coisa além do campanário e verificar por si se as forças que poderiam existir mais longe, no ponto em que a resistência poderia ser decisiva, eram ou não animadoras para o bom êxito da república, cuja proclamação constituiu o sonho de tantos visionários.
Foi então ao Rio da Prata e viu todo o Sul, principalmente o Rio Grande.
A irritação militar tinha chegado ao extremo durante o Ministério Ouro Preto e os homens de ação do partido não hesitavam em aumentá-la, aprofundando por todos os meios as dissensões entre o governo e os oficiais, certo de que só daí a república poderia surgir depressa e segura. O Sr. Glicério era desses; formara entre os ‘homens práticos’, que aceitavam todas as soluções para o triunfo. Mas quando o trem se afastava daquelas terras onduladas, cobertas de cafezais, deixando para longe a casa, o escritório do rábula, a intriga eleitoral, o jornalzinho de propaganda, mal imaginava ele que o triunfo estava tão perto, que um novo campo de ação se ia abrir ao seu talento e à sua audácia e que em poucos anos chegaria a dispor sozinho do mando supremo, enfeixando nas mãos, embora nas dobras de uma criação artificial, todas as forças políticas da república, o Governo, o Congresso, os governadores de estado, que um dia o deveriam abandonar de chofre, deixando-o imerso na mais profunda desilusão, mas certamente esclarecido quanto ao valor das influências falazes do novo regime, que tantas vezes cegam os homens.
Quinze anos depois1, com a cabeça toda branca, do novo teatro onde os acontecimentos o trouxeram, os seus olhos podem voltar para esse passado vizinho, com a tranqüilidade de uma testemunha, e outra vez afundar até essa tarde de incertezas e pressentimentos, em que o trem vinha de Campinas, deixando as terras onduladas e os cafezais já despojados de fruto.
Realmente o senador de hoje, conservador, defensor da Constituição e da ordem pública, contou-nos as peripécias em que se envolveu desde a tarde em que chegou a São Paulo. Aí o aguardavam Campos Sales e o Sr. Bernardino de Campos, que o puseram ao corrente das notícias mandadas por Aristides Lobo. A noite passou-se na confecção de um código de letras para as comunicações que se iam estabelecer e em combinações acerca do que seria preciso fazer em São Paulo, se houvesse no Rio o movimento esperado.
Campos Sales tinha na maior conta o valor de Américo Brasiliense, a quem considerava uma espécie de pontífice entre os republicanos paulistas. Foi idéia sua que devia ser ele o governador do estado, e assim ficou combinado, bem como que seria substituído por Prudente de Morais se falhasse, como falhou, a sua aquiescência. Quando Campos Sales lhe foi falar, Américo Brasiliense achou que era loucura o que se estava tramando (2).
No dia seguinte, cedo, o Sr. Glicério deixava São Paulo e à noite estava no Rio, onde Joaquim Pernambuco o aguardava na estação da estrada de ferro. Evitando maior conversa, Pernambuco indicou-lhe a meia-voz um carro de praça e deu-lhe o endereço de Aristides Lobo, na Rua Senador Vergueiro, esquina da Travessa Cruz Lima, onde era esperado.
Aristides comunicou-lhe o trabalho feito e avisou-o de que a 10 ou 11, de noite, devia ir com ele a uma conferência decisiva com o Marechal Deodoro, em casa deste, no Campo de Santana. À hora marcada chegou o Sr. Glicério. Lá estavam Quintino Bocaiúva, Aristides Lobo, Benjamim Constant, Sólon, Cantuária e o Sr. Rui Barbosa.
Iniciou-se a conversa. Benjamim Constant fora autorizado a 9, no Clube Militar, pelos camaradas com quem contava, a decidir qual a solução que os acontecimentos deveriam ter. Deodoro hesitava e havia muito tempo que o conciliábulo prosseguia sem que ele proferisse a palavra definitiva, se encabeçaria ou não o movimento para proclamar a República. Na sua opinião a questão era simplesmente militar e bastava ao Exército derrubar o Ministério.
Devia haver uma grande fé no valor daquele homem, considerado assim o árbitro da situação, para ser disputada com tal insistência, naquele momento, a cooperação da sua espada. Parecia que só ele poderia conduzir à vitória; que ele era antes uma bandeira, um sinal de triunfo, que um homem para ir combater. Atirado num sofá, envolto num ‘chambre’, sem poder vestir-se, o peito arfava nas ânsias de uma dispnéia horrível, que às vezes o privava de falar. Aquela vida poderia fugir de repente ou, pelo menos, aquele braço tremer por instantes, incapaz de comandar; dir-se-ia, porém, que enquanto luzisse aquele olhar e aquele perfil dominador passasse ante os soldados, correria nas fileiras o frêmito de uma sedução irresistível e ninguém deixaria de segui-lo.
Mais que outrem, Benjamim Constant assim pensava. Por maior que fosse a sua confiança nos elementos agremiados, sentia que o golpe era incerto; era preciso uma grande audácia e sobretudo um grande prestígio diante da tropa para arcar contra sessenta e sete anos de tradições monárquicas e quase cinqüenta anos de Reinado. Por maior que fosse entre os oficiais a irritação contra o Ministério, por menos fortes que parecessem as probabilidades da sucessão dinástica, conferida a uma Princesa, contudo ele calculava quanto custaria decidir todo o Exército e toda a Marinha a se entregarem inteiramente ao comando de um chefe revoltado. Se fosse impossível evitar a luta, hipótese que entrava muito nos cálculos, a capacidade e a influência do comandante subiriam de ponto. Benjamim Constant tinha muito bom senso, estava acostumado a raciocinar e era fundamentalmente calmo. Por maior que fosse no momento a sua exaltação revolucionária, ele não se podia enganar quanto ao conhecimento dos homens e avaliava na medida justa o valor decisivo dos predicados que só em Deodoro julgava encontrar; bem sabia que não bastava agitar, reunir em torno do seu nome devoções e esperanças, encarar princípios, representar idéias. Naquele instante era indispensável uma espada numa mão acostumada a comandar e vencer. Benjamim Constant não desesperava. Embora a palavra não lhe fosse habitualmente viva, teve de repente um verdadeiro rasgo de eloqüência, exortando Deodoro e concitando-o a proclamar a República. Quando ele se calou, disse o Marechal pausadamente: “Eu queria acompanhar o caixão do Imperador, que está velho e a quem respeito muito”. Depois acrescentou, passando e repassando o dorso de uma mão contra a palma da outra: “Ele assim o quer, façamos a República. Benjamim e eu cuidaremos da ação militar; o Sr. Quintino e os seus amigos organizem o resto”.
Todos entreviram um sinal de vitória e já então se começou a falar de governo novo, como se ela fosse certa. Deodoro interveio para declarar: “Eu quero ser Ministro da Guerra, seja Benjamim o chefe do governo”.
Este foi o primeiro a protestar e com ele todos os companheiros; a ninguém, se não ao marechal, cabia aquele posto. Deodoro insistia: “Não; seja então o Senhor Quintino”. Nova recusa, igualmente formal. Por fim era tão grande a insistência e tão calorosa a unanimidade, que Deodoro aceitou o papel que lhe destinavam.
É curioso que só então tenha surgido a preocupação de uma dificuldade séria, de um perigo talvez. Benjamim Constant mostrou-se apreensivo quanto à posição de Floriano Peixoto, que, por seu cargo e influência como militar, poderia constituir grave resistência. ‘Não há dificuldade’, atalhou Deodoro; nas questões militares, sempre que abordei Floriano, ele declarou-me logo que não se meteria em coisa alguma para derrubar ministérios. Uma vez, porém, pegando com dois dedos no botão da farda, acrescentou: “Seu Manuel, a Monarquia é inimiga disto; se for para derrubá-la estarei pronto”. “Já vêem os senhores”, concluiu Deodoro, “que quem falava assim há de acompanhar-nos”.
Combinou-se então que Benjamim Constant procuraria entender-se com Floriano Peixoto e fazê-lo vir conversar com Deodoro.
Era urgente, porém, tratar de escolher a oportunidade da ação, o dia conveniente ao deferimento do golpe. A 20 devia abrir-se a assembléia-geral no Paço do Senado, onde se tinham de reunir a família imperial, o Ministério e os representantes da nação.
Planejou-se que nesse dia as tropas rebeldes cercariam o Senado, prendendo a família imperial e o Ministério. Era o principal; o resto viria depois.
No dia seguinte, em casa de Aristides Lobo, reuniam-se este, Bocaiúva e o Sr. Glicério para organizar o governo. As pastas ficaram distribuídas como depois aconteceu, menos a da Marinha. Aristides Lobo e Bocaiúva entendiam que o Sr. Glicério devia ser o ministro da Agricultura. Foi diante da sua recusa, baseada em que era indispensável contemplar um rio-grandense, que os seus companheiros o dispensaram.
Ele lembrava o Sr. Demétrio Ribeiro, enquanto os outros indicavam Júlio de Castilhos ou o Sr. Assis Brasil. Predominou o nome do Sr. Demétrio, que o Sr. Glicério conhecera no Rio Grande, apontado primus inter pares sem discrepância de opiniões.
Nesta ocasião lembraram-se todos com grande saudade de Francisco Belisário, cuja preciosa cooperação tinham como certo obter.
Interrogado quanto aos fundamentos desse conceito acerca do finado estadista, referiu-nos o Sr. Glicério que, desde 1888, tinha a segurança desse auxílio. Seu irmão, Jorge de Miranda, já falecido, estava nessa época numa estação de águas, onde encontrara F. Belisário e o bispo de São Paulo, D. Lino, de ambos sendo amigo. D. Lino, que era republicano, preveniu a Jorge de Miranda que Belisário ‘era dos nossos’. Não tardou que se entendessem e Jorge de Miranda ouvisse do senador do Império as mais categóricas declarações. Nada mais o prendia à Coroa a não ser a sua dedicação pessoal a Paulino de Sousa, seu primo e chefe político; esperava, porém, vencer as delicadezas dessa situação e “caminhar para a República” (3).
Nessa reunião em casa de Aristides Lobo tratou-se da situação especial de Silva Jardim, cujas desavenças com Quintino Bocaiúva se tinham tornado públicas. Ficou deliberado que nada lhe seria comunicado, devendo porém o Sr. Glicério avisar o Sr. Sampaio Ferraz, escolhido para futuro chefe de Polícia e íntimo amigo do ardente propagandista.
‘E Silva Jardim?’, inquiriu o Senhor Sampaio Ferraz. O Sr. Glicério informou-o do que tinha sido resolvido; mas tão grande foi a insistência do seu amigo que acabou deixando-lhe a responsabilidade exclusiva de comunicar à união o que acabava de ouvir. O Sr. Sampaio Ferraz, por fim, guardou o segredo e só na manhã de 15 de novembro, pela boca do Dr. Hilário de Gouveia, que era seu vizinho e voltava cedo da cidade, soube Silva Jardim do que se estava passando.
- Mas por que essa reserva com um homem que tanto fizera pela propaganda republicana?
- As divergências de Jardim com Quintino eram muito vivas - respondeu o Sr. Glicério -, e a sua cooperação poderia trazer dificuldades à organização que projetamos; ademais, ele era muito impetuoso e receávamos que o seu próprio ardor fosse inconveniente, num momento em que eram precisos união e espírito conciliador.
Enfim, a 15 de novembro tudo concorreu para o triunfo; mas à tardinha ainda muitos republicanos andavam inquietos, na ausência de um ato positivo que proclamasse a República. De boca em boca passavam confidências, receios de uma desilusão. Dizia-se que depois do fato consumado os chefes do movimento militar tinham encarado a gravidade da situação e hesitavam em arcar com as responsabilidades de uma subversão no regime. A manifestação da Câmara Municipal nada valeria se fosse essa a realidade. Nessas condições o Sr. Glicério, que continuava na Rua do Ouvidor, foi reunindo os que apareciam e todos daí partindo à frente de muita gente dirigiam-se à casa de Deodoro.
Lembra-se o Sr. Glicério que entre os seus amigos iam os Srs. Alberto Torres e J. A. Magalhães Castro. Foi este quem falou em nome dos presentes, diante de Benjamim Constant, que aparecera à janela. Era intuito dos republicanos provocar declarações e a resposta de Benjamim vinha justificar as apreensões que eles nutriam. Este não fez nenhuma afirmação categórica e chegou a declarar que o novo governo consultaria
um tempo a nação para que esta decidisse dos seus destinos (4).
Logo à noite, porém, o Sr. Glicério estava tranqüilo acerca dos resultados da jornada. No Instituto dos Cegos, de que Benjamim era diretor, reuniram-se então os maiorais do dia e começaram a ser expedidos os atos preliminares de organização. Coube-lhe ir com o Sr. Rodolfo de Abreu levar ao Marechal Deodoro os primeiros decretos para assinar. Lembra-se que ao ler o que nomeava o ministro da Agricultura, Deodoro perguntou: ‘Quem é este?’ O Sr. Glicério explicou, exaltando a proeminência do Sr. Demétrio entre os correligionários do Rio Grande. ‘Lá só conheci Castilhos, Assis Brasil e Ramiro; mas vá lá’, concluiu o marechal.
Nesse momento o triunfador do dia continuava arfando, dispnéico. Ainda hoje, referindo a essas peripécias, o Sr. Glicério lembra como uma maravilha a energia desse organismo, minado por uma doença tão funda e reerguendo-se de súbito para uma ação tão prolongada e agitada. Na tarde de 14, bem se recorda, ia com Aristides Lobo pelo Largo de São Francisco, quando viu Benjamim Constant descer de um bonde. Estava desolado; um grande abatimento no semblante revelava a perturbação do seu espírito. “Venho da casa de Deodoro”, disse ele. “Creio que ele não amanhece, e se ele morrer a revolução está gorada. Os senhores são civis, podem salvar-se; nós, militares, arrostaremos as conseqüências das nossas responsabilidades”. Despediram-se contristados, e Aristides Lobo e o Sr. Glicério foram dormir a bom recato.
De manhã, o moribundo da véspera, aos olhos do Sr. Glicério, parecia um redivivo.

FONTE: MONTEIRO, Tobias do Rego. Pesquisa e depoimento para a História. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1913, pág. 199-213.

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NOTAS
1 - Foi em 1904 que ouvimos o Sr. Glicério.
2 - Recebida a carta de Aristides Lobo, sem perda de tempo Campos Sales reuniu os seus correlegionários de maior responsabilidade e pô-los ao corrente de tudo, entendendo que deviam designar desde logo o homem que devesse assumir o governo de São Paulo, uma vez que fosse proclamada a República. No seu entender o escolhido devia ser A. Brasiliense. A proposta foi combatida por considerarem alguns quase inócua a ação do indicado, naquele momento da propaganda. Campos Sales insistiu, mostrando que a moderação de Américo teria a vantagem de tranqüilizar os adversários quanto aos intuitos dos republicanos, interessados em assegurar-lhes todas as garantias. A proposta foi aprovada e o proponente encarregado de comunicar a indicação ao escolhido. Mas Américo nem deu tempo a Campos Sales de bem referir-lhe o que estava ocorrendo; declarou em nada acreditar e não confiar no testemunho de ninguém. Na reunião que se seguiu com os outros republicados, Campos Sales ocultou essas circunstâncias e declarou simplesmente que não era possível contar com aquele correligionário para o posto que lhe tinha sido designado. Propôs, em substituição, Prudente de Morais, que se achava em Piracicaba e foi unanimemente aceito. No dia 15 de novembro, quando chegaram as primeiras notícias do Rio e muita gente enchia as ruas dando vivas, à República, Campos Sales convidou a Prudente para irem juntos à casa de Américo. Foram, mas Américo não lhes apareceu, como não apareceu a ninguém até o dia 17, quando partiu para o Rio Campos Sales, que assim nos narrou essas ocorrências. Isso explica talvez porque, ao contrário de todos os republicanos paulistas em evidência, Américo não representou nenhum papel até a Constituinte, vindo apenas a aparecer como governador de São Paulo, após a demissão do Governo Provisório e por ocasião do golpe de estado de 23 de novembro.
3 - O Ministério Sete de Junho tratou de agradar de modo especial a Francisco Belisário. Disse-nos o Visconde de Ouro Preto que não desconfiava que ele tivesse inclinações republicanas; desconfiaria antes de Paulino de Sousa. Procurara distinguir Belisário, porque era este o conservador que mais temia. Foi assim que logo nos primeiros dias de julho o nomeou conselheiro de estado, cargo que ele aceitou, e em carta de 20 de setembro convidou-o para uma missão especial a Montevidéu com o fim de negociar com a República do Uruguai uma convenção “que pusesse cobro ao grande contrabando na fronteira e obtivesse redução de direitos para vários gêneros da nossa produção, mediante concessões razoáveis”. A nomeação só não se efetuou por que Belisário faleceu quase subitamente no dia 24. Tudo isso parece mostrar que ele já se tinha reconciliado com a Monarquia.
4 - Esse depoimento está de acordo com o do Visconde de Ouro Preto, o qual declara que quando o General Deodoro lhe falou no quartel-general anunciou que ‘ia levar ao Imperador a lista dos novos ministros’. Não há dúvida, porém, que desde algum tempo o espírito de Deodoro se estava inclinando para a República. Em carta que escreveu ao Sr. Lucena, durante o Ministério Cotegipe, dizia ele que recusara a candidatura senatorial pela Corte, que lhe fora proposta por Q. Bocaiúva, porque não queria emprestar o seu nome para lema de combate contra a Monarquia, pois era sustentador do Trono; acrescentava entretanto, já recear que um dia pudesse chegar a todos os extremos, até à República e principalmente até à Abolição, pois o Governo não devia empregar o Exército, como estava fazendo, em caçar escravos fugidos. Outro conspirador, de procedência monárquica, que algum tempo antes de 15 de novembro também já se voltava para a República, era o Sr. Rui Barbosa. Em carta escrita ao Senador Dantas a 2 de maio de 1889, escrevia ele: “Da República disto apenas uma linha. Já disse a V. Exª que só a sua amizade me tem detido”.

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